Depois de usar o computador de Aaron para cancelar a minha passagem de volta para os Estados Unidos, passamos a próxima semana inteira assistindo filmes, comendo, conversando, e fazendo sexo. Fazia muito tempo que eu não fazia isso, e sinceramente? Era incrível. Era totalmente diferente do que eu tinha com Michael, Aaron parecia querer ter certeza de que eu estava gostando tanto quanto ele, mais do que isso, ele parecia se importar genuinamente e verdadeiramente.
Estava tudo perfeito, até receber uma mensagem de Michael. Meu primeiro instinto foi revirar os olhos, claro. Mas me lembro da foto que havia postado com Aaron sem pensar nas consequências. Nem sabia por que ainda não tinha bloqueado Michael em todas as minhas redes sociais, mas meus dias estavam tão agitados que eu mal tinha tempo para mexer no celular. Eu nem tinha respondido a mensagem de "Feliz ano novo" de minha mãe.
A mensagem era basicamente xingamentos do tipo: "puta", já que eu não esperei nem um pouco antes de começar a sair com outro, o que era hipócrita vindo dele, já que depois de quatro dias do nosso término ele estava com Lisa. Apesar de não querer, o comentário veio acompanhado de culpa e incomodo. Solto um suspiro e Aaron percebe, ele se senta ao meu lado no sofá e pergunta:
— Está tudo bem?
— Sim — falo, mas esfrego o rosto com as mãos de maneira frustrada. Aaron volta seus olhos para o celular, e eu não o impeço de ler a mensagem. — É meu ex-namorado — esclareço. Aaron franze as sobrancelhas curioso, e dessa vez não me importo de contar o que aconteceu. — Foi um relacionamento que me fez bem, até não fazer mais. Não havia percebido o quanto ele era tóxico, estava tão cega e feliz por alguém gostar de mim dessa maneira. — Aaron inclina a cabeça levemente para a direita e pega a minha mão, que estava pousada em meu colo. Ele a leva até seus lábios e deposita um beijo leve.
— Eu gosto de você. — Reviro os olhos sorrindo. Ele alcança o celular e tira de minha mão. — Estou com uma vontade enorme de socá-lo. Ele tem sorte de que está em outro país, senão ele estaria bem machucado a essa altura. — Pego o celular novamente e Aaron observa a tela enquanto apago a mensagem e o bloqueio no Instagram.
— Pronto, resolvido — digo e deixo o celular de lado. Ele me encara atentamente antes de dizer:
— Você não deve aceitar menos do que merece, está me ouvindo? — Eu o olho de maneira cética e cruzo os braços. — Marie, estou falando sério — continua arqueando as sobrancelhas. Um meio sorriso se forma em minha boca e Aaron me pega desprevenida ao me empurrar levemente no sofá e ficar em cima de mim. Ele prende meus pulsos com as duas mãos para que eu não me livre facilmente, eu começo a rir e por fim falo:
— Ok.
— Ok? — pergunta para reforçar.
— Ok — repito.
— Ótimo — ele fala dando um beijo em minha testa. Escuto a porta abrir e me assusto, fazendo meus ombros pularem. Natalee nos observa com um pouco de surpresa no olhar, mas isso não parece a incomodar, muito pelo contrário, ela apenas sorri, Aaron nota meu constrangimento e solta uma gargalhada. — Somos adultos, Marie.
— Eu sei, mas sou uma convidada na sua casa, não é muito educado — digo e ele revira os olhos.
— Eu sou o dono da casa, deixa que eu decido o que é, ou não é educado — fala em meu ouvido, o que faz um arrepio percorrer minha espinha. — Tenho quase certeza de que minha mãe está pegando o professor de cross fit dela. — Solto uma risada e ele ergue os ombros, como se fosse óbvio. — Por qual outro motivo você acha que ela passa tanto tempo na academia?
— Sua mãe é legal, não devemos pensar nela assim — digo pegando o controle da televisão que estava em cima da mesinha de centro. Aaron se deita e abre o braço, para que eu me deite em cima, eu faço, e ele usa o outro para me envolver. Era uma posição agradável e eu não me importaria nem um pouco em passar o resto dos meus dias aqui dessa forma.
O filme estava um pouco chato, na metade dele paramos de prestar atenção e começamos a conversar, o que para mim não era problema nenhum, Aaron era uma pessoa engraçada, e eu nunca me cansava de escutá-lo falar, saber mais sobre ele, era de alguma forma, emocionante, e nunca achei que gostaria tanto de passar tanto tempo conversando com alguém.
De repente, a porta abre de uma forma bruta, nos fazendo levantar rapidamente. Um garoto parecido com Aaron estava na porta. Ele tinha o cabelo enrolado, em um tom um pouquinho mais escuro que Aaron, e mais tatuagens, mas os olhos eram os mesmos.
— Olá, petit frère — ele diz. — Sentiu minha falta?
Vejo Aaron enrijecer as costas e contrair o maxilar, ele não parecia nada feliz. O garoto volta seu olhar para mim e abre um sorriso malicioso, o que faz com que eu me sinta desconfortável. Em um gesto protetor, Aaron entra na minha frente, impedindo seu olhar de passar pelo meu corpo.
— Ryan, o que está fazendo aqui? — Aaron pergunta e quase consigo sentir o gelo em seu tom de voz. Tenho quase certeza de que Ryan é irmão de Aaron, eles são extremamente parecidos e sei que ele não gostava muito de falar sobre o irmão. Ryan dá de ombros e larga a mochila que estava em suas costas no chão.
— Que recepção calorosa — ele diz. — Bom, fui liberado, como você pode perceber.
Apesar de serem parecidos fisicamente, nas poucas palavras trocadas, consigo notar que eles não são nada parecidos. Tudo o que Ryan dizia parecia sair com segundas intenções, principalmente quando ele voltava seu olhar para mim. O clima parecia estar 10 graus negativos, e Aaron estava claramente irritado, o que atiça a minha curiosidade, subitamente eu estava interessada no que havia acontecido para esse clima todo.
— Ryan! — Natalee entra na sala e caminha em sua direção, eles trocam um abraço, mas Aaron não havia desviado o olhar de Ryan nem por um segundo. — Feliz ano novo!
— Feliz ano novo, mãe — ele responde.
— Sentimos tanto a sua falta! — Natalee continua e Aaron bufa, discordando. Ela lhe lança um olhar, o repreendendo, mas ele escolhe ignorar.
Me sinto como uma intrusa vendo tudo isso, eles eram uma família, e eu não passava de uma convidada temporária. Quando penso em dar um espaço para esse tal reencontro, Aaron envolve minha cintura com os braços fortes, como se me protegendo. Não entendia o porquê desse alvoroço todo, mas era claro que os dois irmãos não se entendiam muito bem.
Ryan finalmente volta seu olhar novamente para mim e eu desvio os olhos para o chão, eles tinham a mesma cor de olhos, mas como poderiam ser tão diferentes?
— Não vão me apresentar? — ele pergunta referindo-se a mim. Aaron não diz nada, e quando Natalee percebe que ele não iria falar, ela me apresenta por conta própria:
— Essa é Marie. Ela está ficando um tempo com a gente.
Ryan arqueia as sobrancelhas como se se divertindo com a situação e abre um sorriso.
— Olá, Marie.
Quando eu estava prestes a responder, Aaron se intromete dizendo:
— Muito bom te ver de novo, nós vamos estar lá em cima se precisar de nós — avisa sem me dar a oportunidade de falar alguma coisa. Ele me puxa pela sala, e coloca as mãos nas minhas costas me incentivando a subir os degraus.
— Aaron? — pergunto enquanto ele me direciona para o meu quarto. Quando entramos ele fecha a porta e anda pelo quarto de maneira frustrada. Me sento no meio da cama, ele levanta a cabeça olhando para o teto, e massageia as têmporas. — Aaron — repito e ele solta os braços ao lado do corpo, em um gesto derrotado.
— Ryan é meu irmão.
— Claro, isso é bem óbvio, vocês são iguais — digo e ele parece se ofender com o comentário, me repreendendo e me silenciando com um só olhar. Ele parecia preocupado, como se a presença dele tivesse repentinamente estragado tudo.
— Ele não estava em um retiro de férias — diz. — Ele estava na cadeia, Marie.
Como se consola alguém que havia acabado de dizer que seu irmão estava na cadeia? Arregalo os olhos surpresa e ele se senta na borda da cama. Engatinho em sua direção e passo os braços ao seu redor, o abraçando. Ele segura um dos braços, de maneira agradecida.
— Mas ele voltou, isso é bom, não é? — pergunto relutante e ele nega com a cabeça.
— Não, é péssimo — ele murmura.
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Efeito Paris
Romance[FINALISTA DO WATTYS 2021] Marie está cansada de sua vida sem graça e rotineira, e no fundo, acha que sempre foi assim, desde pequena. Após completar 20 anos, a visita inesperada de um advogado muda a sua vida de um dia para o outro, fazendo com que...