A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta. — Isaac Newton
A chuva caía sobre seu corpo, banhando cada parte sem a menor preocupação. Nada mais importava para Jack, havia falhado em seu único propósito.
Voltar sua face aos céus com a esperança de fazer a chuva varrer o sentimento de ódio e culpa que crescia em seu peito era inútil, o que o restava era deixá-la disfarçar suas lágrimas de desespero.
O beijo gélido de cada gota o levavam ao encontro com a culpa por não ter salvo sua mãe. O estrondo das nuvens guerreando no céu o remetiam cada momento de desespero e ansiedade que passara para reivindicar seu cargo como bom filho, porém, mesmo depois de cutucar cicatrizes da infância, submeter-se a um empregado de um "amigo" arrogante, Jack tinha o direito de ser um bom filho mesmo deixando seus pais de lado certas vezes?
Enquanto a última memória de sua mãe era maculada por uma camada de madeira e sete palmos de terra.
Ele olhava as pessoas em volta e percebia a solidão em meio a um mar de lápides que se estendia ao infinito. As únicas presenças viva ali eram os coveiros e seu pai, que causava outra tempestade ao lado da cova de Angelita.
Após descerem o cadáver, Jack retirava Marcus de perto da cova para que pudessem dizer o adeus final.
— Vamos orar, pai, assim ela irá em paz! — Mesmo que Jack não acreditasse muito em orações para salvar a alma de uma pessoa, aquilo era necessário para salvar a de seu pai enquanto vivo, ou morreria de tristeza antes mesmo de cruzar a saída do cemitério.
Enquanto Marcus tentava conter-se de olhos fechados em uma oração sincera, Jack desviava sua atenção pelo cemitério para não pensar que agora viveria uma vida vazia e monótona, vivendo com seu pai na fazendo até que o tempo decida roubar-lhe o último arfar de vida.
"É óbvio que não virá comigo para a cidade..." Jack tentava afastar-se do momento de tristeza.
Com os olhos marejados, tentava distrair-se olhando para trás, porém, uma silhueta oculta pelo fluxo da chuva o chamava atenção.
"Quando aquela pessoa chegou ali?" pensou.
Não parecia usar guarda-chuva, ou capa. Não haviam coveiros perto, porém, segurava alguma coisa, uma rosa? Vaso de flor? Uma arma? A chuva não permitia enxergar.
Jack o observava distanciar-se calmamente após alguns segundos de contemplação.
—... Amém! — Finaliza seu pai.
— Amém... — Jack finge ter acompanhado.
Marcus o puxava com os dois braços para um abraço apertado. Ao pararem, o encarava momentaneamente em silêncio.
— Eu fui um bom filho? — Jack não contia as lágrimas em sua face, que aos poucos se dissolviam entre a chuva, deixando apenas o resquício do choro em sua voz.
Um último abraço, porém, agora, fora melhor, ambos compartilhavam da mesma dor de perder alguém.
Milagrosamente, a chuva parecia parar. Ambos olhavam em volta. Uma moça de casaco vermelho segurava um guarda-chuva sobre suas cabeças, o azul melancólico dos olhos de Melissa o fazia abrir um breve sorriso, mas que logo era ofuscado por uma feição deprimida.
— James me disse o que aconteceu... — Jack a interrompia com um abraço. Mesmo que encharcado, a moça não se importava, retribuía o abraço.
— Esse é Marcus, meu pai, acho que vocês se conheceram naquele dia...
— Olá, Melissa! — Ele tentava disfarçar o momento de fragilidade.
— Eu sinto muito...
Os três ficaram se encarando, deixando o barulho da chuva tomar conta da conversa.
— Você veio sozinha? Se quiser, deu-lhe uma carona. — Jack quebrava o silêncio constrangedor.
— Peguei um Táxi. Agradecerei, se não for incômodo!
Ambos caminhavam juntos entre os corredores de lápides, todos os três dividindo o mesmo guarda-chuva.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Ciencia FicciónJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...