A R I E L A
Tudo melhora com o tempo.
Não acreditava quando na primeira consulta isso me foi dito, mas sim, tudo melhora com o tempo se você não deixar a dor te sucumbir.
Presenciei muitas coisas nos meus vinte e sete anos, coisas boas e muitas ruins também. Porém posso assumir que passei o pior momento da minha vida e queria muito deixar a dor me levar, sem me importar com nada, mas sei que não resolveria.
Passei a ter o sonho de ser mãe, uma vontade que era inexistente e estava tranquila com isso até perder tudo. Deixar meu bebê ir e passar seu luto trouxe um outro lado meu. Veio a tona a Ariela frágil, sem muros, que expõe o que estava sentindo sem medo de ser julgada por isso.
Conseguir me reerguer aos poucos, ter apoio do meu lado foi essencial e só assim consegui também dar apoio pra Anthony quando ele desabou. Me doeu ver o quanto ele se segurou, o quanto se prendeu dentro de si para que eu pudesse sofrer até ele não aguentar mais e nesse momento eu engoli tudo e fiquei ali o vendo desesperado, gritando aos quatro ventos que doia, que queria entender, que queria acreditar que isso passaria.
Não passou porém se amenizou, hoje consigo viver com tudo que aconteceu, mesmo as vezes sonhando com isso, mesmo ainda doendo. Mas a mesma se tornou mais amena, isso ajudou e acho que ela permanecerá aqui pra sempre mas não com sofrimento, não com tristeza, mas com saudade.
- Oi meu amor. - Sussurro apertando Gael em meus braços.
Meu rapazinho está crescendo, quase um mês que não o vi no meio de toda a loucura de investigação e depois ainda teve toda minha fase de negação. Fiquei com medo de rejeita-lo mas sei seu sorriso banguela aqueceu meu coração despedaçado.
- Podemos bater perna no shopping e aproveitamos para comer como fazíamos quando éramos mais nova, o que acha?
Consigo sorrir para Nora lembrando de quando éramos adolescentes, nossos pais nos deixava literalmente bater perna por todo canto do shopping e depois nós acabavamos em alguma lanchonete juntos, no final nossos pais chegavam com sorrisos gigantes e entendiamos que eles nos deixavam ter nossos momentos e eles tinham os deles.
- Vamos. - Ela abre um sorrisão emocionada mas disfarça ajeitando Gael na cadeirinha.
Tenho consciência que pra minha família deve ter sido difícil por não os deixar se aproximar tanto por um tempo, mas eles insistiam, se mantinham sempre ali por perto, nos visitando mas ao mesmo tempo nos dando espaço.
Passar um tempo com Nora me deixou pensativa, me fez relembrar o passado, me fez sorrir feliz pela família que tenho, a família que eu sempre estive ali pra apoiar e brigar quando preciso e percebi que eles também estavam ali por mim, que eu era a durona do grupo, mas se desabasse alguém tomaria o posto de durona em meu lugar e todos nos reergueriamos.
Balanço de leve o carrinho com uma mão enquanto a caçula está experimentando alguma coisa. Meus olhos focam num conjunto azul escuro sexy no manequim. Sua parte superior possui fitas acopladas que percorrem a cintura, com muitas partes transparentes assim como a calcinha e uma cinta liga prendendo todo o jogo de tecido.
Até hoje esse meu lado estava meio adormecido, sim, eu senti tesão, nas últimas semanas principalmente, mas eu e Anthony mal nos tocamos sexualmente dizendo. Por incrível que parece agora olhando esse conjunto penso em comprar e usar pra ele mas logo dissipo esse pensamento com receio dele não querer, não sei o que se passa na sua mente nesse quesito, não tivemos oportunidade para conversar sobre. Mas assumo que saber que alguém o convidou para sair hoje mexeu um pouco comigo, ele pode sim estar cansado disso, afinal passamos por muita coisa. Suspiro triste com essa idéia ridícula que se apossou na minha mente.
- Tudo bem? - Dou um pulo vendo Nora do meu lado me analisando e dando um sorriso esquisito.
- Tudo, vamos?
- Vai fazendo nossos pedidos que vou pagar isso. - Indica a bolsa cheia de lingeries e camisolas, eu nego com a cabeça. - Que foi? Tive filho a pouco tempo, preciso renovar meu estoque.
Essa daí gosta de uma compra.
Cansada sigo já pedindo nossos lanches e Gael como estava de barriga cheia por ter mamado antes de adormecer estava tranquilão no seu sono enquanto eu comia, mas foi só a mãe chegar perto que o carinha acorda, até prendi o riso.
- Ele sente o cheiro do leite em mim, só pode, é sempre assim. - Reclama com um bico enorme mas o pega enquanto come umas batatas até conseguir o deixar entretido com algum brinquedo.
- Não fala assim do meu sobrinho.
- Você vai mimar muito esse garoto. - Fala indignada.
- Claro que vou. Vi um conjunto vindo pra cá imitando roupa social, já imagino ele usando. - Falo sorrindo abertamente, coisa que não tenho feito muito.
- Coitada de você quando ele brigar conosco e correr para os braços da tia que dá tudo. - Agora gargalho e vejo a expressão surpresa de Nora mas relevo.
- Lembra que eu ainda sou Ariela Mendes Petterson, ele que não me apronte. - Minha irmã me olha feliz mas me viro pra Gael que está me encarando. - É você mesmo que estou falando rapaz, nem pense em fazer besteira se não conto pra todas suas namoradas ao crescer que já limpei sua bunda e seu cocô é fedido cara. - Nora gargalha pra caramba e não me seguro também gostando de rir.
Quando chegamos no prédio um pequeno embrulho é posto sobre meu colo e faço uma cara confusa pra ela que sorri.
- Um presente. - Dá de ombros. - Pra te animar. - Repito seu ato me despedindo e subindo.
×××
- Oi novinho. - Falo por impulso ao atender sua ligação o vendo deitado no que deve ser sua cama na casa de seus pais onde ele está desde cedo.
Vejo sua surpresa estampada e solto um risinho baixo vendo que ele gostou de ser chamado assim. Não tinha percebido que ele sentia falta mas parece que estava completamente equivocada.
- Oi morena. - Meu coração palpita como de uma adolescente me derretendo por completo como todas as malditas vezes.
Mais tarde deitada sozinha rolava de um lado pro outro da cama sentindo falta do seu corpo aqui me acolhendo. Não durmo sozinha a quase três meses e me sinto estranha estando assim agora, sendo que antes não me importava nem um pouco de ser só.
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Destinada a ser minha
Romance- Naquele momento percebi como seria fácil me apaixonar por ela. Ariela gosta de viver a vida adoidada, muitas vezes mostra estar feliz por fora quando está uma confusão por dentro. Porém ela vê sua vida mudar de cabeça pra baixo quando um doutor se...