O relógio na sala de reuniões parecia mais alto do que nunca, cada tique-taque uma marca de tensão crescente. Os acionistas se acomodaram em suas cadeiras, murmurando entre si, trocando olhares desconfortáveis. O ambiente estava pesado, como se o ar estivesse carregado de algo indefinido, mas palpável. Mesmo meu pai, geralmente tão calmo diante de crises, estava visivelmente tenso. Diana se manteve em silêncio ao meu lado, seus olhos fixos no chão enquanto as palavras de Anthony ainda ecoavam em minha mente.
Ele estava encurralado. Não havia mais escapatória. Mas isso não fazia a decisão menos difícil. Cada um dos acionistas que olhava para nós trazia consigo uma história diferente de lealdade, interesses e passados complicados com Anthony. Alguns, como meu pai, estavam convencidos da necessidade de sua exclusão. Outros, no entanto, se viam perdidos entre o medo de fazer a coisa certa e os vínculos que tinham com ele.
– Ana, não se esqueça: é hora de mostrar firmeza – sussurrou Diana, sua voz baixa, mas cheia de urgência.
Olhei para ela, sentindo o peso de suas palavras. Ela estava certa, mas algo dentro de mim sentia que aquela votação não era apenas sobre negócios. Era pessoal. As palavras que eu tinha dito durante a reunião anterior – ao me referir a Mariana como minha "namorada" – agora pareciam gravitar sobre mim. Eu sabia que não havia nada de oficial entre nós, mas senti que essa mudança de status, de alguma forma, legitimava nossa conexão, transformava o que havia sido antes uma tensão reprimida em algo mais real. Mais intenso. Algo que não poderia mais ser ignorado.
Mariana estava em casa, o que significava que, mesmo longe, ela estava envolvida nesse jogo de poder, sendo, de certa forma, a razão de tudo isso. O sequestro que Anthony provocou, o mistério das transações fraudulentas, tudo nos levou até ali. E quando eu a chamei de minha namorada diante de todos, meu coração bateu mais rápido, como se estivesse revelando algo que, até então, só eu sabia. Só eu sentia. E agora, sem querer, eu havia colocado esse sentimento no centro daquilo que estava prestes a acontecer.
A sala se aquietou quando o presidente da assembleia anunciou o início da votação. Eu respirei fundo, tentando controlar o turbilhão dentro de mim. Não importava o que acontecesse ali. Eu estava determinada. E talvez fosse isso que mais me assustava: a certeza de que não havia volta. O que estávamos prestes a decidir não se referia apenas a Anthony, mas a todos nós. A nossa empresa. Nossa família.
– Todos têm em mãos as evidências, e todos sabem o que está em jogo. A decisão agora é de vocês – o presidente disse, quebrando o silêncio.
Os olhares começaram a se fixar em Anthony, que mantinha uma postura de superioridade, embora sua face estivesse pálida. Ele tentava esconder o desconforto, mas era impossível não perceber a inquietação nos pequenos gestos. Cada movimento dele parecia um convite para mais investigação.
Fui a primeira a votar, e meu gesto foi claro: não havia hesitação. Quando meu voto foi computado, os outros acionistas começaram a seguir, um a um. Cada voto se arrastava, como se o tempo estivesse se esticando, transformando cada segundo em um peso ainda maior.
A sala parecia absorver a gravidade do momento. Cada ação agora parecia cheia de consequências, como se a vida de todos ali fosse reescrita pela decisão coletiva.
– Está claro para todos – o presidente murmurou, sem tirar os olhos da urna. – Um voto a mais, e a decisão será tomada.
O silêncio era ensurdecedor.
Então, Anthony, pela primeira vez desde o início da reunião, falou. Sua voz saiu baixa, mas firme.
– Eu não sei do que estão falando. Tudo o que fiz foi sempre em nome da empresa! Essa... essa é uma tentativa de me derrubar. Não podem simplesmente me excluir sem provas concretas.
Mas as palavras dele pareciam não ter mais o poder de antes. O peso das transações fraudulentas estava agora exposto de forma inegável. O sequestro de Mariana também não era algo que podia ser ignorado. Ele tinha sido o responsável por aquela dor, aquela angústia. E isso não podia ser apagado com um simples discurso.
Diana não deixou que ele continuasse. Ela se levantou, sua postura altiva como sempre, e com uma voz cortante, disse: – Anthony, você teve várias oportunidades para se redimir. Mas se a lealdade não existe mais, o que está fazendo aqui? Fraude é crime. E o que você fez não só traiu nossa confiança, mas também colocou a vida de uma pessoa querida em risco.
Ele a encarou, tentando se manter firme, mas a tensão já estava estampada em seu rosto. Ele sabia. Sabíamos. Todos sabiam que aquilo era o fim da linha para ele. Sua postura agora estava mais desmoronada, menos ameaçadora.
A votação foi concluída. O presidente levantou a cabeça, e por um instante, o mundo parecia ter parado. Ele olhou para os papéis, e um leve suspiro escapou de seus lábios.
– A proposta de exclusão foi aprovada. Com uma grande maioria.
A sala ficou em silêncio absoluto. Anthony permaneceu imóvel, como se o golpe o tivesse atingido em cheio, mas sem saber como reagir. Aquela era a sua queda. O fim de sua influência na empresa, o fim de sua aliança com nossa família. O que ele pensava ser uma vitória era agora uma ruína.
Eu não senti alívio imediatamente. Em vez disso, um peso se instalou sobre mim. Olhei para meu pai, cujos olhos pareciam mais distantes do que nunca, e então para Diana, que me olhava com um semblante grave. Ela sabia o que essa decisão significava para nós, para a nossa empresa, e para o futuro.
Mas o mais intenso de tudo era o que sentia por Mariana. Embora não fosse uma relação oficial, senti que aquele momento de tensão havia sido uma espécie de prova silenciosa, uma confirmação de que tudo o que estávamos vivendo era real. Eu havia falado dela, com todos os olhares sobre mim, como minha namorada. E agora, mesmo sem termos formalizado nada, esse vínculo entre nós se tornara a pedra fundamental de minha determinação. Ela estava no centro disso tudo. E, de alguma forma, isso nos uniu ainda mais.
Depois da votação, a sala se dissolveu em um murmúrio coletivo. As pessoas começavam a se levantar, mas algo ainda pairava no ar, como se todos soubessem que, por mais que a decisão fosse uma vitória, o preço da mesma havia sido alto.
Eu não conseguia deixar de pensar em Mariana. O que ela diria quando soubesse do que fiz? Como a nossa relação, ainda nascente, iria se moldar depois de tudo o que havíamos enfrentado? Minha mente estava um turbilhão, mas uma coisa estava clara: a partir de agora, não havia mais retorno.
A reunião havia terminado, mas o verdadeiro trabalho estava apenas começando.
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Lovely
Fanfiction"𝘌𝘶 𝘲𝘶𝘦𝘳𝘪𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘢𝘳 𝘱𝘳𝘦𝘱𝘢𝘳𝘢𝘥𝘢 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘷𝘰𝘤𝘦̂, 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦𝘴𝘵𝘢́ 𝘱𝘳𝘰𝘯𝘵𝘢 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘮𝘪𝘮." Escolhas - algo que teria que ser feito com lógica e paciência. Quando as consequências de suas escolhas batem na porta...