21. Dor necessária

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Mas os sentimentos mentiram. Porque não estava realmente segura ou forte ou protegida, estava? Só porque algo parecia real, não significava que fosse. Veja como eu estava convencida de que ia morrer no corredor do andar de baixo. Nossas percepções das coisas estavam com defeito. Nossos sentidos nos enganaram.

Ele não me amava. E eu não queria amá-lo. Mas vi o quão facilmente isso poderia acontecer se não fôssemos cuidadosos.

Nós não podemos. Não podemos deixar isso acontecer. Eu não posso deixar isso acontecer.

Lutando contra as lágrimas, voltei para baixo, onde encontrei Alfonso de pé no corredor com a luz acesa. Ele vestiu a camisa e levantou as calças, e o olhar em seu rosto era preocupado.

“Ei. Você está bem?”

“Sim.”

“Posso apenas te examinar rapidinho?”

“Certo.”

Ele verificou cada olho e tomou meu pulso novamente, e me ouviu respirar por um momento. Eu me senti pequena e infantil ao lado dele e desejei não ter gostado tanto da sensação de estar sendo cuidada por ele. Como mãe solteira, sempre fui eu a cuidar.

“Você tem ataques de pânico com muita frequência?” Ele perguntou.

“Não mais.”

Ele franziu a testa e afastou-se de mim. “Eu sinto muito, Any. Isso foi tudo culpa minha.”

Cruzei meus braços sobre o peito. “Nós dois sabemos que isso não é verdade. Eu queria isso tanto quanto você, hoje à noite. Não me transforme em uma vítima.” Ele engoliu em seco e assentiu.
“Mas isso não conserta tudo.”

“Não”, ele concordou. “Não conserta.”

“Precisamos esquecer que isso aconteceu, Alfonso. E não podemos fazer de novo.”

“Mas...”

“Não! Está errado. Eu sinto que desonrei a memória de Miguel e é a única coisa que me resta. Olha, nós estávamos sozinhos, ok? Nós estávamos sozinhos e sentíamos falta dele e só queríamos nos sentir próximos um do outro, para que pudéssemos nos sentir perto dele.” Disse com firmeza, como se acreditasse nisso.

“Isso não foi sobre Miguel para mim”, ele disse baixinho.

Meu coração apertou. “Bem, foi para mim”, menti.

Ele chegou mais perto de mim, quase peito a peito. Seus olhos fixaram os meus. “Eu não acredito em você.”

Estava com medo de que ele fosse me beijar e eu não teria forças para resistir, mas ele não o fez. Cinco segundos depois, ele se foi. Eu fechei a porta atrás dele e me inclinei contra ela, expirando de alívio. Eu estava segura. Mas o alívio foi de curta duração. Uma vez que me arrastei para a cama e puxei as cobertas sobre os ombros, a casa parecia mais vazia do que nunca e solucei no travesseiro.

Ele era tão bom, doce e lindo. E talvez ele realmente me quisesse.

Mas não podia me apaixonar por ele. Eu simplesmente não podia. Por muitos motivos. Porque era o irmão de Miguel. Porque seria muito confuso para Alana.
Porque ninguém nos aceitaria. E porque a vida me ensinou, não importa o que você fizesse, não importa o quanto você tentasse, feliz para sempre era apenas uma ilusão. Uma linda distração da tragédia que era amor, que era a vida.

Não havia eternidade. Tudo chegou ao fim.

Eu era um zumbi de olhos vermelhos no trabalho na manhã seguinte, onde mais uma vez fiquei feliz que era Pete compartilhando meu turno e não Georgia, pois me senti como se a palavra adultério estivesse escrita na minha testa. A única coisa que me fez sentir alegria verdadeira, foi que fiquei menstruada esta tarde. Graças a Deus, pensei.

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