Capítulo 5

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Desfrutem <3

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Herrera que se sentia cada vez mais aficionado por sua aluna, mesmo tendo em sua mente que ela não iria querer nada com um homem desta idade, não resistiu em perguntar para os demais professores sobre ela:

- Vocês conhecem a senhorita Portilla? – Perguntou ele aproveitando que o assunto estava voltado aos alunos.

- Anahí. – Disse um professor que já lecionava na faculdade há muitos anos, era um senhor carrancudo que apesar da face amedrontadora tinha um senso de humor como nenhum outro. – É uma aluna brilhante, apesar de ser da física estuda tudo que pode e aproveita todos os recursos da faculdade. Deixe-me adivinhar, está na sua turma, não? – Voltou-se para Herrera que assentiu. – É uma moça bonita, pena que tão estranha. – Disse com pesar.

- Estranha?

- Raramente ouvi o som de sua voz, sempre quieta. Quando tem de fazer alguma apresentação de trabalho para a turma percebo que fica tão incomodada que parece que irá implodir. – Respondeu francamente. – É extremamente introvertida, mas brilhante. Não duvido que em alguns anos seja uma das melhores profissionais em sua área.

Herrera sorriu assentindo, durante as poucas semanas que deu aula para ela, pode perceber o quão brilhante era a menina, suas poucas perguntas foram sagazes e parecia que ela sempre estudava muito mais do que lhe era pedido.

- Ela está em minha turma de deficientes de fala e auditivos. Faz uma ótima leitura de lábios e gesticula sinais. – Respondeu Herrera.

O senhor pareceu espantado por alguns segundos e então processando a informação pareceu que tudo fazia sentido e sua expressão suavizou.

- Surda? – Perguntou.

- Prefiro deficiente auditiva. – Respondeu educado ao homem mais velho que lhe perguntava.

- Oh sim, desculpe a indelicadeza. – Retrucou. – Isso faria muito sentido, explicaria por que vive em seu próprio mundo. Ela não é o tipo de pessoa que se abre, ainda mais quando se fala de sua vida pessoal, não me admiraria se nenhum outro professor soubesse disto, esta menina se sai muito bem. – Respondeu parecendo ainda mais orgulhoso.

Ele então foi tirado de seu devaneio pela voz da dona daqueles olhos azuis e trazido de volta a realidade. Será que ela sabia o quanto sua voz era linda?

- Oi senhor Herrera. – Ela sorriu ainda de pé vendo ele sentado, provavelmente esperando que seu almoço chegasse, era um dia bonito de sol, deveria ser por isto que estava nas cadeiras da rua. – Não necessita gesticular com as mãos.

- Oh sim, desculpe. – Respondeu constrangido. – Gostaria de unir-se a mim para o almoço? Tenho estado sozinho desde que vim para cá lecionar, poderíamos conversar um pouco, o que acha?

Anahí ficou um pouco hesitante em aceitar, e não por causa de quem lhe convidara, porém quando começou a fazer suas contas mentalmente lembrou-se que um almoço naquele restaurante equivaleria a pelo menos três dias de refeições – almoço e janta – no restaurante universitário. Porém, que mal faria? Um dia de luxo não seria um crime, então assentiu e sentou a cadeira a sua frente com um pequeno sorriso tímido nos lábios.

- Há quanto tempo faz faculdade?

Ele se preocupava que ela sempre estivesse olhando para ele quando falasse, e Anahí por outro lado não conseguia tirar seus olhos dos lábios dele, de sua face, tudo nele a encantava. Por poucos segundos desviou o olhar procurando uma aliança nos dedos e não achou, nem se quer uma marca de retirada recente, aquele dedo nunca havia visto uma aliança ou havia sido tirada há muito tempo. Afastou os pensamentos da cabeça, o que ele um homem formado e com uma ótima carreira veria em uma garota universitária como ela?

- Há mais tempo que os demais. – Respondeu sem pensar em como começar a calcular quantidade de tempo que estava ali. – Porém me formo ao final deste ano. – Falou sem comemorar muito.

- Não parece feliz com isso.

- Gosto de estar aqui dentro, das pesquisas, dos estudos. – Respondeu. – Depois não sei exatamente o que acontecerá. Estou esperando para ver o que a vida me reserva. – Lhe respondeu com um meio sorriso.

Anahí virando rosto, avistou um casal, um casal que conhecia bem. Deu um leve sorriso vendo-os. Poderia ser algo extremamente infantil, porém para Anahí a cética que não se divertia e não tinha uma vida social, aquele era um dos seus pequenos momentos de prazer. O casal de namorados conversavam coisas impróprias entre sussurros e às vezes brigas veladas, nunca sabia o que viria. Lendo os lábios, ela pôs-se a soltar um sorriso mais amplo e uma risada contida, quando se virou de volta para seu acompanhante naquele almoço suas bochechas rosaram instantaneamente.

- Desculpe. – Ela disse voltando a comer.

- Você consegue ler lábios a esta distância? – Perguntou abismado.

- Sim. E você, como aprendeu sinais? Seus movimentos com as mãos são quase perfeitos.

- Minha mãe não concorda. – Herrera falou rindo. – Ela é deficiente auditiva, e sempre fala que minhas mãos estão enferrujadas. – Fora engraçado para Anahí, pois ela sempre usava esse termo com ela própria. – E aprendi a ler lábios quando quase perdi minha audição, mas a cirurgia corretora fora ótima. – Respondeu sem muito entusiasmo com medo de ofender a morena.

- Isto é ótimo. – Foi a única coisa que Anahí conseguiu dizer, ele a deixava completamente sem palavras.

- E então, o que havia de tão interessante na conversa daquele casal? – Herrera perguntou curioso, já terminando sua comida.

- As conversas daquele casal são sempre interessantes. – Fora o que se limitou a responder, não queria dizer o que aquele homem havia dito para sua namorada era tudo o que ela desejava fazer com ele exatamente naquele momento. Deixando o calor que subira pelo seu corpo se esvair aos poucos, completou. – Tenho de ir agora. Muito obrigada pela companhia. – Levantou-se para ir pagar a conta ao fim do almoço.

- Não, deixe que eu pago, eu lhe convidei não? – Disse com um gesto cavalheiro. – Você gostaria de almoçar comigo outras vezes? Tenho almoçado sem companhia desde que cheguei e a sua me parece muito agradável.

- Desculpe senhor Herrera...

- Por favor, me chame somente de Herrera, ou Alfonso que é meu primeiro nome, se preferir. – Ele interrompeu.

- Alfonso – ela corrigiu e continuou –, mas não posso. Não conseguiria me manter uma semana comendo neste restaurante, me sustento sozinha e almoço sempre no restaurante universitário, também não admitiria que pagasse meu almoço por todas as vezes que viesse.

Good Morning ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora