11. Marie

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Me sinto estranha. Às vezes as coisas podem mudar subitamente, de um dia para o outro, e a mudança vem tão bruscamente, que você se sente sufocando. Era assim que eu estava me sentindo. Desejava tanto alguma coisa nova e diferente em minha vida, mas jamais esperava por isso. Eu estava dividida, e não sabia o que fazer. Estava tudo muito estranho, minha vida toda eu queria que meu pai surgisse em casa me dizendo que tinha cometido um erro ao ir embora, mas o tempo foi passando e aceitei o fato de que isso jamais aconteceria, e então, descubro que ele nunca quis me deixar. Mas estou com raiva. Por que ele simplesmente não tentou mais? Ele era meu pai, tinha um dizer sobre minha vida. E agora, já era tarde demais. Ele nunca iria responder minhas perguntas, porque ele havia simplesmente morrido.

Eu não sabia nem o que fazer com o dinheiro! Não tive nem tempo de processar o que havia acontecido com Michael no sábado, e logo no domingo, uma bomba é despejada bem na porta de meu apartamento, me pegando totalmente desprevenida, pronta para me detonar. Quando acordo, passo alguns minutos na cama, olhando para o teto, perdida. Ganhar uma herança é com certeza fantástico, mas havia umas coisas que não faziam sentido. Penso na possibilidade de tudo não passar de uma pegadinha. Por que raios minha mãe nunca me contou a verdade? E por que ela iria me impedir de ter contato com meu próprio pai?

Me levanto com dificuldade e sem vontade, só mais uma prova e entraria de férias. E então, eu veria como lidar com toda a situação, pelo menos era o plano inicial. Me lembro do que William Russel havia dito sobre o tal evento em memória de meu pai. Eu não sabia nada sobre ele, pelo menos ele morava na Flórida? Eu não fazia ideia. O pensamento de perguntar algo para minha mãe some com a mesma velocidade que chegou, estava extremamente frustrada pelas suas mentiras.

Vou para faculdade como uma sonambula, eu sentia como se tudo estava acontecendo em segundo plano, e tudo parecia borrado e abafado. Me culpo por isso, eu tinha essa rotina impecável, fazia tudo como deveria ser feito, do jeito que deveria ser feito, às vezes me cansava disso, mas foi o modo que eu encontrei para tornar minha vida "certa". Me desacostumei com coisas diferentes. Terminar com Michael foi o começo dos acontecimentos inusitados.

De alguma forma, consigo terminar a prova, e imediatamente sinto um certo alívio. Mas quando chego do trabalho, mais uma coisa me frustra. Colleen estava no sofá, mexendo em seu celular como de costume, e assim que entro em casa, ela larga o celular e sorri. Não é algo que ela costumava fazer, geralmente ela dizia um "oi" e não tirava os olhos da tela.

— Oi, Marie — minha amiga diz, e eu retribuo. — Tenho uma notícia que você não vai gostar muito. Ótimo, lá vamos nós. — Sei que planejamos que iríamos fazer alguma coisa no Natal, mas... — ela dá uma pausa e desvia os olhos para o chão, coçando a cabeça como se estivesse sem graça. Eu ainda não havia saído de perto da porta, e já estava ficando impaciente. Cruzo os braços e espero ela continuar, apesar de saber exatamente onde essa conversa estava indo. — Vou ter que viajar. Minha família vai fazer uma viagem para o Brasil e eles insistiram para que eu fosse. Não pude falar não — Colleen finalmente termina. Fecho os olhos levantando meu rosto em direção ao teto. Não queria passar o Natal sozinha, e do jeito que as coisas estavam, muito menos com minha mãe. — Desculpa, de verdade.

— Está tudo bem, Colleen — falo. – Eu entendo. Vou arranjar alguma coisa para fazer, talvez passar com minha mãe — minto. Não queria me sentir sozinha, mas lá estava eu, a vida me dando um soco novamente. Se eu ainda estivesse com Michael, provavelmente passaria o Natal e Ano Novo com sua família, na sua casa de praia. Ela me olha com um olhar culpado, mas eu abro um sorriso fraco para mostrar a ela que estava tudo bem. Finalmente jogo minha bolsa em cima da mesa e vou até meu quarto. Talvez eu devesse ir até o tal evento.


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Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora