Edward
Estava tão claro que até meus olhos não conseguiam abrir, tentei me mexer mas era como se meu corpo pesasse muito mais que o normal, a cabeça latejava e a única coisa que consegui fazer foi pegar a garrafa de agua no criado mudo para beber, a boca estava tão seca que não havia saliva para engolir.
Puxei o ar e senti que o cheiro do travesseiro não era o meu, era doce e suave como se eu estivesse deitado em um jardim de flores, abri um pouco os olhos novamente e vi a porta da sacada aberta e uma cortina branca transparente voava quando a brisa entrava, sabia que não era o meu quarto, mas ainda assim me sentia em paz, olhei para o lado contrario da luz e no outro lado da cama, no outro criado o porta retrato reluzia um sorriso doce e feliz, não era sempre que ela o mantinha no rosto, mas ver ela assim tão cheia de vida mesmo em uma foto me deu esperança, estar no apartamento dela me fez sentir estar perto dela.
Fechei os olhos achando que isso me faria acordar do pesadelo que estava sendo os últimos dias sem ela, a paz de espirito evaporou rapidamente e senti o colchão afundar lentamente ao meu lado. Assustado abri rapidamente os olhos e vi minha mãe, ela colocou sua mão sobre mim e começou a fazer um carinho consolador, obviamente Daniel havia me deixado ali na noite passada e eu nem preciso imaginar pra chegar a conclusão que cheguei até ali sozinho.
—Ela faz falta né?
—Sabe mãe, eu fiz planos pra mim, planos pra minha vida, e eu tentei achar um lugar pra encaixar Jane neles, e com base nas minhas ultimas decisões acabei que não deixei nenhum espaço pra ela, eu tentei depositar toda minha felicidade em Anne e na empresa mas ainda não senti que era suficiente... Jane até riu da minha cara, disse que queria ver quando eu acordasse e percebesse que das burradas que fiz que a única certeza da minha vida era gostar dela, eu debochei daquilo na hora, mas mesmo que em silêncio ignorei que poderia ser verdade, por que achei capaz de dominar meus sentimentos e esquecer ela, minha vida estava totalmente uma merda sem ela e eu achei que sorrir seria o suficiente, mas não é...
—Eu sei disso filho, e eu acho que ela tem razão...
—Posso ficar mais um pouco sozinho? Já que estou aqui vou tentar pensar em um jeito de achar ela, daqui uma hora Anne vem e eu não quero que ela me veja aqui...
—Claro, mas não demore muito para perceber a verdade que está embaixo do seu nariz.
Ela saiu e me deixou ali ainda pensativo.
Passei o braço por debaixo do travesseiro em busca de conforto mas senti a capa dura de um caderno, o peguei de debaixo da fronha e vi as iniciais de Jane gravadas no canto da capa. Senti que ler seria uma invasão de privacidade mas talvez ele me ajudaria a chegar até Jane, então folhei até a ultima data escrita e por coincidência foi o dia do seu desaparecimento.
Então... hoje é dia 05 de fevereiro e eu não consigo nem dizer bom dia, acho que não é um bom dia do mesmo...
Sabe quando a gente perde a força? Quando levantar se torna um esforço intenso, só de pensar na possibilidade de sair de casa me irrita, queria voltar a uns dias atrás e poder acordar apenas feliz. Explicar o que eu sinto é como tentar explicar cores para quem não as enxerga....
Sinto medo de me perder nessa sombra escura que me cerca, nessas conversas sobre mim, sobre quem eu sou...
Nunca fui legal o suficiente
Nunca amável o suficiente
Nunca fui linda o suficiente
Nunca fui sincera o suficiente
Nunca fui o suficiente pra ninguém... Eu me diminui apenas para caber na história de alguém que não me cede um espaço em sua vida... A falta de reciprocidade cansa...
Eu por um instante pensei que não amava sozinha e quando percebi me obriguei a desistir da gente...
Eu sou forte, não sou fraca, não sou ingênua, sou Jane, sou humana, faço merdas o tempo todo e sempre defendo e protejo aqueles que eu amo, e por ser assim eu me afundei...
Por Kathe me afundei,
Por Edward me afundei,
Por Christian me afundei,
Não houve um momento que pensei que poderia ter paz...
Quando eu vi Kathe morrer eu senti medo de morrer também, todos os dias eu senti meu coração apertar e tive medo de nunca mais poder ver meu pais... Eu guardei os segredos de Kathe a sete chaves, sua carta pra mim era simples, sincera e direta...
O motivo não era eu, mas ela tinha que usar essa imensa desculpa pra esconder a gravidez que aconteceu, ela usou essa desculpa pra esconder o sofrimento que tinha em casa com o descaso de seus pais, não foi a toa que não me culparam como os outros, eles sabiam que os culpados.. O maior culpado foi o cara que a deixou depois de descobrir a gravidez, Kathe se tornou tão vulnerável que era difícil chegar até ela, mas quando eu cheguei era tarde demais, a única coisa que me motiva a aceitar levar as culpas é que ela disse que me amava e me conhecia o suficiente pra saber que eu aguentaria, mas que se alguma vez isso poderia fazer com que minha vida desmoronasse de vez eu poderia expor sua carta...
Mas Kathe não sabia que fazer isso não iria mudar nada, por isso to aqui aguentando firme, por mim e por ela.
Alguns dias eram escuros e outros tão luminosos e hoje quando abri os olhos só vi escuridão...
Eu me vejo em uma estrada e no fim dela vejo um muro, e ao invés de parar eu acelero e me sinto cada vez mais perto do fim.
Eu só queria ouvir hoje um eu te amo e um chega de idiotice é você que quero... Mas hoje percebo que é egoísmo pensar assim, acho que saber que ele vai tentar ser feliz mesmo sem mim é reconfortante.
Eu tentei acreditar que poderia ser feliz também, mas a única coisa que vi nas pessoas é que havia um único critério na minha vida, ele estava bem longe de ser um conto de fadas, minha vida é um conto de falhas, e eu estou cansada disso.
O medo de partir?
Ele me deixou a poucos dias... e o que sobrou em minha escuridão foi uma pequena parte colorida, um pouco dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A garota que você magoou
RomanceEm um mundo de aparências e pessoas complicadas é difícil aceitar o amor que acontece naturalmente. Ela era linda e eu era cego demais pra perceber, mas espero que não seja tarde pra dizer que me apaixonei.