Anahí se sentia cada vez mais atraída por seu professor. Aqueles olhos verdes mandavam em seus pensamentos e em seus sonhos. Já fazia três semanas que almoçavam juntos todos os dias, e quando ele pediu para que ela lhe mostrasse a cidade no fim de semana que sucedia tentou achar todas as desculpas para recusar o convite foram esmagadas pelas respostas diretas de Herrera. Ele, no entanto, se encontrava da mesma maneira em relação a Anahí, aquela loira sabia mexer com ele como ninguém, nunca havia sentindo-se assim antes.
Olhou na volta sobre o quarto de hotel, viu sobre uma das mesas um porta-retratos, lá estava sua querida família: Dulce, Christopher, Nicolas, Christian e Sofia. Pegou o objeto na mão, sorrindo. Logo ligaria para eles, tinha saudades. Talvez fosse passar em Las Vegas o próximo fim de semana, havia pensado neste, mas desistiu assim que conseguiu convencer Anahí a sair com ele.
- Oi. – Anahí disse sentando-se a mesa com ele, já era rotina almoçar com Herrera, ainda que não fosse dia dele lecionar.
- Boa tarde. – Ele lhe mostrou um amplo sorriso.
Ambos começaram a almoçar e Herrera lhe olhava de um modo estranho, como se quisesse lhe perguntar algo e estivesse com receio.
- Há algo errado? – Ela fitou sua expressão nervosa.
- Não. – Ele suspirou contido. – Eu queria lhe fazer uma pergunta, mas não queria ser indelicado.
- Pode fazer. Nada que vier de você poderá me ofender, ou será indelicado. – Ela falou com um ar divertido, o sorriso travesso nos lábios deixando o garfo brincar com a comida enquanto esperava a pergunta.
- Como foi que você perdeu a sua audição?
Anahí o fitou com uma expressão séria, logo sentiu que a comida do almoço ficara trancada em sua garganta, e engasgada começou a tossir como louca. Já sem ar, Herrera teve de se levantar e dar algumas palmadas em suas costas fazendo com que a comida descesse finalmente. Com os olhos cheios de lágrimas pela falta de ar, ainda incrédula pela pergunta, tentava processar o que Herrera havia lhe perguntado. Por que ele pensava que ela era surda?
- Você está bem? – Herrera perguntou atordoado, visivelmente preocupado. Anahí assentiu enquanto ainda tentava retomar o fôlego.
- Como? Herrera eu...
Neste momento para interrompê-la, Tasha chegou colocando a mão no seu ombro. Anahí tomou um grande susto e virou-se para a amiga.
-Any está tudo bem? Eu vi de longe o que aconteceu.
- Eu... Eu estou bem sim. Eu acho. – Respirou profundamente.
Tasha não ficou ali por muito mais tempo, apenas disse que queria conversar com a amiga a noite e que iria ao seu apartamento, assim que a moça terminou de falar, despediu-se de Anahí e em seguida do professor Herrera, deixando-os a sós para continuarem conversando sem sua interferência. Logo que viu a amiga sair, Anahí sentou-se novamente de frente a Herrera.
- Se importa se eu me retirar? – Anahí perguntou totalmente sem graça. – Eu perdi a fome.
Herrera pareceu hesitar, como se fosse dizer algo, mas por fim ele assentiu com a cabeça e viu a morena sair apressada. Quando ela se ergueu para ir embora, pensou em chama-la, mas ela estava de costas, com certeza não responderia.
...
Socou o tampo do armário da sala raivoso, Herrera nunca havia se sentido assim. Como pudera ser tão indelicado? Ele já esteve a ponto de perder a audição e sabia o quanto isso era preocupante, o quanto isso poderia ferir, como fora tão insensível de tocar em uma ferida aberta? Com certeza Anahí não gostaria de falar sobre sua audição, de como a perdera. Poderia ter sido algo ruim, algo muito pior que perder somente a audição, poderia ter sido algum acidente e perdido os pais juntos, ela jamais falara deles.
- Idiota. – Resmungou recriminando a si mesmo.
- Pode fazer. Nada que vier de você poderá me ofender, ou será indelicado.
Ele recordou-se do que Anahí lhe havia dito, claro que ela tinha sido gentil em estimulá-lo a perguntar, porém, provavelmente, nunca havia pensado que perguntaria algo tão pessoal, algo que realmente pudesse machuca-la.
Não existiria nenhum jeito de pedir perdão a ela que fosse suficiente para que fosse desculpado. Sentia-se péssimo.
Anahí havia chego em seu apartamento, e não parava de pensar. Por que diabos Herrera achava que ela era surda? Sentou-se em seu sofá e começou a ligar os pontos. Obvio que participar de uma turma para surdos era um ponto muito grande para pensar nisto, mas ainda sim ela agia normal, mesmo usando sinais e sabendo ler lábios ela nunca fez nenhuma menção que não ouvia. Lembrou-se então de Herrera, de como ela tratava, de como ele só falava quando ela olhava para ele.
"Ele acha que leio lábios". Pensou consigo mesma. Não que não lesse, mas não precisava disso para entender o que era dito.
- Como vou contar a ele? – Perguntou-se.
Ela não havia mentido, não havia dito nada, ele havia pressuposto tudo, mas de alguma maneira ela se sentia culpada por isso. E outra pergunta surgiu em sua mente: Como será que ele reagiria diante da verdade? Isso a perturbou quase que por uma noite inteira, neste momento preferia ter ido trabalhar a estar de folga em casa sozinha com seus pensamentos. Depois de pensar um pouco havia decidido que contaria tudo quando saíssem no fim de semana. Com esta certeza na cabeça ela fora descansar. Precisava de um banho e um bom descanso.
O fim de semana logo chegaria, até lá continuariam a almoçar juntos e ela levaria tal mentira, não queria conversar sobre isso no campus, queria falar isso diretamente com ele. Recordou-se então de Tasha, ela poderia lhe ajudar a pensar em uma maneira de contar tudo no encontro, a sair dessa enrascada.
- E então como está sendo sair com aquele professor gato? Está certo que é um pouco coroa, mas igualmente ele é lindo, amiga. – Ela sorriu já se jogando no sofá. – Tirou a sorte grande menina.
- Talvez nem tanto. – Respondeu a morena desanimada.
- O que houve?
- Ele acha que sou surda. – Jogou tudo para fora. – Eu não sei como ele começou a acreditar nisto, mas... Eu estou maluca tentando desfazer essa mentira.
- Quer uma pequena lista? – Tasha perguntou óbvia. – Então vamos lá, você sabe ler lábios, tem um estranho habito de ficar lendo a conversa dos outros com os olhos, principalmente daquele casal lá, você sabe sinais, você não consegue nem ao menos controlar a altura da sua voz. Ou você esqueceu que de um momento para outro você para de conversar e começa a gritar? E por último e não menos importante, você está em uma turma de surdos e mudos. E quer uma dica? Somente conte a verdade. Você não mentiu e não enganou, mas não se deixe enrolar por essa história. – Disse como se fosse a coisa mais simples do mundo.
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Good Morning ✖ AyA {finalizada}
FanfictionAlfonso Herrera é supervisor do turno da noite do laboratório de criminal de Las Vegas, e é convidado para dar um semestre de aulas sobre entomologia forense - no que ele é especialista - na faculdade de São Francisco. Filho de mãe surda e já quase...