É estranho como algumas coisas podem mudar tão rápido e outras tão devagar.
Em um ano, muita coisa pode acontecer, isso era definitivo e até empírico. Eu estava mais feliz, e isso era o que mais importava. Ainda morava na Flórida, ainda não tinha uma relação 100% com a minha mãe, ainda não gostava muito do meu pai, mas para quem viveu na mesmice por tanto tempo, as coisas estavam melhores.
Tudo começou com uma conversa com a minha mãe, e é incrível como a verdade pode melhorar tudo, a sinceridade foi o que tornou nossa relação cada vez mais tolerável. Eu não estava mais fazendo enfermagem, e Colleen estava feliz por mim. Michael ainda era o idiota de sempre, e nunca mais falei com ele, ainda o evitava por medo, mas estava sumindo aos poucos. Jonas não morava mais na fraternidade e criamos um laço maior depois disso. Um dia ele falou que gostava de mim, mas falei que o amava apenas como amigo e que não estava preparada para um relacionamento. Ele entendeu, e essa era a grande diferença entre ele e Michael.
Os dias estavam passando mais rápido, e era uma coisa que eu não via antes, para mim o tempo passava na velocidade de uma lesma. Acho que quando você gosta do que faz, tudo passa mais rápido. Devia muito a Aaron, claro. Essa viagem me mudou e aprendi muito com ele, aprendi a aproveitar cada segundo da minha vida.
Eu ainda sentia sua falta, mas sabia que talvez, tudo o que aconteceu foi para o melhor, pelo menos era o que achava antes de ver ele pegar uma cadeira e se sentar na minha frente, sem mais nem menos. Desconfio que seja apenas um fruto da minha imaginação, tinha dormido pouco na noite anterior devido as provas e provavelmente estava cansada. Esfrego meus olhos para que a imagem suma, mas não, ele estava mesmo lá.
— Olá, Marie — ele me cumprimenta, e odeio que sinto meu coração se apertar ao ouvir sua voz, porque não tinha por que negar, eu tinha sentido falta disso.
— Aaron? — pergunto confusa.
— Em carne e osso — é o que ele diz. Ficamos um tempo nos encarando, como se quiséssemos relembrar cada detalhe físico, como se tivéssemos passado tanto tempo longe que nossa memória um do outro estava começando a sumir. — Senti sua falta — ele sussurra, mas nego com a cabeça e fecho o livro que estava aberto na minha frente. — Por favor, me escuta — ele quase implora. — Não gosto de como deixamos as coisas entre nós.
Eu também não. Me senti muito culpada quando pisei nos Estados Unidos. Várias vezes quis mandar mensagem ou ligar, mas claro que não falo isso. Talvez eu fosse orgulhosa demais. Aaron pega o copo de café gelado que estava na minha frente e toma um gole, sem tirar os olhos de mim, e me pergunto como era possível sentir borboletas no estômago a essa altura. Deus, como senti falta dele.
De seus olhos.
De seu sorriso.
De tudo.
Ele coloca o café novamente na minha frente e faz uma careta.
— Café feito em casa é definitivamente melhor — diz. Eu o encaro sem falar nada porque tenho medo de dizer algo errado, ou melhor, fazer algo que me entregue antes de saber se ele também sentiu falta de mim tanto quanto senti dele. — Você está muito séria, não está feliz em me ver? — pergunta. Solto um suspiro, arrogante. Mas ele abre um sorriso de canto de boca e novamente sinto meu estômago revirar.
— Eu concordo — me rendo finalmente, e ele me olha surpreso. — Também não gosto de como deixamos as coisas entre nós. — E no seu olhar, vejo um lampejo, esperança, talvez?
— Marie, eu sinto muito. Queria poder dizer que me arrependo de ter te mandado embora, mas eu não me arrependo, a única coisa que me arrependo, é de ter mentido para você. Você merecia uma explicação, mas eu estava com medo do que você pudesse fazer, existem muitas coisas envolvidas, então preciso que você me escute, ok? — ele fala, e assinto sutilmente com a cabeça.
Eu o entendia. É a primeira coisa que passa pela minha cabeça quando ele termina de contar tudo o que aconteceu e seus motivos. Ele estava certo de ter me mandado embora, mas eu realmente merecia uma explicação melhor.
— Eu também menti para você — digo. — Ter te conhecido foi uma das melhores coisas que já aconteceu na minha vida. — E quando falo isso, ele parece até se sentir aliviado, como se quisesse escutar isso o tempo todo.
— Acho que não estava na nossa hora, mas jamais iria me perdoar caso não viesse falar com você. Ainda tenho que voltar para a França, mas o que acha de recomeçarmos? — ele pergunta.
Não sabia exatamente o que dizer. Não sabia o que isso significava para a gente. Não sabia nem se queria isso, mas só o fato de estar pensando na possibilidade, mostra que sim, talvez eu realmente quisesse isso. Quantas vezes não desejei que ele batesse na minha porta, pedisse desculpas? Foram muitas vezes, e agora que ele estava aqui na minha frente, era difícil acreditar que era verdade.
— Você realmente está aqui? — pergunto em um sussurro, e ele abre um sorriso.
— Sim, eu realmente estou aqui. — E para ilustrar e confirmar sua resposta, ele coloca sua mão em cima da minha, e aperta de leve. — O que me diz? — insiste.
Era um passo arriscado, mas assim como ele, talvez me arrependesse se não tentasse. E então eu digo que sim. Podemos recomeçar, podemos tentar, porque sempre foi sobre isso, recomeços e tentativas. Ele estava certo, talvez não fosse nossa hora, mas talvez dessa vez, ela finalmente tinha chegado. Ele sorri, se levanta e sai sem dizer nada.
— O que está fazendo? — pergunto confusa. Então ele volta, me olha atentamente e diz:
— Estava te olhando de longe, e vi que você é provavelmente a mulher mais linda que já vi na minha vida. Me chamo Aaron — ele fala, e eu solto uma risada. Ele ergue sua mão para que eu aperte em um cumprimento, eu a encaro por alguns segundos.
— Marie — respondo e eu a aperto.
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Efeito Paris
Romance[FINALISTA DO WATTYS 2021] Marie está cansada de sua vida sem graça e rotineira, e no fundo, acha que sempre foi assim, desde pequena. Após completar 20 anos, a visita inesperada de um advogado muda a sua vida de um dia para o outro, fazendo com que...