3. Os fiscais da dor

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“EU FODI COM O CARA DA ÁRVORE”, disse Tess, uma mãe de quarenta e três anos que perdeu o marido para um tumor cerebral há dez meses, depois de uma década de casamento.

Todas nós ficamos boquiabertas com ela. Todas tinham acabado de sentar. Eu nem havia servido o vinho ainda.

Mas Tess não era de perder tempo. “Eu realmente fiz isso. Ele voltou para triturar o toco da árvore que derrubaram na semana passada, estava lá fora sem camisa, quente e viril e perdi completamente a cabeça. Eu nem sei o nome dele.”

“O que aconteceu?” Perguntei, sentindo o olhar de todas. Havia quatro de nós no grupo. Nossa idade variava de vinte e oito a sessenta e alguma coisa, tínhamos diferentes trabalhos e níveis educação, cor de pele e interesses diferentes, mas estávamos conectadas por uma experiência que havia mudado radicalmente as nossas vidas.

“Eu olhei para fora da janela o tempo todo que ele estava lá trabalhando”, ela começou. “Então, antes que eu percebesse, estava colocando short curto, borrifando perfume no meu pescoço e andando pelo quintal, perguntando se ele queria algo gelado para beber.”

Perfume. Eu ainda tenho algum perfume? Foi uma daquelas coisas que nunca mais pensei, junto com cera de depilação e controle de natalidade.

“Onde estavam as crianças?” Alguém perguntou quando me sentei ao lado de Tess no sofá, colocando meus pés descalços debaixo de mim.

“Estão visitando os avós esta semana” disse ela, enfiando o cabelo loiro atrás das orelhas. “Estou sozinha em casa há dias, pela primeira vez desde que Chuck morreu.”

O grupo murmurou em solidariedade. Nós sabíamos o quão vazia uma casa podia ser. Isso poderia te deixar louca.

“Então o que aconteceu?” Grace indagou. Ela era a mais nova do nosso grupo, havia perdido seu namorado do ensino médio para uma bomba em uma estrada no Afeganistão. Ela estava grávida do bebê deles na época.

“Ele entrou na casa e eu me joguei nele. Transamos no chão da cozinha.” Tess fechou os olhos e balançou a cabeça. “Acabou em três minutos.”

“Foi... bom?” Grace perguntou.

“Sim.” Ela piscou para nós enquanto seus olhos ficavam arregalados. “Foi fantástico.”

Minha boca se abriu. Eu esperava que ela dissesse não. Como o sexo com um completo estranho poderia ser comparado ao sexo que teve com o marido? Ela nem conhecia esse cara. Mas eu não queria que Tess se sentisse mal. Tomei um gole de vinho e fiz um esforço para manter meu rosto simpático enquanto ela continuava.

“Eu estava quase esperando que não fosse, sabe? Mas me senti ótima. Me senti viva. Durante aqueles três minutos suados, não pensei em Chuck ou nas crianças, na tristeza, culpa ou qualquer coisa – acho que nem pensei no cara da árvore! Eu só queria algo para mim, algo que me lembrasse que ainda estou aqui. Que ainda sou capaz de sentir. Que não estou morta. Porque..." Seus ombros se levantaram "Francamente, eu comecei a me perguntar.”

Nós todas concordamos. Era familiar aquele entorpecimento por dentro e por fora, o medo de nunca mais sentir o gosto de algo. Mas a ideia de ter intimidade com outro homem virou meu estômago. Não conseguia imaginar isso. E quem iria me querer, afinal? Uma mãe viúva, de trinta e cinco anos e apaixonada por um homem morto, não era a fantasia de ninguém.

“Mas eu me sinto horrível.” Ela fungou, tocando nos cantos internos de seus olhos. “Sinto-me envergonhada e desleal.”

“Você não deveria.” Anne, a membro mais antiga do nosso grupo e mãe substituta para todas, falou com firmeza.

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