42. Aaron

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A dor da agulha penetrando minha pele já não era mais tão desconhecida, e tento relaxar. Eu tinha quase certeza de que Marie iria decidir fazer uma tatuagem de última hora, mas não a incentivei e nem falei nada, ela tinha que tomar a decisão por si só. Ela não me mostrou o que iria fazer, e achei melhor assim, seria mais interessante se ela me mostrasse depois. A verdade era que estava mais ansioso para a reação de Marie quando fosse ver a minha.

Eu achava meio idiota fazer tatuagem para a namorada ou coisa do tipo, nós nem estávamos namorando para começo de conversa. Relacionamentos são instáveis e imprevisíveis, um dia você acorda, percebe que não gosta mais da pessoa, e a sua pele fica para sempre marcada com algo que poderia ter sido, apenas um lembrete da dor que foi ter passado por mais um relacionamento frustrado. Mas a tatuagem que eu estava fazendo, era bonita, e por mais que Marie tenha a inspirado, não era uma tatuagem para ela. Prefiro acreditar que era apenas para me lembrar dos dias que passamos juntos.

Marie já tinha terminado a sua tatuagem faz um tempo, ela parecia estar bem entretida em uma conversa com Katrina, e não quis interromper seu momento.

— Você gosta dela — Luke diz, e isso foi mais uma afirmação do que pergunta. Ele não tinha tirado os olhos do trabalho e eu realmente o achava um dos melhores tatuadores da região. Solto um suspiro derrotado, isso era uma resposta completa, mesmo não sendo palavras. Luke solta uma risada baixa. — Ela mora aqui? — Essa era a parte que mais doía.

— Não — repondo, e o tom de chateação era evidente. Luke arqueia as sobrancelhas e vira a cabeça para a esquerda, como se soubesse onde isso ia dar. Reviro os olhos diante suas ações. — Eu sei bem o que isso parece, mas... — Como eu iria explicar que simplesmente aconteceu? Era uma situação fodida, e nós dois sabíamos disso. Sentia como se ambos estivéssemos ignorando o inevitável.

— Mas não conseguiram evitar? — completa a minha linha de raciocínio.

— É, tipo isso — concordo. Luke não diz nada e volta a sua atenção completa para o desenho que estava se formando em meu braço. Arrisco um olhar para analisar o processo. Estava ficando ótima, talvez a melhor tatuagem que já havia feito.

Depois de mais algumas horas, a imagem estava completa. Estava tarde, e provavelmente não teríamos tempo para fazer mais nada, o que era decepcionante, achei que seria legal levar Marie para tomar sorvete ou coisa do tipo, mas ela não parecia incomodada. Luke coloca o plástico filme em volta de meu braço para proteger.

— Você sabe o resto — ele diz e concordo acenando com a cabeça. Marie volta sua atenção para mim quando me levanto, quase vejo o lampejo de um brilho em seus olhos.

— E então? Vai me mostrar o que fez? — pergunto abrindo um sorriso de lado. Marie estreita os olhos em minha direção, sorrindo com os lábios pressionados. Ela finalmente se levanta de sua cadeira e se aproxima devagar. Sem dizer nada, ela estende seu braço e vejo as palavras marcadas em sua pele. Vis ta vie. A frase estava escrita em uma linha fina, com letra cursiva, e ao lado havia o contorno de uma pequena Torre Eiffel. A tatuagem não devia ter mais do que 5 centímetros, mas eu conseguia ver perfeitamente o significado que aquele pequeno desenho tinha para ela. Quando olho em seus olhos, ela estava me observando atentamente, como se quisesse ver cada detalhe de minha reação. Sacudo a cabeça sorrindo, como se estivesse orgulhoso. — Tenho que dizer, estou impressionado. Ficou ótimo em você — falo me aproximando ainda mais e deposito um beijo leve no topo de sua cabeça.

— Ok, agora você — ela pede e eu assinto.

Viro de lado para dar a visão perfeita de meu braço. Marie analisa a tatuagem, sua feição estava inexpressiva, e fico preocupado dela não ter gostado, ou ter achado demais, o que era possível considerando o desenho. Por fim, noto quando um sorriso surge lentamente em seus lábios. Quase sinto um alívio. Era impressão minha ou ela estava prestes a chorar? Ela coloca as mãos na boca, em descrença, mas ainda sorrindo. Marie levanta a cabeça para me olhar e eu não faço nada além de subir meu ombro em um pequeno encolher.

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora