Efeito Paris

36. Marie

Aaron estava adormecido ao meu lado, e nossas pernas estavam entrelaçadas. O lençol e o cobertor estavam todos bagunçados, mas nada disso parecia importar. Sorrio quando me lembro dos acontecimentos da noite passada. Tinha que admitir, era um bom jeito de começar o ano. Tudo havia acontecido muito rápido, e pensar que eu teria que ir embora em breve, doía um pouco. Na verdade, doía bastante.

Tento me levantar com cuidado para não o acordar e pego o shorts que estava jogado em cima da mala. A camiseta branca de Aaron estava jogada no chão, e estava de mais fácil acesso do que a minha, por isso coloco sua camiseta e desço as escadas na esperança de ninguém estar lá embaixo. Eu não saberia dizer exatamente por que eu estava usando uma camiseta que não era minha, definitivamente seria bem vergonhoso. Mas o destino não estava ao meu favor, pois Natalee estava em pé na cozinha bebericando uma xícara, e antes que eu possa subir correndo fingindo que nada tinha acontecido, Natalee me olha e sorri.

Caminho devagar, até porque, eu estava realmente precisando de um copo de água.

— Bom-dia, Marie — ela me cumprimenta.

— Bom-dia — tento falar tranquilamente. Ela passa os olhos pelo meu corpo e parece notar a camiseta de Aaron, me sinto como se tivesse sido descoberta após cometer um crime. Natalee tenta esconder um sorriso de satisfação, e eu não sei bem o que isso significa. Quando seus olhos encontram os meus, sinto minhas bochechas corarem. Para disfarçar o momento, caminho até o escorredor de louças para pegar um copo.

— Feliz ano novo — ela diz.

— Obrigada, para você também — falo enquanto encho o copo com a água da torneira.

— Vocês se divertiram ontem? — ela pergunta e eu gelo. — Na festa — ela acrescenta e me sinto relaxar, era claro que ela estava falando da festa! Eu era tão idiota.

— Sim, foi incrível — respondo.

— Fico feliz que tenham se divertido — diz sorrindo. Ela se senta em uma das cadeiras na bancada e eu apoio as minhas costas na pia, sem saber como sair daquela situação. Natalee me analisa por um tempo e me sinto um pouco desconfortável. — Você deve estar com saudade da sua casa.

Eu não tinha nem pensado nisso. Estava me divertindo tanto em Paris e com Aaron, que nem havia parado para pensar em como as coisas estavam nos Estados Unidos. E eu não queria ir embora, principalmente depois do que aconteceu ontem.

— Sinceramente? Não estou — admito e ela acena a cabeça sutilmente em compreensão.

— Eu entendo, Paris é um lugar mágico. Mas você vai voltar em três dias, não vai? — ela pergunta. Hesito em responder, porque eu não queria voltar, e eu poderia escolher tranquilamente ficar por mais um tempo, mas não queria pedir para ficar mais em sua casa. Como se lesse a minha mente, acrescenta: — você sabe que pode ficar o tempo que quiser, né? Aaron parece gostar de você e tenho quase certeza de que ele se sente sozinho às vezes. — Desvio o olhar diante o comentário.

— Ah, não, eu não poderia...

— A escolha é sua, mas saiba que você pode ficar o tempo que quiser aqui — Natalee diz. — Depois que meu namorado faleceu, tenho tentado ocupar a minha cabeça com outras coisas, e acho que Aaron tem feito o mesmo.

— Sinto muito pela sua perda — falo.

— Obrigada. Acho que tivemos uma boa vida juntos, e isso que importa — ela agradece. — Devido as circunstâncias, você realmente deveria pensar sobre isso. Promete que vai pensar? — ela pede mudando de assunto e dou um sorriso sem-graça assentindo. Seu sorriso se alarga e somos interrompidas por Aaron que entra na cozinha.