Que merda eu fiz? Consegui ver a decepção nos olhos de Marie, e, ainda assim, não fiz nada para impedir. Eu queria beijá-la. Muito. E o beijo foi fantástico, mas sabia onde isso ia dar. Marie voltaria para os Estados Unidos e eu ficaria aqui, nós dois íamos sentir o coração partido e isso não ia ajudar em nada nas nossas vidas. Eu não deveria ter beijado ela, porque agora, tudo o que consigo pensar, é em como eu quero beijá-la de novo, e de novo, e de novo.
Minha intenção era tornar essa viagem inesquecível, mas eu estava achando que tinha acabado de estragar tudo. Não queria que Marie se sentisse rejeitada, porque não era nada disso, se eu pudesse, passaria o resto da noite dizendo o quanto ela é incrível e o quanto ela fica linda sem roupa, e claro, beijando cada parte de seu corpo. Mas eu não podia fazer isso com ela. Conosco. Mas aparentemente estraguei tudo.
Bato na água de maneira frustrada e solto um grunhido, odeio isso. Saio da jacuzzi e vejo que Marie havia deixado a toalha em cima da espreguiçadeira, ela estava com tanta pressa para sair daqui que nem ao menos usou a toalha para se secar. Estava me sentindo um babaca. Como que eu iria olhá-la amanhã de manhã sem me sentir culpado pelo que fiz? Amanhã seria véspera de ano novo e não queria vê-la mal.
Estava prestes a subir as escadas quando ouço minha mãe perguntar:
— O que aconteceu? Vi Marie subir com pressa.
— Nada demais — minto.
— Aaron... — ela fala com o tom de voz que conheço muito bem, ela não deixaria essa passar batido. Minha mãe me encara seriamente com os braços cruzados, chegava até a ser um pouco amedrontador, raramente ela falava assim.
— Fiz uma besteira. Beijei Marie — respondo. Minha mãe sorri como se estivesse realmente feliz pelo acontecimento.
— Isso é ótimo! — exclama, me deixando confuso. Ela nunca se preocupava com quem eu beijava ou deixava de beijar.
— Não, eu não deveria ter feito isso — interrompo sua alegria momentânea o que desmancha seu sorriso. — Ela não é de Paris, e ela vai embora em breve, nada bom vai vir disso.
— Não seja idiota, Aaron. Claramente você gosta dela, o que custa dar uma chance? Idaí se for por pouco tempo? Pelo menos você vai poder dizer para si mesmo que sentiu algo bom por alguns dias.
— Estou apenas tentando proteger a nós dois — falo e ela nega com a cabeça.
— Você está enganando a si mesmo – ela rebate dando de ombros. Passo as mãos pelo meu cabelo, irritado, e levanto a cabeça em direção ao teto. — Mas você sabe, faz o que quiser — ela continua. — A perda vai ser sua de qualquer forma.
Sem paciência, dou um fim a nossa conversa, não estava com vontade de falar sobre isso agora, e tenho certeza de que Malcon diria as mesmas palavras que minha mãe havia acabado de me dizer. Subo as escadas de maneira derrotada, e a expressão de Marie invade minha mente. Ela parecia tão feliz depois do beijo, bastou meio segundo para que sua expressão mudasse de felicidade para decepção.
Já não sabia mais o que era certo ou errado, queria muito bater na porta do quarto de Marie e pedir desculpas, mas algo me dizia que agora ela só queria ficar sozinha. Fecho a porta com força demais e bato nela com as mãos tentando descontar minha frustração. Estava tudo errado, como podia uma garota me deixar tão confuso? O dilema moral estava martelando na minha mente e não sabia bem a resposta para ele.
Passo os olhos pelo quarto, e eles param na minha guitarra. Isso costumava me acalmar quando eu estava irritado, talvez me ajudasse. Pego a guitarra preta e ligo no amplificador, vai fazer muito barulho e provavelmente irritar a minha mãe, mas eu não estava me importando se iria parecer uma criança mimada. Quando os dedos começam a fazer os acordes e as notas invadem meus ouvidos, me sinto um pouco mais leve, um pouco, não o suficiente, mas, do jeito que estava me sentindo, aceito qualquer migalha que tiver.
Depois de alguns minutos vejo que o efeito já estava passando, então desligo o amplificador com raiva e me jogo na cama. Queria saber o que Marie está fazendo agora, espero que ela não esteja chorando ou se sentindo mal. A quem eu quero enganar? É óbvio que ela não deve estar se sentindo bem. Tomo um banho para tentar relaxar e decido que dormir é a melhor opção para tentar esquecer tudo o que aconteceu nesse intervalo de uma hora.
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Quando acordo, passo alguns minutos deitado na cama, tentando evitar o inevitável, que era ter que encarar Marie depois da noite passada. Me levanto ao soltar um suspiro, e torço para que as coisas não fiquem tão estranhas entre a gente. Coloco uma calça jeans e uma camiseta preta, teria que bastar.
Chego à cozinha e escuto minha mãe conversando com Marie, melhor do que isso, escuto Marie rir. Agradeço silenciosamente por ela não parecer tão chateada. Ela estava sentada na mesa, comendo um morango, era uma visão e tanto. Quando entro no campo de visão dela, sua risada some aos poucos, e sinto como se alguém tivesse acabado de me dar um soco no estômago. Mas ainda assim, Marie me oferece um sorriso fraco, quase forçado e diz:
— Não sabia que você tocava guitarra. — Eu também abro um sorriso forçado e coço a cabeça de maneira sem-graça.
— Desculpa se estava muito alto. — Marie dá de ombros e minha mãe me oferece um lugar na mesa. Na maior parte do tempo, a voz de minha mãe preenchia o ambiente, Marie quase não falava, ela só murmurava em concordância e respondia a algumas perguntas, e, por mais que eu não queria, percebi que ela estava evitando ao máximo me encarar. Queria que ela me olhasse apenas uma vez para tentar demonstrar pelo meu olhar o quanto me sinto arrependido pelo que fiz, mas ela não me dava essa chance.
Pelo menos não passaríamos o dia inteiro sozinhos, Aimee e o resto viriam em casa e iríamos para a tal festa dos universitários, a qual eu não estava nada animado para ir, não depois do que aconteceu na noite passada.
Depois do café, percebo que Marie não estava apenas evitando olhar para mim, mas ela estava me evitando no geral. Sei disso porque ela foi direto para seu quarto, e quando ela desceu e viu que eu estava na sala, ela foi para cozinha, e depois para seu quarto de novo. No almoço foi a mesma coisa, e eu estava começando a ficar ainda mais frustrado. Era péssimo não ouvir a sua voz ou risada, isso me matava por dentro.
O dia se passa muito devagar, e eu estava surtando. Quando vejo que Marie estava na piscina, sentada na espreguiçadeira, decido ir até lá, ela não teria como fugir, e eu não aguentava mais esse silêncio. Tento fazer o mínimo de barulho possível quando percebo que ela estava com os olhos fechados, mas claramente não funcionou, pude perceber pelo seu corpo, que se mexeu como se estivesse desconfortável. Não falo nada, no entanto. Me deito na espreguiçadeira do lado, e coloco os braços embaixo da minha cabeça. Escuto Marie soltar o ar devagar falo:
— Marie...
— Está tudo bem, Aaron — me interrompe. Claramente não estava tudo bem e eu queria me desculpar, mas ela não me deixa continuar. — Nada aconteceu. Não podemos deixar que isso estrague nossa amizade. — A minha vontade era de gritar que eu não queria apenas amizade, e que estava louco para beijá-la de novo, mas não faço isso. Viro a cabeça para olhá-la, mas ela ainda estava olhando para o céu, que estava terrivelmente nublado.
— Eu não queria...
— Não diga nada — ela suplica. — Nada aconteceu. Podemos esquecer isso? — Hesito antes de responder:
— Ok.
— Ok — ela repete.
Ficamos no silêncio por alguns minutos, nenhum de nós parecia estar com vontade de dizer alguma coisa, mas quando começa a escurecer, aviso:
— Deveríamos nos arrumar, daqui a pouco o pessoal está aqui. — Ela finalmente vira a cabeça em minha direção para me olhar, quando faço o mesmo, não consigo ver nada em seus olhos, o que não era muito comum, Marie e eu conseguíamos dizer tanto apenas com nossos olhares.
— Sim — afirma já se levantando. Marie não me espera segui-la, ela apenas me deixa para trás e sobe as escadas. Não sei se eu conseguiria lidar com isso até o dia de ela ir embora. Na verdade, não sabia se estava preparado para deixá-la ir.
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Efeito Paris
Romance[FINALISTA DO WATTYS 2021] Marie está cansada de sua vida sem graça e rotineira, e no fundo, acha que sempre foi assim, desde pequena. Após completar 20 anos, a visita inesperada de um advogado muda a sua vida de um dia para o outro, fazendo com que...