O carro de Jonas abafa o som alto da música eletrônica que já estava me incomodando, e sinto meus ombros finalmente relaxarem. Eu sinto como se finalmente pudesse respirar. Ele se senta no banco do motorista, e passamos um tempo em silêncio.
— Marie, tem certeza de que ir para casa é a melhor ideia agora? – Jonas pergunta como se soubesse exatamente o que havia acontecido. Eu me viro a fim de ficar de frente para ele. – Se eu estivesse como você está, eu não iria querer ficar sozinho. – Ele coloca as duas mãos no volante, e de repente me sinto culpada de estar aqui com ele, eu deveria ter pedido um uber ou coisa do tipo, se Michael descobrir, ele certamente ficaria arrasado, ainda depois da discussão que tivemos. Jonas parece perceber a briga interna que está acontecendo em minha mente, porque ele simplesmente liga o carro. – Tudo bem então.
Talvez eu não gostasse mais de Michael como antes, mas ainda assim ele era encantador. Ele fazia muito por mim, tanto que às vezes eu me sentia envergonhada, nunca conseguiria pagar tudo que ele já me deu. Olho pela janela vendo as casas passarem em um borrão, e repasso em minha mente onde que eu errei para deixá-lo tão frustrado comigo. Ele me amava, por isso que ele me queria tanto. Quem não gosta de ser adorada e desejada? O erro foi meu por rejeitá-lo, muitas garotas matariam para ter o que eu tenho. Sinto Jonas me observar com o canto do olho, mas apenas o ignoro.
— Acho que foi um erro – digo. – Eu deveria ter ficado lá – continuo após minha reflexão.
— Não, Marie. Amanhã quando a poeira abaixar vocês conversam. Tenho certeza de que vai ser melhor. – Solto uma risada sarcástica e nervosa.
— Que aniversário incrível – murmuro. Jonas para no farol vermelho, e me observa por alguns segundos, mas eu evito olhá-lo nos olhos. Quando o farol abre, ele vira à direita, e esse não é o caminho para meu apartamento. – Jonas? – pergunto, mas ele não responde. Começo a ficar preocupada, óbvio que eu confiava em Jonas, mas todo mundo é bom até que se prove o contrário, certo? Ele para o carro na frente da minha sorveteria preferida, e por alguns segundos, a preocupação do meu relacionamento desaparece.
— Vamos. Acho que você merece isso pelo menos — ele fala o que me tira um pequeno sorriso. Ele tira o cinto, me incentivando a fazer o mesmo. Nunca gostei muito de doces, mas sorvete tinha meu coração, e eu nunca me cansaria.
Assim que entramos, o leve cheiro doce me faz relaxar um pouco, era com certeza melhor do que o cheiro de álcool e cigarro. O estabelecimento estava vazio devido ao horário, havia umas poucas mesas de poucos lugares, e um balcão com todas as opções e sabores diferentes. O garoto que estava no caixa estava pouco interessado, e seu celular tinha toda sua atenção. Jonas limpa a garganta para chamar a atenção quando nos aproximamos do balcão. O garoto levanta os olhos e solta um suspiro exagerado, eu troco um olhar com Jonas, e por algum motivo, seguro uma risada.
— Bem vindos, em que posso ajudar? – ele pergunta com as palavras arrastadas.
— Eu gostaria de... – Jonas começa a falar e olha para cima, para ver as opções. Ele coloca a mão no queixo como se estivesse pensando. – Um de frutas vermelhas e um Explosão de Oreo – ele pede sem me perguntar, e fico surpresa quando ele acerta em cheio meu sabor preferido. Talvez eu já tenha falado alguma vez, mas isso me deixa feliz, como se o que eu dissesse realmente importasse. O garoto revira os olhos e coloca o celular no bolso, o atendimento de manhã era bem melhor do que a da noite. Esperamos em silêncio até que o garoto nos entrega os dois copos e nos sentamos.
— Como sabia que eu gostava desse? – pergunto antes de colocar uma colherada de sorvete na boca. Jonas dá de ombros.
— Você já tinha me falado. Porque acha que sempre tem sorvete de Oreo no frízer? – ele pergunta e eu penso. Era verdade, sempre tinha, mas achei que fosse porque outra pessoa gostava e sempre comprava.
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Efeito Paris
Romance[FINALISTA DO WATTYS 2021] Marie está cansada de sua vida sem graça e rotineira, e no fundo, acha que sempre foi assim, desde pequena. Após completar 20 anos, a visita inesperada de um advogado muda a sua vida de um dia para o outro, fazendo com que...