12. Marie

662 75 93
                                    

Tenho uma breve conversa com William e marcamos um horário para conversarmos e repassar os documentos. Mantenho todo esse assunto de herança para mim, ainda era tudo muito surreal. Todos os acontecimentos se passam de maneira mecânica. Consigo assinar e entender toda a situação, escuto as recomendações do advogado, e tudo parecia estar indo bem, ao seu modo, claro. Eu estava de férias da faculdade, e só precisava aturar o trabalho. Uso meu tempo para pesquisar um pouco mais sobre meu pai, e descubro que ele estava morando em Paris, e namorando com uma mulher. Aproveito para escutar suas músicas, e depois de um tempo, até que comecei a gostar.

Colleen estava para viajar, e foi um dia antes de ela ir embora, que decidi mudar tudo em minha vida.

— Você tem certeza de que vai ficar bem? — minha amiga pergunta preocupada. Reviro os olhos novamente, ela havia me perguntado isso pelo menos umas cinco vezes. Estávamos na sala, comendo sorvete direto do pote, e Friends passava no fundo. Eu a encaro.

— Já falei que sim! Aproveite sua viagem ao Brasil, e me traga um presente — falo. — Vou arranjar algo para fazer. Minha mãe quer que eu conheça seu vigésimo namorado — minto. Eu absolutamente não iria passar o Natal com Caroline. Na situação atual e depois de todas as descobertas, sinto que não conseguiria olhar para ela sem gritar, ou chorar. Colleen assente e volta a assistir o seriado, mas sinto que nenhuma de nós duas estávamos realmente prestando atenção.

— Marie, como sua melhor amiga, preciso te dizer uma coisa — ela fala pegando o controle da TV, abaixando o volume e coloca o pote de seu sorvete de morango em cima da mesinha de centro. Arqueio as sobrancelhas surpresa, aparentemente era algo sério. — Você precisa se encontrar. Sinto que você viveu tanto tempo às sombras de Michael, que você não sabe quem você é. Ainda somos novas, temos que sair, fazer uma loucura, pular de paraquedas ou fazer um mochilão pela Asia. Eu me preocupo com você — minha amiga continua e segura minha mão, olhando com determinação em meus olhos. — Está na hora de se perguntar quem você quer ser. Não estou dizendo que você é infeliz, ou que sua personalidade é terrível. Você sabe que eu te amo, mas o que você quer? — ela pergunta dando ênfase na palavra "você". Mordo meu lábio inferior, não digo nada, porque não fazia ideia do que queria.

— Você está certa — digo me rendendo. — Preciso me descobrir — falo mais para mim do que para ela. Colleen estava certa, é claro. Sei disso porque eu estava me sentindo dessa forma a muito tempo.

— Me prometa que vai pensar. Quando eu chegar, quero uma resposta, e vou te ajudar a conquistar o que você quiser. — Afirmo com a cabeça e sorrio, a agradecendo em silêncio, ela não precisa de mais nada, ela sabe que eu captei a mensagem. Minha amiga aperta minha mão de leve, me oferecendo conforto, e então, voltamos à nossa maratona de Friends. O que eu queria fazer? Era uma ótima pergunta, mas uma coisa era certa: eu precisava de uma resposta.

No dia seguinte, faço um macarrão instantâneo e fico em frente a televisão, procurando qualquer coisa que me chamasse a atenção. Por algum motivo, paro em um canal que estava fazendo um documentário sobre Paris. O lugar parecia ser realmente bonito, com todos os seus restaurantes e pontos turísticos. Ir para Europa era uma das coisas que eu queria fazer, e tecnicamente, agora eu tinha dinheiro... Encaro a tela me perguntando se isso não teria sido um sinal. O que eu queria fazer? Nesse momento, queria ir para Paris. Abro um sorriso inconscientemente, estava me sentindo louca por ter sequer pensado nisso. Mas abro o meu computador, e procuro passagens com um bom preço. Começo a pesquisar em sites qualquer informação que pudesse vir a me ajudar.

— Espero não me arrepender depois — murmuro para mim mesma. Passo as próximas três horas pesquisando gastos e todas as coisas. Quando era meia-noite, aperto o botão de comprar passagem, e simples assim, em dois dias, eu estaria embarcando para ir para França, e pela primeira vez em um bom tempo, me sinto espontânea e animada.

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora