Capítulo 39 - As Trevas que Consomem esta Cidade

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— Isso é o suficiente? — Perguntou Jack despejando a mochila repleta de sucata em cima da mesa, enquanto fitava Eduardo.

— Talvez...— Ele respondeu com pesar.

— Como assim "talvez"? — Jack espantou-se, visto que a mesa estava abarrotada de materiais, desde fios de cobre a hastes e grandes esferas de ferro.

— Precisamos construir no mínimo quatro bobinas de Tesla, talvez isso não seja o suficiente.

— Mas por que não? Olha o tanto de coisa que pegamos!

— Quatro bobinas significa que precisamos de quatro circuitos RLC

Jack o olhou confuso.

— Basicamente um Resistor, um indutor e um condensador. — Eduardo respondeu — O que pegaram só vai dar para fazer uma bobina, além de que aqui nem energia elétrica tem, ou seja, vocês precisarão roubar um gerador. — Eduardo riu com desprezo.

— E onde a gente encontra isso?

— Foi uma piada — Eduardo fechou a cara — Precisariam de um caminhão, se quisessem roubar uma coisa dessas...

— E não tem alguma forma de substituir isso?

— Tem postes de energia que passam até a cidade vizinha, inclusive, alguns aqui perto, poderíamos fazer um gato.

— Façam vocês então, não quero morrer eletrocutado...

— Vamos precisar de mais cabos. — Jack olhou para seu avô.

— Certamente. Se encontrarem cabos próprios para isso, melhor ainda, esses fios fininhos não aguentarão — disse Eduardo apanhando um rolo de fio de cobre sobre a mesa — E esse tanto aqui ainda é pouco para fazer uma bobina.

— Por que você não vem com a gente? É muito mais rápido do que se ficarmos indo de um lado ao outro, esperando que esteja tudo certo.

— Vocês têm uma lista com o material necessário, não precisam que eu vá... — Ele levantou-se lentamente, como se o próprio piso da casa pudesse matá-lo com algum germe e logo esgueirou-se com suas manias para dentro do último quarto do corredor.

— Não! — Jack o seguiu. — Você quer evitar ser comprometido, ou associado de alguma forma com o que estamos fazendo — Eduardo pigarreou, dando indício de uma enxurrada de argumentos relacionados aos germes e como o mundo poderia matá-lo, mas Jack logo o conteve. — E nem venha me dizer que é porque o mundo pode te matar, olhe para você! Já saiu de sua casa, sequer passa álcool em gel nas mãos, e há quanto tempo não toma banho? Não minta para mim!

Jack adentrou no cômodo, os livros que antes estavam espalhados pelo chão, agora estavam perfeitamente empilhados, todos eles separados por cores e ao centro do quarto havia um amontoado, cada um dobrado em cima do outro, formando uma cama improvisada. Eduardo tinha transformado aquele quarto no seu refúgio para o desespero do "mundo do lado de fora".

— Não tem sequer água potável aqui, vocês tiram de um poço, não sei como é a procedência disso, pedir álcool em gel seria demais e eu tenho nojo do banheiro, há quanto tempo não o lava? — Ele sentou-se sobre sua "cama" com um dos livros que estava estudando. — Vocês me arrancaram do único lugar seguro que eu conhecia, me tiraram das minhas correções de provas, era a única coisa que me divertia, a minha sorte é que eu ainda trouxe meus remédios, se não sequer isso eu teria, vocês tiraram tudo de mim... Não acha que eu já aceitei que estou comprometido nisso?

Jack apenas calou-se, fitando o homem em estado quase decrépito, cada vez mais corcunda, cada vez mais com olheiras que dominavam seu rosto.

Jack apenas calou-se, fitando o homem em estado quase decrépito, cada vez mais corcunda, cada vez mais com olheiras que dominavam seu rosto

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O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora