38. Aaron

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Estava tudo perfeito demais para ser verdade. É claro, estou bravo com a minha mãe por não ter me avisado que ele ia voltar, sinceramente, seria muito melhor se ele ficasse por lá por muito mais tempo. E agora ele moraria na mesma casa que Marie, o que não era nada bom. Não queria assustá-la, claro, mas não poderia mentir. De uma coisa eu sabia; se ele acha que vou deixá-lo falar com Marie, se dirigir a ela, tocar nela, ele está bem enganado.

O calor do corpo de Marie era de certa forma reconfortante. Eu não conseguia entender como minha mãe conseguia ignorar todas as coisas que Ryan fez. Tinha certeza de que em algumas semanas, Ryan estaria se envolvendo com mais gente errada e trazendo todas as suas merdas para dentro de casa de novo. Mas dessa vez era pior, porque Marie estava aqui, e não queria que ela visse todas essas coisas, ou visse o lado ruim de nossa família. Eu sentia uma necessidade enorme de protegê-la, e nem fazia tanto tempo que estávamos juntos. Um amor de férias e só isso, ao menos era o que eu queria acreditar.

— Quer falar sobre isso? — ela pergunta ainda com os braços ao redor de meu corpo.

— Na verdade não — respondo e ela concorda acenando com a cabeça.

— Tudo bem. Todo mundo tem problemas com a família, você sabe, né? É normal. — Solto uma risada que sai forçada e com um tom irônico.

— Alguns problemas não podem ser resolvidos, ainda mais quando não dependem de você. Já gastei minha cota tentando arrumar as coisas. Deixei para lá faz um bom tempo. — Marie dá de ombros e se afasta, se deitando e colocando a cabeça na mão, que estava com o cotovelo apoiado na cama.

— Tudo bem, eu passei a ignorar as coisas também, apesar de ninguém da minha família estar na prisão. — Um riso estranho sai da minha garganta.

— Chega até a ser cômico. — Me deito ao seu lado, imitando a sua posição para ficar de frente para ela. — Só não dê atenção para ele, ok? Ele não é uma pessoa boa, não quero que você faça parte disso. — Marie assente e eu levo minha mão até sua bochecha, ela fecha os olhos apreciando a sensação de meu toque, e um sorriso discreto toma meus lábios.

Eu não queria que as coisas saíssem do controle, mas eu estava ciente de que existiam coisas que não podemos controlar. Eu conhecia Marie a quase um mês, e estava bem claro que estava gostando dela cada dia mais. Durante esse pouco tempo que passamos juntos, percebi que Marie tinha mudado, ela quase nem parecia mais a garota que eu havia conhecido no avião. Ela estava um pouco mais confiante de si, e nossa intimidade estava sendo uma entrada para todas as coisas que estávamos fazendo ou criando.

— Por que não me contou que seu aniversário está chegando? — ela pergunta se levantando subitamente, como se tivesse acabado de se lembrar desse fato e informação. Reviro os olhos sorrindo e me jogo na cama, me deitando com as costas e encarando o teto. Marie solta uma risada e joga o travesseiro em cima de mim.

— Não é nada de mais — respondo na esperança de que ela deixaria isso de lado, no entanto, ela nega, ficando séria de repente. Marie volta a se deitar de bruços para poder me olhar atentamente.

— Eu nunca tive um aniversário legal de verdade. Algumas vezes minha mãe até esqueceu que sua filha estava ficando mais velha. Quando a gente é criança, o aniversário é o dia mais importante do ano, o dia que todos te parabenizam e te dão presentes. Não seria maravilhoso se sempre fosse assim? — fala. — Mas não acontecia comigo. E mesmo quando saí de casa, pouco mudou. Meu aniversário do ano passado foi ainda pior, então acho que preciso fazer com que o seu aniversário seja bom.

Sua expressão estava verdadeiramente séria. Apesar de isso não parecer a abalar muito, tenho quase certeza de que no fundo, isso a chateia. Às vezes querer fazer o que ela não conseguiu ter, era uma maneira de esquecer todos os aniversários frustrados que teve. Fazer o que? Coisas ruins acontecem com pessoas boas o tempo todo. Coloco uma mexa de seu cabelo atrás de sua orelha, e ela levanta as sobrancelhas, esperando uma resposta de mim.

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