Efeito Paris

29. Aaron

A sensação de estar feliz por fazer alguém feliz era estranha. Não sentia isso havia um bom tempo, e eu provavelmente tinha desacostumado. Mas ver Marie sorrir parecia fazer tudo valer a pena. Sim, sabia que estava começando a desenvolver sentimentos por ela, isso era péssimo na percepção da minha razão, mas dessa vez, a razão e emoção não pareciam estar trabalhando em conjunto. Era um misto de sentimentos que estava confundindo cada parte de meu corpo.

Lanço alguns olhares sutis em sua direção, me pergunto se ela tem alguma ideia do quanto é bonita. Se Marie fosse um pouco mais segura de si, certamente se sentiria mais leve. Não demoramos muito para chegar em casa, e como de costume, ela parecia vazia. Além de fazer festas do chá com suas amigas irritantes, minha mãe costumava ir ao cassino, gastar o dinheiro que nós provavelmente não tínhamos.

A minha casa por fora era extremamente escura, e quando vazia de noite, parecia até abandonada. O que eu poderia dizer? Já estava cansado dela, dava uma sensação estranha...

— Qual a aventura de amanhã? — Marie pergunta assim que entramos dentro de casa. Abro um sorriso inconscientemente.

— Estou aberto a sugestões — respondo. — Iria dizer estátua da Liberdade de Paris, mas não tem graça para americanos. É uma réplica da de Nova York.

— Nunca fui para Nova York — ela diz me observando, arregalo os olhos de maneira surpresa.

— Você já foi para Paris, mas não para Nova York? — pergunto de maneira retórica, no entanto, ela nega com a cabeça, confirmando novamente. — Ok, garota inédita. Hora de conhecer a Estátua da Liberdade — falo abrindo um sorriso discreto. Marie curva o canto de sua boca em um meio sorriso, de maneira satisfeita. Eu com certeza iria tornar essa viagem inesquecível para ela, era prioridade na minha mais nova bucket list.

Decido levá-la para dar uma volta no Rio Senna também. Seria uma ótima oportunidade para conhecer outro ponto turístico, por mais romântico que o passeio fosse parecer, minha escolha não foi intencional. Estava pisando em um território arriscado. Estava obviamente gostando dela e isso não traria benefício para nenhum de nós dois, mas agora já estava acontecendo, o que eu iria fazer? Ignorá-la? Expulsá-la de casa e fingir que ela não existe? Nenhuma das opções eram viáveis, e havia prometido a mim mesmo que a ajudaria, e era exatamente isso que iria fazer, até porque, sou um homem de palavra.

— Parece uma ótima ideia — Marie fala sorrindo. — Vou subir e tomar um banho – avisa e eu concordo. Quando Marie sobe as escadas, um suspiro baixo escapa de minha boca.

Sinceramente, era estranho me sentir assim. Seria clichê dizer que Marie era especial, não fazia nem ideia de onde esses sentimentos surgiram, mas uma coisa era certa: Marie era uma garota extremamente interessante. Talvez eu estivesse carente, era uma possibilidade, sentia falta de Katherine, apesar das duas serem extremos opostos. Mas poderia ser uma desculpa razoável, qualquer coisa que nos faça dormir tranquilos a noite.

Depois de tomar um banho, desço novamente para a cozinha. Marie estava sentada em um dos bancos na bancada, mexendo em seu celular. A observo por alguns segundos e noto que ela parecia aflita. Marie estava com o celular na mão esquerda, mas estava mordendo as unhas da mão direita. Tenho vontade de perguntar o que poderia estar a afligindo, mas acho que seria indelicado.

Com o pouco tempo que passamos juntos, passei a conhecê-la melhor. Descobri sobre sua faculdade, sobre sua amiga Colleen, sobre o emprego que ela detestava, entre outras coisas. Eu não conseguia entender como ela levava uma vida da qual nem mesmo gostava. Onde estava o fogo da emoção? A excitação de acordar preparada para possíveis acontecimentos marcantes que fariam para sempre parte de sua vida? Qual a graça de viver se não tem motivos para despertar animado para mais uma aventura que era a vida? Mas agora ela estava em Paris, riscando tópicos de sua bucket list, isso sim era emoção, e ela tinha consciência disso.