1. Marie

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Eu encarava o teto enquanto Michael beijava alternadamente o meu pescoço e minha boca. Ele mantinha os olhos fechados e por isso não conseguia ver meu desinteresse. Olho disfarçadamente para o sofá manchado no qual estávamos sentados e penso em como ele estava velho. Apesar de namorarmos a quase um ano, as coisas estavam ficando meio cansativas para mim, não que ele fosse um péssimo namorado nem nada do tipo, mas acho que a gente não tinha mais a química de antes. Limpo a minha garganta para chamar a sua atenção e o afasto empurrando seu peito delicadamente.

— O que foi? Está tudo bem? — ele pergunta preocupado. Encaro seus olhos escuros e dou um sorriso, mesmo que um tanto forçado.

— Sim, é só que...preciso dar uma estudada antes de ir para o trabalho — minto fazendo meu melhor.

— Sério gata, você anda meio distante esses dias, tem certeza de que está tudo bem? — Ele puxa minha mão para ele e beija suavemente as costas dela. Forço um sorriso. Michael era atraente, os olhos escuros faziam um contraste incrível com seu cabelo castanho claro, e me lembro por que comecei a gostar dele de início. Eu tiro minha mão da dele e me aproximo entrelaçando minhas pernas em sua cintura, passo os dedos em seu cabelo macio e o beijo de verdade dessa vez, ele retribui no mesmo instante, os olhos fechados. Ele puxa meu cabelo levemente. Ainda que talvez eu não goste mais dele como antes, ele ainda tinha uma boa pegada, precisava admitir. Me afasto ao ficar sem ar, e o ouço arfar, eu sorrio ao saber o que eu consigo causar nele.

— Está tudo bem, de verdade. — Saio de cima dele levantando do sofá e pego meu celular para ver o horário. – Você precisa ir, preciso estudar pelo menos um pouco — digo séria cruzando os braços.

— Droga — ele resmunga levantando-se. — Posso voltar mais tarde? — Ele arqueia as sobrancelhas cruzando os braços para me imitar, o que me faz sorrir.

— Hoje não, Michael. — Ele parece se decepcionar e não esconde isso.

— Por que você tem que ser tão má? — Michael me puxa pela cintura aproximando os lábios dos meus, ainda sem tocá-los.

— Eu não sou má, só não quero ir mal na prova. — Dou de ombros me afastando um pouco.

— Você fica linda estressada — diz sorrindo e me beija suavemente.

O calor da Flórida chegava a ser irritante. Principalmente no verão. Era outubro, e o frio chegaria só em dezembro, e além do calor grotesco, era uma terça-feira, e eu odiava terças. Na verdade, eu odiava todos os dias da semana, mas terças eram ainda piores por alguma razão que eu não havia conseguido determinar até hoje, apenas que coisas ruins tendiam a acontecer nas terças feiras para mim. Eu estava acomodada no banco do motorista do meu precioso Toyota indo para o trabalho que eu tanto abominava. O avental vermelho da lanchonete, e o cabelo preso em um coque horrível faziam o par perfeito para os padrões da Wally's Burger. Olho no retrovisor para conferir meu rosto, o lápis embaixo dos olhos estava borrado e manchado.

— Merda — murmuro alternando os olhos do retrovisor para a estrada. Eu não tive tempo de me arrumar antes de ir para o trabalho. A faculdade estava exigindo um pouco mais do que eu esperava de mim, e eu ainda precisava trabalhar para conseguir pagar o aluguel do apartamento que eu dividia com Colleen.

Enfermagem não era a faculdade que eu queria fazer para início de conversa, o que tornava minha vida ainda mais miserável, mas graças a minha incrível mãe, eu não tive muita escolha quanto ao curso, nem quanto a faculdade em si... Tento limpar o lápis com o dedo e sem querer, de alguma forma, acerto meu olho castanho claro com a unha.

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora