54. Marie

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Então essa era a dor de ter um coração partido.

Não o amava, mas sabia que parte de mim estava apaixonada, existe uma grande diferença entre esses dois tipos de sentimentos. Não queria acreditar que o Aaron que conheci nesses últimos dois meses e meio, era o mesmo que acabou de me contar tantas mentiras. Sua família era complicada, e eu entendia isso, mas porque ele não podia simplesmente me contar a verdade? Essa era parcialmente a verdade, mas eu sentia que tinha mais coisas envolvidas.

Acho que eu estava até aliviada por ele não me incluir nas suas merdas. Talvez, só talvez, ele tenha feito isso porque se importava. Encosto minhas costas na porta, e deslizo, me sentando no chão, não tinha percebido que lágrimas estavam escorrendo pelas minhas bochechas.

Depois de alguns minutos, respiro fundo, passo as costas da mão em meu rosto para secar qualquer vestígio de lágrima e me levanto. Começo a jogar as roupas na mala de maneira furiosa, porque sinceramente, eu estava. Ele me fez acreditar que poderíamos ficar bem por mais alguns dias, mas não, ele só estava me usando.

Péssimo.

Horrível.

Espero que ele diga mais alguma coisa, qualquer coisa, mas ele não faz, como se tivesse decidido isso a muito tempo.

Aaron não bate na minha porta, ele não muda de ideia, não pede para eu ficar, não diz que foi um erro, e fico triste de tudo terminar assim.

Nunca achei que pudesse fazer uma mala tão rápido. Ela já estava praticamente pronta quando escuto Aaron falar:

— Marie, abre a porta. — Paro subitamente e mordo a ponta do dedo, como se estivesse ponderando o pedido. — Me deixe pelo menos pagar a sua passagem. — Ah! Mas ele só podia estar de brincadeira. Abro a porta de maneira brusca e até ele parece se assustar.

— Eu não quero nada de você agora, Aaron. — Vejo ele se retrair, como se tivesse sido atingido por algo. Ele olha por trás dos meus ombros e vê a mala cheia, por um momento, até acho que ele vai dizer algo, mas ele não faz, ele apenas solta um suspiro pesado. Não tiro meus olhos dos dele, e nem ele dos meus, nem mesmo quando ele cruza os braços e se encosta no batente da porta.

— Tudo bem — diz derrotado. — Você vai ficar mais na França?

— Eu não sei. Você não me deu tempo para pensar — falo de maneira ríspida, sem me importar em soar grosseira. Vejo seu maxilar contrair, ele parecia até culpado.

— Se você precisar de alguma coisa, me avisa — ele oferece e eu reviro os olhos, soltando o ar. Aaron até aparentava estar bravo comigo, o que era ridículo. De qualquer forma, não espero ele responder, apenas dou as costas e fecho a porta. Estava muito brava com ele para conversar sobre qualquer coisa.

Me sento na cama para respirar e pensar um pouco. Eu estava amando Paris, já havia conhecido lugares incríveis, e para ser sincera, estava sentindo falta de casa. Talvez realmente fosse hora de voltar. Não estava fazendo isso por Aaron, mas por mim. Depois de passar tanto tempo aqui, comecei a chegar a algumas conclusões importantes sobre o significado de família ou coisa do tipo, e chegou o momento de conversar com a minha mãe. Não importava o tempo que ficasse aqui, a única pessoa que poderia me contar como meu pai era, é a minha mãe e seus amigos. Não existe essa coisa de tentar reaproximar, não agora que ele já estava morto. A única coisa que eu podia fazer era tentar descobrir como ele era quando vivo.

Por esses e mais diversos outros motivos, decido que eu precisava voltar. A viagem tinha sido maravilhosa, fiz coisas que jamais imaginei que um dia faria, e, por mais que tivesse brava com ele, tinha que admitir que eu devia muita gratidão a Aaron. Ele me fez ver algumas coisas que eu não tinha visto ainda, ele me mudou para melhor, e eu conseguia ver isso.

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora