La falsa paz

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O jantar foi agradável demais, tudo conforme o inesperado. Não estava sabendo lidar com o fato que meu pai estava presente naquela mesa, sem causar desconfortos, sem piadas, apenas sendo ele mesmo. O tempo muda as pessoas, talvez elas mudem por si só.

Mariana e meu pai engajaram em alguma conversa aleatória, não estou acostumada a interagir muito durante os jantares. As crianças estavam felizes pela visita. Realmente, tudo é agradável demais e não estou acostumada.

Esbocei um sorriso amigável e genuíno a Ceci, seus olhos apresentavam brilho de felicidade, estavam realmente se divertindo.

— Ana sempre foi muito competitiva… — Meu pai tagarela para Mariana, que deu um sorriso doce em minha direção.

— Aí não, você não vai contar meus podres para ela. – Revirei os olhos em falso drama.

Ceci me olhou, ela estava curiosa.

— Conte, vovô! — Ceci pediu dando um sorriso, esperando que meu pai saciar a sua curiosidade e acredito de todos da mesa, menos eu.

Dei um sorriso sem graça, odiava aquelas histórias que me colocasse como boba ou completamente competitiva – o que não era uma mentira, mas não gostava de certas histórias onde fui inconsequente para mostrar minha vitória, quer dizer, algumas valem a pena ser contadas, porém, meu pai sempre escolhe as piores para serem contadas.

— Não passarei essa vergonha duas vezes, pai. — Peguei minha taça de vinho e me levantei da mesa.

— Aí, mãe... Só queria ver sua cara ouvindo suas próprias histórias. — Ceci demonstrou seu bom humor e Rodrigo deu uma risadinha.

Mariana balançou a cabeça dando um sorriso contido.

— Vocês gostam de testar a paciência da sua mãe! — Mariana pousou os olhos nos meus, me deu um sorriso confortável.

— Obrigada, alguém que se preocupar com meu bem-estar. Vou ao jardim tomar um ar, mas não demoro. — Esbocei um sorriso desconfortável, segurei firmemente a taça e me retirei da sala de jantar.

Passei pela grande sala, alguns outros cômodos enquanto andava, dei um gole no vinho que era delicioso, como todo ótimo Château costuma ser.

Abri a porta que dava acesso ao lado de fora da casa, um vento frio tocou minha pele, me arrepiei pela troca de temperatura. Deveria ter colocado um casaco.

Como está frio... — Sussurrei descendo as escadas que davam acesso ao jardim, deixei os saltos por ali mesmo.

Andei até a área de lazer, onde estavam dispostos os sofás e me sentei. Coloquei a taça sobre a mesinha. Fechei os olhos e senti a brisa tocando meu rosto, me arrepiei e a sensação de ter alguém me observando apareceu, abri os olhos rapidamente e olhei a volta.

Nada a temer!

Uma sensação meio esquisita apareceu, ignorei. Peguei a taça, tomei mais um pouco do líquido.

Senti meu celular vibrar, olhei a mensagem e era Mariana me perguntando onde estava. A respondi que estou no jardim. A estranha sensação permaneceu em meu peito, mas novamente decidi não dar ouvidos. Meu celular vibrou e um número desconhecido ligando.

Atendi, não tenho o costume de atender esse tipo de ligação.

— Alô? — O silêncio na linha me incomodou. — Alô? — Repeti. A ligação foi encerrada. Levantei às sobrancelhas em surpresa, deve ser algum moleque tentando me pregar peças a essa hora.

Ouvi a porta dos fundos abrindo e surgindo o meu pai, revirei os olhos, só queria um pouco de paz. Ele estava vindo em minha direção com seu terno impecável, um Servín sempre será impecável – ouvi tanto essa frase durante a infância e adolescência.

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