17. Tudo que precisava ouvir

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Anahi

Eu tive dificuldades para dormir naquela noite, temendo o nascer do sol que seria oficialmente o dia antes de Alana começar o jardim de infância.

Tudo o que conseguia pensar era como Miguel perderia isso. Assim como ele perderia seu primeiro dia de pré-escola. Assim como perderia a queda de seu primeiro dente de leite. Assim como perderia toda conferência, concerto e peça da escola. Seu baile. Sua formatura. O casamento dela. Eu seria a única a vê-la crescer até que ela finalmente me deixasse também. O que eu faria então? Quem eu seria? Como sobreviveria quando ela não precisasse mais de mim?

Eu estava com os olhos turvos e calada na manhã seguinte no trabalho. Georgia teria me forçado a falar sobre isso, o que provavelmente teria resultado em um colapso bem ali na cozinha, mas felizmente, era Pete trabalhando no turno do café da manhã do Dia do Trabalho. Se ele notou que algo estava errado comigo, não mencionou.

Depois do trabalho, eu tentei combater a sensação de morte iminente ao levar Alana ao parque, ajudando-a a arrumar todos os novos materiais escolares na mochila rosa e roxa que ela escolheu, e deixar ela me ajudar a fazer o bolo de carne italiano para o jantar. Era a receita da minha mãe e me deixava um pouco saudosa dela. Pensei em ligar para ela, mas mamãe me perguntaria como eu estava e não sentia que poderia responder a essa pergunta sem desmoronar.

Depois do jantar, Alana perguntou se poderíamos ir até a cidade tomar sorvete.

“Claro”, disse, não particularmente ansiosa para começar a rotina de dormir.

“Vamos chamar o tio Poncho.” Um alarme soou na minha cabeça. Eu não tinha certeza se poderia lidar com a visão de Alfonso hoje à noite.

“Oh, querida, não vamos incomodá-lo.”

“Mas eu disse a ele que ligaríamos na próxima vez que fossemos tomar sorvete”, ela choramingou. “Nós temos que chamá-lo.” Pensei em fingir ligar e dizer que ele não atendeu, mas me senti muito culpada. Isto não é apenas sobre você.

Ele atendeu rapidamente. “Alô?”

Talvez houvesse um dia em que o som familiar de sua voz – igual a de Miguel – não me abalasse, mas esse dia não era hoje. “Ei, Alfonso. Alana e eu estamos indo a cidade para tomar um sorvete e nos perguntamos se você gostaria de ir junto.” Diga não. Diga não. Diga não.

“Eu adoraria. Me dá dez minutos?”

“Claro.” Nós desligamos e disse a Alana para usar o banheiro. Enquanto ela fazia isso, subi para o meu banheiro e vasculhei minha bolsa de maquiagem. Passei um pouco de corretivo nos círculos sob meus olhos. Mas isso não foi o suficiente para apagar a ansiedade ou a exaustão do meu rosto, então adicionei um pouco de blush e rímel. Passei uma escova pelo meu cabelo. Quando estava colocando minha bolsa de maquiagem de volta na gaveta, notei um frasco de perfume lá dentro. Eu tirei e espirrei no meu pescoço.

Mas o cheiro, o favorito de Miguel, era tanto um lembrete doloroso de dias mais felizes, quanto uma acusação – por que você está colocando perfume para outro homem? – e alguns soluços sufocados se soltaram do meu peito.

Pare com isso. Se recomponha. Você tem que pensar em Alana. E Alfonso está chegando. Você quer que um deles te veja assim?

Após respirar profundamente várias vezes, eu tinha o controle de meus sentimentos. O dano no meu rosto não foi tão terrível e eu consertei a maquiagem dos olhos o melhor que pude, imaginando que um óculos de sol esconderia o pior.

Alana e eu esperamos por Alfonso lá fora e meu coração bateu de forma irregular quando ele parou e saiu do carro. Mantinha o ritmo irregular enquanto caminhávamos para a cidade e tentei domá-lo mantendo meus olhos na calçada.

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