19. Aaron

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A pergunta de Marie me faz rir. Ela estava tão preocupada assim? Pela quantidade de bebida e autocontrole, sinto que ela nunca havia feito isso em sua vida, ainda mais depois de ver a vergonha estampada em seus olhos. Mas tenho que admitir, a noite passada foi divertida, Marie fez todos rirem, apesar de ela provavelmente não se lembrar disso. Não vi mais culpa em seus olhos, nem tristeza, ela só parecia...animada. Malcon imediatamente falou que eu deveria investir, Marie é atraente, claro. Ela não é tão magra quanto Katherine, e seu cabelo também não é de uma cor definida, mas ela é igualmente bonita. Katherine era modelo e estava constantemente preocupada com alimentação e beleza, isso me irritava um pouco às vezes, ela era tão insegura mesmo sendo tão espetacular.

Marie olha em volta da cozinha e ela parece se surpreender pelo luxo. Sabia que isso iria acontecer, e sinceramente, não queria que ela achasse que eu era esse tipo de pessoa, não queria fingir ser algo que eu certamente não era. Viro o bacon que eu estava fritando para acompanhar os ovos mexidos, um clássico americano. Ela entra mais na cozinha e se senta em uma cadeira alta que ficava de frente para o balcão, tendo uma visão perfeita do fogão onde eu cozinhava.

— Bela casa — ela fala e não consigo identificar muito bem se foi um comentário bem-intencionado, apesar de Marie não parecer ser o tipo de pessoa arrogante.

— Obrigado. Está com fome? — pergunto e ela afirma. Levanto meu olhar para observá-la melhor. Ela estava encarando a mesa, como se não soubesse o que dizer. Coloco a comida no prato e ela agradece. — Então, se divertiu ontem? — Marie cruza seu olhar com o meu e passa as mãos no rosto, soltando um grunhido.

— Aparentemente sim, né? — ela responde apontando ao redor da casa. Solto uma risada, mas ela me encara cética, quase irritada, paro de rir imediatamente. Marie pega o garfo e coloca um pedaço de ovo na boca. Vou até a geladeira para pegar o suco de laranja, e encho dois copos, um para ela e outro para mim. — O que fiz ontem? — pergunta.

— Nada demais — respondo dando de ombros. Apoio minhas costas na pia, que também ficava na frente do fogão, consequentemente de frente para o balcão em que ela estava sentada. — Você se divertiu. Dançou um pouco, falou muito — conto e ela solta outro grunhido. Não conseguia entendê-la muito bem, por que isso era um problema para ela? Todo mundo já passou, ou vai passar por isso uma vez na vida. Marie come em silêncio, às vezes remexendo a comida, como se estivesse absorta em seus próprios pensamentos. Decido não a incomodar.

Não conto a parte que ela quase tentou me beijar. Foi engraçado, mas ela obviamente não sabia o que estava fazendo. Se fosse em outras condições, talvez eu deixasse. Mas como não aconteceu e nem vai acontecer, deixo isso quieto.

— Filho — minha mãe chama entrando na cozinha — será que você poderia... — ela continua, mas para subitamente quando percebe que tem uma garota comendo na nossa cozinha. Ela tenta esconder a surpresa, fazia muito tempo que eu não trazia uma garota em casa. Marie se encolhe quando vê minha mãe a observando.

— Mãe, essa é Marie — decido intervir. Minha mãe parece a analisar, e depois de alguns segundos, ela fica pálida. Como se toda a cor de seu rosto se esvaísse, e nem mesmo a maquiagem pudesse acobertar isso. Ela arqueia as sobrancelhas, curiosa, e sei que alguma coisa aconteceu, mas Marie já se constrangeu demais por hoje, e decido perguntar quando estivéssemos as sós.

— Olá, Marie — minha mãe a cumprimenta e Marie retribui, mas não passa de um sussurro. — Bem, vou deixá-los em paz, depois conversamos — ela diz referindo-se a mim. Quando ela sai da cozinha, Marie volta a comer, e fala:

— Sua mãe parece nova.

— É, com toda a maquiagem e procedimentos estéticos — rebato com sarcasmo. Marie solta uma risada.

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora