Você, o seu ser tanto quanto qualquer pessoa em todo o universo, merece o seu amor e sua afeição. — Buddha.
— Grite! Grite! Grite seu miserável, quero ouvir seus gritos de desespero, você não sabe quão o futuro é importante para mim, para nós, para toda essa humanidade que já está caída em trevas!— Uma sinfonia diabólica de socos e gritos ecoavam por toda sala escura repleta de mofo. — Já está na hora — Seu relógio digital apitou. —, quero me lembrar da sua cara de medo e desespero quando chegar lá atrasado.Com o pouco de luz que entrava da pequena brecha na porta, podia-se ver o homem amarrado em uma cadeira. Feridas em seu rosto derramavam sangue pela sua longa barba que escondia seus brancos por grossas camadas de sujeira, era definitivamente um mendigo. À sua frente, era possível ver apenas um homem vestido com um terno preto e gravata vermelha, mas seu rosto era oculto pela escuridão.
— Seu pilantra!Você não vê que a vida de milhares depende disso, você quer o mundo, mas em troca de quê?! Da vida da sua mãe e de todos que você ama?
— O coração que um dia eu amei não pertence mais a mim, então por que deixar de seguir meus sonhos? — O homem olhou para as manchas de sangue nas mangas da camisa — Você manchou meu terno, sorte que tenho outros. Me recuso a ficar com sequelas de seu sangue podre e impuro em minhas roupas. — Ele soltou-o da cadeira — Agora corra!Corra para que eu possa ver seus olhos cheios de esperanças, se transformarem em manchas cinzas sem vida!
***
Às seis da manhã, o despertador tocou, e em meio às nuvens negras no céu, entravam os primeiros raios de luz apagados pela janela que ficava em frente à cama, refletindo nos cabelos castanhos do homem que ali dormia.
Jack, o rapaz que despertava, já dava a primeira expirada insatisfeita com a vida ao acordar. O mesmo ritual fúnebre de todas as manhãs: tomar remédios para que a ansiedade não o mate por dentro e trocar-se para o fazer o que fazia de melhor: escrever.
O rapaz respirou fundo, talvez aquele fosse um dia tão ruim quanto a maioria dos outros, estava frio, ao menos não transpiraria até que secasse por completo toda a água de seu corpo. Era um saco vestir as roupas que costumava vestir em dias de calor: uma calça preta, um sobretudo bege e uma blusa branca, bem simples, mas o que o matava era o sobretudo, principalmente em dias de calor. Assim como a maioria dos brasileiros, ele tinha suas manias estranhas, e uma delas era usar esse sobretudo. No fundo, nem ele entendia o porquê, talvez fosse algo relacionado às suas inseguranças com seu trabalho de detetive particular.
Sem meias, o chão congelava, isso era um bom sinal, o inverno chegara, o que significaria que usaria aquela roupa por muito tempo. Frio, mais roupas favoritas, de inverno — sempre as mais estilosas. Agora, só precisava se dirigir ao seu escritório e começar finalmente seu trabalho, o mais cômico era que preferia a cafeteria que frequentava todos as manhãs onde tomava café e trabalhava, era quase como sua segunda casa — ou uma igreja, já que sempre comparecia nos mesmos horários. Não seria muito difícil para alguém assaltá-lo ou sequestrá-lo com uma rotina tão bem estabelecida. Até ajudaria o assaltante, mas não teria muito o que levar, além de alguns trocados, uma caderneta e um livro.
6:10, Jack chegou à igreja — ou lugar de trabalho, também conhecido como cafeteria — e se já não fosse o suficiente, a chuva precisou acompanhá-lo, talvez realmente aquele fosse um bom dia: frio, mais roupas favoritas, mais chuva e o cheirinho do café somavam uma das melhores sensações que ele poderia experimentar. Tudo o que ele mais queria no momento era comprar seu café, seus pães de queijo, sentar-se ao lado da maior janela do local e finalmente iniciar seu ritual.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Ficção CientíficaJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...