A R I E L A
- Preciso de você.
Mal cheguei na delegacia e já estão me chamando, mas parece que hoje a noite está movimentada.
Acabei de voltar de uma denúncia com White e estou doida pra ir direto pra casa depois do longo dia, porém quando o Capitão chama você só vai e obedece independente da hora.
Pensam que ele nos dá colher de chá? Não mesmo, nunca deu e acho que nunca dará. Ao contrário, exige ainda mais de mim e Nell por conhecer nosso potencial. Se não fosse por ele não teria ido pra detetive e percebido que se eu gostava de ser policial meu atual cargo então me fez amar ainda mais.
- Capitão. - Chamo entrando em sua sala e ele me indica a cadeira para sentar.
- Preciso que vá ao hospital para ajudar em um caso de tentiva de estupro. - Engulo em seco e me remexo desconfortável na cadeira.
Nunca gosto de casos assim, meu emocional sempre sai abalado e frustrado por ter tantas pessoas pelo mundo que ainda tratam a mulher como um mero objeto, como se não fossem nada e no final ainda tem infelizmente muitas que falam que a culpa foi por que ela estava usando um vestido curto, ou por estar numa boate no meio da noite, ou que duas horas da madrugada mulher deve estar em casa. Mas não vêem que o errado foi o homem que mostrou seu lado mais nojento e se aproveitou de alguém, independente da situação.
Fala sério cara, isso me irrita num nível que não existe ainda. Como assim? Se uma mulher estivesse pelada ainda não seria desculpa pra ser usada contra sua vontade, do mesmo jeito se a situação fosse com um cara e é uma mulher de algum modo o forçasse, se alguém fala que não quer você aceita e ponto final.
Mas esse é o mal da sociedade, em vez de querer mudar o que está infelizmente enraizado nas merdas de costumes de pessoas hipócritas eles preferem achar o erro da vítima independente da situação, culpando quem não merece.
Por ser mulher sou chamada infelizmente mais vezes do que gostaria nessas investigações, afinal que mulher depois de sofrer tanto assim confiaria em um homem desconhecido logo de cara?
- Por que eu? - Questiono e ele suspira.
Sempre sou chamada mas geralmente tio Mark não me colocaria nisso por saber como eu fico, mas pra ele me chamar deve ter um motivo a mais.
- É uma criança.
- Merda. - Praguejo baixinho mas sei que ele escutou.
- Será mais fácil falar com você.
Não questiono mais nada só sigo meu trabalho levando outra policial comigo. Esse tipo de caso deixa nossa cabeça um pouco fodida, é sempre assim.
Sigo no automático até o hospital mostrando o distintivo e ganhando acesso onde a menina está, respiro fundo antes de encarar a situação.
Porra.
É uma criança que nem deve ter seus dez anos ainda com hematomas no rosto e braços, sendo os únicos que consigo ver pelo resto do corpo pequeno estar tampado pelo lençol, mas mesmo não querendo tenho certeza que essas não são suas única e marcas físicas. Respiro fundo novamente antes de seguir com a psicóloga e entrar no quarto onde a menina está deitada.
A pequena se assusta ao nos ver mas a psicóloga conversa com a mesma a acalmando e me aproximo de pouco a pouco vendo seu receio até conseguir chegar no canto da cama.
- Olá, meu nome é Ariela, mas todos me chamam de Ari. - Falo com a voz mansa e ela não tira o olho do distintivo pendurado em meu pescoço onde deixei bem evidente. - Quer pegar?
Questiono e ela assente ainda em silêncio me fazendo retirar e entregar para mesma a vendo analisar com delicadeza tudo.
- Vo-você.. é policial? - Sorriu por ela começar um diálogo mesmo que num sussurro gaguejado.
- Não, sou detetive. - Ela fica meio perdida. - Eu encontro as pessoas más e as prendo. - Ela me fita por um bom tempo apertando com força o objeto em suas pequenas mãos como se isso te passasse força.
- Meu papai é mal. - Engulo em seco mas não demostro, continuo com a expressão serena. - Você pode prender ele pra não me machucar mais? - Fala com voz chorona e eu não me seguro passando a mão pelo seu rosto e limpando as lágrimas que descem silenciosas.
- Vou fazer isso sim pequena, mas que tal você me contar o que ele fez? Então prometo que vou o encontrar e ele não vai te fazer mal mais.
×××
A porra de um homem sem escrúpulos desses não merece nada e nem ninguém. Filho da puta. Minha vontade é esmurrar a cara dele até deixá-lo em pedaços.
Ver marcas antigas em seu corpo pequeno e saber que desde a morte de sua mãe no ano passado ela finge estar bem quando sua vó materma aparece pra ele não machucar ela também e a fazer ir embora como a mãe. Uma porra de pressão psicológica como se a mãe adoecida tivesse culpa por ter morrido.
Um doente, é isso que ele é.
Obrigando a menina a limpar, arrumar, fazer comida para um porco sem noção que a batia se encontrava um colher fora de lugar.
Dez anos.
A menina tem apenas dez anos.
Oro para que um longo tratamento psicológico e o colo, amor e cuidado da vó que ficou desolada ao ver o estado da menina e ouvir suas palavras dizendo que não queria que o pai a machucasse também seja o suficiente para trazer de volta a alegria para o rosto desse pequeno ser que mesmo com a crueldade que já vou torço pra que cresça uma mulher forte que não se deixa levar pelos traumas passados.
Respiro fundo ao sair do quarto já passando pro chefe tudo que me foi dito do sujeito e todas as informações que a ex sogra deu de onde ele poderia estar já enviando alguém, espero que o peguemos o mais rápido possível, depois eu me viro nos relatórios. Mas por agora esse homem tem que ser pego e rápido, enquanto isso deixei a policial em sua porta para trazer um conforto e segurança a mais para as duas.
Ando no automático pelos corredores brancos e frios do hospital, ainda perdida em pensamentos quando olho pra frente encontrando o novinho de jaleco e estetoscópio sobre o pescoço concentrado em olhar um dos tablets do hospital.
Solto um suspiro relaxando meu corpo no mesmo instante e abrindo um sorriso cansado e fraco por ter me feito tão bem apenas sua visão aqui tão perto de mim depois de tanto notícia de merda.
Isso vai alegrar meu dia.
- Doutor Ross. - Chamo me aproximando e ele se surpreende ao me ver ali parada ao seu lado.
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Destinada a ser minha
Romansa- Naquele momento percebi como seria fácil me apaixonar por ela. Ariela gosta de viver a vida adoidada, muitas vezes mostra estar feliz por fora quando está uma confusão por dentro. Porém ela vê sua vida mudar de cabeça pra baixo quando um doutor se...