Combater e morrer é pela morte derrotar a morte, mas temer e morrer é fazer-lhe homenagem com um sopro servil. —
William Shakespeare
— Você nunca conheceu minha casa…
— dizia Jack ao seu pai.Após breves momentos de silêncio, ele respondia:
— Onde fica?Um sorriso se abria brevemente na face de Jack, que logo começava a ditar por onde Marcus deveria ir.
Ao chegarem, o vetusto se desanimava, não era um local em que gostaria de ficar, via concreto para todos os lados, o asfalto cobria o limite entre carros e humanos, as árvores eram baixas, porém, mesmo que cheias de vida, estavam limitadas a um cubículo de terra envolvido por concreto — Como se a vida humana fosse diferente.
As casas uma colada nas outras davam-no agonia:
"Como alguém consegue viver aqui?"Contudo, para pessoas da cidade, aquele era um bom bairro, calmo, com uma praça adiante que o enriquecia.
Jack abria o portão, apresentando seu pedaço de concreto que chamava de lar: Um quintal pequeno com uma garagem que portava pela primeira vez um automóvel — a caminhonete de seu pai—, ao interior da casa: Pisos azulejados que certamente vieram de 1900 de alguma coisa devido sua coloração amarronzada, incomum aos modelos minimalistas brancos da atualidade. Ao entrarem, o primeiro cômodo era uma sala de estar com uma televisão de tubo, ao lado da sala uma cozinha que parecia ter sido reformada , devido aos pisos de azulejo branco; entre os cômodos: um corredor que levava ao banheiro e aos quartos.
"Um cubículo!" pensou Marcus.
"Enfim em casa..." descansou Jack.
— É pequeno, mas é confortável!— dizia o rapaz ao perceber a expressão de reprovação de seu pai.
Jack não precisava de mais, aquele era o lugar quase perfeito para ele: Uma casa que não era grande o suficiente para se perder entre os cômodos, mas nem pequena o suficiente para atiçar uma breve claustrofobia.
— Tem um quarto no final do corredor à esquerda, é o meu, se quiser deitar… Fique a vontade!
Seu pai confirmava com a cabeça e dirigia-se à sala, acomodando-se sobre um dos sofás, deixando o som da televisão acalmá-lo até cair no sono.
O tempo se passava e Jack decidia se deveria comparecer ou não ao encontro com o homem da editora, certamente se saísse com seu pai acordado, não o deixaria ir, afinal, estava de luto.
"Mas como ele sabia que minha mãe faleceu?" pensou.
Seu corpo tencionava ao encontrar-se no agora, longe das amarguras do passado e distante das incertezas do futuro. A única coisa que conseguia pensar, era: "minha mãe morreu… Eu falhei"
Jack observava o ambiente ao seu redor, tentando conter qualquer sentimento negativo, mas seu peito ardia uma dor vazia, como se parte de si fosse arrancada.
Os pensamentos de Jack fluíam turbulentos como enxurradas, devastando todo sentimento positivo em seu caminho, e logo todo seu corpo estaria inundado de ansiedade.
"E se eu não for? Algo que resolva meu problema seria um contrato milionário, mas mesmo assim, não preencheria o espaço vazio que minha minha mãe deixou" a enxurrada varria sua calma, fazendo-o caminhar de um lado a outro da cozinha, enquanto observava seu pai roncando sentado no sofá da sala, às 20h da noite.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Science FictionJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...