55. Marie

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Estou na frente da casa da minha mãe. As malas estão do meu lado e é a primeira coisa que ela bate os olhos quando atende a porta. Não quis passar em casa antes, eu apenas queria entender mais sobre o porquê das mentiras que cresci acreditando que eram verdades. Ela sorri ao me ver, apesar dos apesares, e eu abro um sorriso forçado também. Podíamos não ter a melhor relação de mãe e filha do mundo, mas ainda assim, sabia que era melhor do que outras.

— Olá, mãe — digo. Eu raramente a chamava de mãe, e ela se surpreende.

— Olá, Marie — responde. Ela se afasta dando espaço para que eu entre.

Fazia um tempo que eu não vinha, e a casa continuava igual, extremamente bagunçada. A sala com o sofá marrom, cheia de CD's, DVD's espalhados, o aparelho de som, alguns livros, tudo estava igual. Deixo as malas perto da porta, e ela me convida para ir até a cozinha. Não conversamos muito enquanto ela faz o chá que me ofereceu, ela não me pergunta sobre as malas, não me pergunta sobre o fim do ano com Colleen, ela não diz nada.

Me sento na cadeira da mesa da cozinha, e a chaleira começa a apitar quando ela me lança um olhar sutil com o canto dos olhos.

— Você não deveria estar na escola? Se continuar faltando assim nunca vai ser uma boa enfermeira — ela começa a dizer e me pergunto porque achei que as coisas seriam diferentes dessa vez.

— Não tenho aula hoje — respondo, o que tecnicamente era verdade. Ela olha para o corredor, onde as malas estavam perfeitamente posicionadas. Minha mãe coloca a água quente na caneca e coloca o saquinho do chá.

— Você vai ficar aqui? — pergunta e nego com a cabeça. Caroline desliza a caneca quente pela mesa e a coloca na minha frente.

— Estou aqui para conversar — falo. — Fiz umas descobertas interessantes, mãe — continuo. Ela me olha de forma inexpressiva, com um tom de superioridade. Ela cruza os braços e se senta na cadeira à minha frente, sempre com aquele olhar de julgamento.

— Continua comprando roupas em lojas de departamento? Você bem que podia pegar umas dicas com sua amiga — ela diz e reviro os olhos.

— Sinceramente, mãe...

— Só quero te ajudar — fala.

— Estou cansada de mentiras — digo simplesmente, e ela finalmente parece se surpreender, mas ela tenta manter a pose e se recosta na cadeira.

— Do que está falando?

— Corta o ato, Caroline — a interrompo. — Conheci William Russel — digo e vejo ela engolir em seco, um pequeno sorriso surge no canto da minha boca, em satisfação. — Imagina a minha surpresa quando ele falou que meu pai era John Relsey. Melhor ainda, imagina minha surpresa quando ele falou que ele morreu, ou ainda, que ele pagava minha faculdade e praticamente tudo da minha vida. Claro, não fazia sentido, já que sempre estávamos com dificuldade para pagar as coisas aqui em casa, então ele me contou algumas coisas...difíceis de acreditar. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, vou te dar a chance de me contar tudo — falo e tomo um gole do chá, como se não tivesse acabado de despejar uma avalanche em cima dela.

Minha mãe não diz nada por longos minutos, como se estivesse se perguntando até onde eu sabia. Ela apoia os braços na mesa e brinca com o anel em seu dedo. Quando ela volta sua atenção para mim, ainda estou a encarando seriamente.

— Você não pode acreditar em qualquer pessoa que aparece na sua casa. — Tento não me surpreender com a mentira descarada que ela conta.

— Eu tenho grandes motivos para acreditar que o que ele falou é verdade, vai me contar a verdade ou tenho que te contar tudo o que sei? Como o fato de que ele nunca nos abandonou de verdade? Ou o fato de você ter nos privado de ter qualquer relacionamento de pai e filha? — falo começando a perder a paciência. Mas eu não podia, tinha que manter a calma, então me forço a respirar fundo.

Efeito ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora