Ao amanhecer, levantei-me ao lado de Mariana, que agora dormia em casa, no que parecia um sono mais tranquilo, apesar de todo o trauma recente. Enquanto a observava, sentia uma mistura de alívio e culpa. Cada linha de expressão em seu rosto me lembrava que minha busca por justiça não era só sobre a empresa, mas sobre protegê-la. Respirei fundo, deixando que o leve som de sua respiração me devolvesse um pouco da calma que a situação havia me roubado.
Saí do quarto em silêncio, rumando para a sala onde meu pai e Diana já me aguardavam. Encontrei os dois sentados, ambos visivelmente desgastados. Diana fitava o chão, perdida em seus próprios pensamentos, enquanto meu pai mantinha os braços cruzados, olhando fixamente para a mesa à sua frente. Esse homem que sempre fora meu modelo de força agora parecia cansado, como se carregasse mais do que apenas o peso da idade; ele carregava o fardo da confiança traída.
– Bom dia – murmurei, tentando não transmitir o peso do que tinha a dizer logo cedo.
Meu pai ergueu o olhar, e Diana desviou da janela para me observar. Ela sempre fora minha irmã mais pragmática, mais leve nas atitudes, mas naquela manhã havia algo de grave em seu semblante.
– Tem certeza de que isso é necessário, Ana? – meu pai perguntou, sua voz um tanto rouca. Sabíamos que ele desconfiava de Anthony há algum tempo, mas pareceu que, ao falar em voz alta sobre a assembleia, ele tomava consciência do tamanho da traição que isso representava.
– Temos mais do que uma suspeita. – Acalmando-me antes de prosseguir, peguei a pasta de documentos que trouxera e os coloquei sobre a mesa. – Anthony não só quebrou nossa confiança, como também expôs a empresa a riscos. Olhem. – Abri os papéis, apontando para os pontos críticos de algumas transações suspeitas. – Esses registros de movimentações financeiras foram intensificados nas últimas semanas, desde o incidente com Mariana.
Diana se aproximou para observar de perto, seus olhos passeando de um lado a outro, analisando com atenção. Ela respirou fundo, absorvendo o choque.
– Ana, se isso que está dizendo é verdade, não é só a empresa que ele comprometeu. É a nossa família inteira. – Diana sussurrou, seus olhos fixos nos números frios que revelavam as traições.
– Exato. – Meus lábios formaram uma linha reta, segurando o ímpeto de raiva que subia ao pensar em como Anthony pôde ameaçar Mariana, minha irmã e o futuro dos negócios.
Meu pai esfregou o rosto com as mãos, o peso da situação agora quase palpável sobre seus ombros.
– Filho de uma... Eu devia ter percebido antes. – A voz dele era amarga, com o eco de alguém que revisita suas decisões, lutando para descobrir em que ponto exatamente havia falhado. Ele balançou a cabeça. – No fundo, eu sempre soube que ele era ambicioso, mas... – parou, como se as palavras fossem pesadas demais para serem ditas.
– Pai – interrompi, minha voz firme e sem hesitação –, o que estamos enfrentando agora não é o resultado de uma única decisão. Anthony era um aliado próximo, alguém que fez questão de estar ao nosso lado, de ganhar a nossa confiança.
Ele assentiu, os olhos fixos em mim, como se buscasse forças para encarar o que estava por vir.
Diana foi a primeira a romper o silêncio que seguiu. – Precisamos convocar essa assembleia, não só por nós, mas por Mariana. Ela foi vítima disso tudo. Precisamos mostrar que não vamos recuar.
O olhar de meu pai encontrou o dela. – Sei disso, Diana. Por isso estou aqui, ao lado de vocês. Vamos fazer o que for preciso.
Antes de partir para o escritório, troquei uma última palavra com Diana, que tocou meu ombro.
– Isso não será fácil – ela disse, sua voz baixa e séria. – Mas você está preparada?
Assenti. – Mais do que nunca.
. . .
A sala de reuniões parecia particularmente fria quando entramos. Os rostos dos acionistas nos observavam com uma curiosidade misturada à tensão de quem percebe que algo grave está prestes a ser dito. Anthony estava lá, em uma ponta da mesa, com sua postura usual de confiança. Quando me viu, percebi o brilho de desafio em seus olhos. Ele não esperava que estivéssemos tão bem preparadas.
O silêncio era quase tangível quando comecei a apresentação.
– Agradeço a presença de todos. Convocamos esta reunião extraordinária para tratar de questões delicadas, mas urgentes – disse, mantendo meu tom firme e impassível. – Durante as últimas semanas, algumas irregularidades foram descobertas nas nossas finanças, e não podemos ignorar o que está em jogo.
O rosto de Anthony endureceu. Ele sabia o que estava por vir.
Puxei o primeiro documento, exibindo-o na tela para todos verem. – Esta é uma das transações recentes que levantaram suspeitas. Valores elevados, movimentados de contas não habituais, e sem justificativas plausíveis. – Virei-me para ele, deixando que a tensão se ampliasse. – Anthony, tem algo a nos dizer sobre isso?
Ele ergueu o queixo, um sorriso forçado nos lábios. – Ana, com todo respeito, talvez você esteja interpretando as coisas de forma equivocada. Grandes empresas como a nossa sempre têm movimentações consideráveis.
Diana foi rápida em intervir, a acidez em sua voz cortando o ar. – "Equivocada" não é uma palavra que usamos para fraudes financeiras. E, neste caso, Anthony, os números falam por si.
Os acionistas murmuravam entre si, alguns visivelmente abalados, enquanto outros mantinham-se desconfiados, avaliando se era seguro apoiar ou refutar o que estava sendo dito. Com o desenrolar das provas, as máscaras começavam a cair.
Anthony, percebendo que estava acuado, tentou se defender. – Sempre estive aqui, trabalhando pelo bem dessa empresa. É ridículo que, por causa de algumas suposições, vocês coloquem toda a minha lealdade em dúvida.
Meu pai finalmente interveio. Sua voz saiu baixa, mas firme. – Não se trata de suposições, Anthony. Isso já ultrapassou qualquer limite. E você não estava "trabalhando pelo bem da empresa" quando colocou em risco a segurança de Mariana.
Anthony empalideceu, visivelmente desconcertado. Sua postura defensiva começou a vacilar. Ele sabia que o peso da acusação era grave.
Eu aproveitei a brecha. – Você fala de lealdade, mas como isso se encaixa com o sequestro da minha namorada, Mariana? Sequer tem uma defesa para isso? A empresa não é palco para quem manipula e ameaça.
A sala explodiu em murmúrios. A gravidade da situação tornava-se inegável. Eu continuei, minha voz agora um tom mais baixo, mas afiada como uma lâmina.
– Anthony, se pensa que estamos dispostos a deixar passar o que descobrimos, está redondamente enganado. E isso é apenas o começo.
Ele permaneceu em silêncio, o que já era uma confissão a olhos vistos.
O clima na sala de reuniões estava carregado de tensão, e os olhares lançados sobre Anthony eram uma mistura de indignação e repulsa. Os acionistas começaram a balançar a cabeça, alguns já convencidos de que a continuidade de Anthony na empresa era insustentável.
Respirei fundo, olhando para meu pai e para Diana, que se mantinham firmes ao meu lado. Sabíamos que o próximo passo não seria fácil, mas estávamos dispostos a enfrentar o que fosse necessário para proteger o futuro da nossa empresa e da nossa família.
– Vamos votar – anunciei, minha voz firme e clara, cortando qualquer possibilidade de réplica. – Chegou a hora de decidirmos o destino da empresa e o que fazemos com quem tenta destruí-la de dentro para fora.
. . .
Olá, pessoal!
Sim, eu desapareci por 11 meses e estou de volta como se nada tivesse acontecido. Passei esse tempo por questões pessoais e de saúde, mas agora voltei para finalmente concluir essa história que estou tentando terminar há anos.
Espero que gostem do capítulo! Comentem e deixem suas impressões, vou adorar saber o que acharam.
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Lovely
Fanfiction"𝘌𝘶 𝘲𝘶𝘦𝘳𝘪𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘢𝘳 𝘱𝘳𝘦𝘱𝘢𝘳𝘢𝘥𝘢 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘷𝘰𝘤𝘦̂, 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦𝘴𝘵𝘢́ 𝘱𝘳𝘰𝘯𝘵𝘢 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘮𝘪𝘮." Escolhas - algo que teria que ser feito com lógica e paciência. Quando as consequências de suas escolhas batem na porta...