23. Transparente

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Alfonso

“Me dê os ovos. Querido você está bem?” Minha mãe perguntou.

“O quê?” Eu estava em pé na frente da geladeira aberta, mas estava completamente desligado. Aconteceu comigo o tempo todo no dia de hoje. Eu abria uma gaveta, entrava numa sala, começava uma frase, mas então via alguma coisa ou ouvia alguma coisa ou até mesmo cheirava algo que me lembrava Anahi e meu corpo e mente simplesmente congelavam, paralisados pelos pensamentos nela... De repente não tenho ideia do que estava procurando ou tentando dizer.

“Os ovos, querido.” Seu tom foi um pouco exasperado. “Eu pedia a você três vezes.”

“Oh. Desculpe.” Peguei a caixa de ovos e coloquei no balcão onde ela estava misturando massa de bolo para o jantar do sexto aniversário de Alana. Seria a primeira vez que Anahi e eu nos veríamos em duas semanas.

“Por que você tem estado tão confuso hoje?” Ela perguntou, olhando para mim enquanto voltava para a geladeira, a abrindo e tentando me concentrar em tirar um pouco de carne do almoço para fazer um sanduíche.

“Nada.” Peguei peru, alface, tomate e maionese, desejando que ela parasse de me fazer essa pergunta.

“Você está dormindo o suficiente? Você está trabalhando muitas horas.”

“Estou bem, mãe.” As longas horas foram por escolha, uma tentativa de me distrair do anseio por Anahi, mas não funcionou. A lembrança daquela noite em sua casa me atingia, aproximadamente a cada meio segundo. Nas minhas corridas matinais, enquanto eu estava no banho, enquanto dirigia para o trabalho, durante meu intervalo para o almoço. Mesmo quando estava imerso em cuidar de pacientes, ela estava sempre lá no fundo da minha mente, uma presença espectral com cabelos bagunçados, pés descalços, lábios macios e pele quente, me beijando, me tocando, me convidando para dentro dela. E as coisas que ela disse – toda vez que me lembrava de ouvir aquelas palavras em sua voz doce e sem fôlego, o calor subia em meu corpo e eu tinha que soltar minha gravata.

Eu quero que você me foda.

Eu quero tudo de você.

Eu quero gozar para você Goze comigo.

Eu quero sentir isso.

Jesus Cristo, tinha gozado como um foguete. E não um pequeno foguete. Um daqueles foguetes espaciais enormes. Um maldito foguete da NASA em uma missão em Marte. Eu ainda não conseguia acreditar que tinha feito isso. Às vezes me perguntava o que diabos tinha naquelas cervejas, que eu tinha bebido. Outras vezes, supus que não tinha nada a ver com o meu nível de álcool no sangue e tudo a ver com o fato de que a desejei por muito tempo. Até mesmo um cavalheiro fica sem paciência às vezes.

Mas eu estava começando a pensar que não era muito cavalheiro de qualquer maneira.

“Quando você vai ter a resposta de Brad?” Minha mãe perguntou.

“Ele disse no dia seguinte mais ou menos”, disse, percebendo que eu estava lá parado, estupefato na frente da torradeira com duas fatias de pão na minha mão. Eu as coloquei na torradeira. “Na segunda-feira, com certeza.”

Eu fiz uma oferta em uma casa ao norte da cidade. Não é perfeita. Será necessário novo piso, pintura e uma reforma na cozinha, mas tem um tamanho bom, é em frente ao lago e bem isolada. O melhor de tudo, não dá para ir a pé da casa dos meus pais, pelo menos não para eles. E eu precisava de alguns projetos para me manter ocupado de qualquer maneira.

“Você sabe, não há pressa para sair.” Ela quebrou os ovos na tigela e jogou as cascas na pia. “Se essa casa não é o que você quer, pode ficar aqui o tempo que quiser.”

Proibida Para Mim Onde histórias criam vida. Descubra agora