23. Marie

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A festa estava sendo melhor do que achei que seria. Acabei me aproximando mais dos amigos de Aaron, que pareciam se lembrar muito bem de mim. A comida era estranha, provavelmente coisa de gente rica, eram aqueles tipos de salgados que não preenchiam nem um quarto de seu estômago. E as risadas exageradas das mulheres mais velhas eram um pouco irritantes, por mais que jamais fosse dizer isso em voz alta. Por outro lado, Aaron também parecia não gostar muito delas. Elas me lembravam minha mãe, gostavam de manter as aparências para as outras. Ridículo. No final, elas estavam mentindo para si mesmas.

Aaron estava do meu lado quando uma mulher se aproximou, ela parecia ter a idade da mãe de Aaron, e estava usando um vestido que parecia caro demais para uma festa de Natal. Seu batom vinho escuro estava meio borrado, e sua taça cercado de marcas de batom. Ela me encara de baixo acima como se estivesse me analisando, mas não gostei nada da sua expressão de superioridade.

— Aaron, cadê Katherine? — ela pergunta e me lembro do "K" escrito com caneta permanente no cadeado.

— Na Itália, suponho — ele responde e ela faz uma expressão surpresa. Ele tinha uma namorada? Na verdade, eles provavelmente haviam terminado, a julgar pelo seu semblante triste quando estávamos na ponte. Mas fico curiosa, eu vi o jeito que ele me olhou na piscina, senti algo lá, e tenho certeza de que ele sentiu também. A mulher volta a me encarar.

— Que pena, tenho certeza de que uma modelo não se compara a outras pessoas — a mulher fala ainda me olhando, como se a frase tivesse sido especificamente para mim. Fico com raiva, quem ela pensa que é? Sei que não tenho o corpo de uma modelo, mas isso não dá o direito de ela falar isso para ninguém. Aaron limpa a garganta e chama a atenção dela:

— Majorie... — a mulher chamada Majorie apenas dá de ombros e se retira.

— Marie, eu sinto muito...

— Não se preocupe — o interrompo. — Mulheres desse tipo costumam ser muito invejosas, e a necessidade de rebaixar os outros apenas para se sentir melhor é o ponto forte delas – falo e até eu me surpreendo com as palavras. A Marie de alguns meses atrás jamais diria isso. Aaron me oferece um sorriso de conforto, e somos interrompidos novamente, dessa vez por Natalee.

— Marie, você está gostando de Paris? — ela pergunta. Pelo menos estava sozinha. Eu afirmo e ela parece satisfeita. — Você vai voltar logo?

— Sim, talvez dia 3, apesar de estar pensando em ficar um pouco mais, sinto que não fiz tudo o que a França tem a me oferecer. — Natalee abre um sorriso concordando, como se soubesse exatamente do que estou falando.

— Você é bem-vinda para vir aqui quando quiser. Imagino que esteja ficando em um hotel, você deveria ficar aqui, vai gastar menos dinheiro, e é só por pouco tempo — ela fala e logo começo a negar.

— Agradeço muito, mas não precisa — falo sem-graça, Aaron estava inexpressivo encarando sua mãe, como se estivesse tentando entendê-la.

— Bobagem! São só alguns dias, a casa tem espaço de sobra — ela continua a insistir, e eu olho para Aaron novamente, tentando perguntar com um olhar o que eu deveria fazer, mas ele ainda estava observando a mãe de maneira desconfiada, ela, porém, não parece se intimidar. Por fim ele desvia o olhar. — Não é, filho? — Natalee pede reforço para ele, mas Aaron apenas dá de ombros, e me sinto desconfortável, ele evidentemente não me quer aqui.

— O convite é tentador, mas não quero atrapalhar, nem invadir a privacidade de vocês. O hotel está ótimo e o encontrei em um bom preço — respondo, e Aaron solta uma risada sarcástica, me deixando vermelha.

— Seu hotel é péssimo — ele me contradiz e fico irritada, apesar de ele estar certo. — São só alguns dias, Marie. Eu te ajudo a trazer suas malas amanhã — ele continua e Natalee estava me olhando com expectativa. Não queria parecer aproveitadora, mas acabo cedendo, pois sei que ela provavelmente não desistiria fácil. Seu sorriso se alarga e ela diz:

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora