Efeito Paris

8. Marie

Ligo para Bob dizendo que não posso ir trabalhar. Estava sem condições de fazer qualquer coisa, tudo o que eu queria, era ir para casa e ficar na cama. Minhas lágrimas já haviam secado, e me sentia desidratada. Na verdade, eu estava triste. Eu gostava de Michael, e nosso relacionamento não era péssimo. Ele realmente cuidava de mim, e eu era feliz. No entanto, depois de muito analisar e pensar, percebi que havia algumas situações que me deixavam triste, frustrada, e até com medo. Eu havia me acostumado com essas coisas, e passei até a ignorá-las, mas isso já não estava me fazendo bem. Mas tudo isso não anulava o fato de eu estar triste por ter acabado com o que tivemos.

Pelo menos era sexta-feira, eu poderia passar o final de semana inteiro em casa, sem precisar sair ou fazer qualquer coisa. Escuto o barulho de chaves, e penso em fingir que estou dormindo, apesar de amar minha amiga, não sabia se estava em condições de falar com alguém agora.

— Marie? — ela me chama. Escuto os passos se aproximando, e fico feliz do quarto estar escuro. Ela fica um tempo na porta, como se soubesse que eu estava bem acordada. — Marie, eu sei que você está acordada. — Reviro os olhos e coloco o cobertor por cima de mim, soltando um grunhido. Minha amiga se aproxima se sentando na borda da minha cama. — O que aconteceu? Não foi trabalhar hoje?

— Eu não estava me sentindo bem — respondo e minha voz sai abafada por causa do cobertor. Colleen o puxa me deixando exposta.

— Você nunca falta no trabalho — ela diz. Eu observo seu semblante, estava escuro e eu conseguia ver parte de seu rosto por causa da luz que vinha do corredor. Eu abro a boca, mas a fecho novamente, eu deveria falar alguma coisa.

— Tudo bem. Eu terminei com Michael — finalmente respondo, mas escondo o resto da conversa e a ameaça. Não acho que Michael estava falando sério, mas agora, eu já não queria mais arriscar. Colleen solta uma espécie de risada forçada e esganada, mas ela para ao ver minha expressão.

— Ah. — Ela desvia o olhar. Minha amiga se levanta e bate palma. — Ok. Vamos. — Ela me oferece sua mão para que eu me levante.

— Colleen...

— Eu estou mandando. Vou ligar a banheira, você tem 5 minutos para se levantar — ela avisa e sei que não é bem uma opção. Colleen se retira do quarto, e olho para o teto, talvez no final isso tudo me faça bem. Fecho os olhos e solto um suspiro abafado, por fim, saio da cama.

Depois de tomar um banho quente, eu e Colleen estávamos sentadas no sofá tomando Vodca Smirnoff direto da garrafa. Apesar de eu não gostar muito de beber, decidi abrir uma exceção. Parte de mim já havia esquecido o que havia acontecido, às vezes o álcool podia ser bem conveniente. Foi uma longa sexta-feira, e eu estava acabada, mas a bebida conseguia disfarçar isso, o que era ótimo. Jonas e Colleen estavam certos afinal, e eu estava com medo de me encontrar com Michael, nunca percebi esse lado dele, e não gostei nada, estava tão acostumada com o cara que cuidava de mim, me dava presentes e me fazia surpresas, que nunca reparei no lado que me prendia e me manipulava.

— Você devia ficar com Jonas agora — Colleen fala e solto uma gargalhada. Eu pretendia ficar bem longe de relacionamentos por um bom tempo agora. Nego com a cabeça e tomo um gole da vodca.

— Eu não. Estou muito bem, obrigada — respondo. Minha amiga revira os olhos pegando a garrafa da minha mão.

— Por quê? Ele é gato, aparentemente se importa com você, só vejo vantagens. — Eu a encaro de maneira cética, e rio novamente. Talvez eu já estivesse bêbada o suficiente para rir de tudo, o que para mim era bem melhor do que chorar por um babaca. Ela também ri. — Qualquer um é melhor do que o idiota.