"O homem solitário é uma besta ou um deus."
— Aristóteles
O olhar melancólico de Jack passeava pelas páginas do diário penduradas pela sala como se remetesse ao seu presente, uma espécie de viagem de no tempo sem portal, porém, em contrapartida das dores de cabeças, essa viagem arrancava pedaços de seu peito, lançando-lhe a dor da melancolia.
Dedilhava cada folha, sentia suas fibras e tinta da caneta que maculou aquelas páginas com o segredo mortal que desandou toda sua vida. Jack questionava-se quem mais perdera a sanidade, as noites de sono e até mesmo, talvez, a própria existência devido à viagem no tempo.
A janela do quarto era tampada com tábuas grossas. Seria um ato de segurança, ou apenas alguma síndrome que atacava seu avô por ter esses segredos em sua casa? Como uma corda no pescoço prestes a enforcá-lo.
Ao olhar pela porta do quarto, viu Lucas calçando os pezinhos de Ange com seus sapatinhos delicados, ambos ajeitavam-se para sair, e como de costume, o rifle sempre como uma extensão do homem. Lucas checou a janela antes de descer, era de manhã, talvez fossem novamente ao túmulo para prestigiar a alma da pobre mulher.
Só de pensar em passar mais alguns minutos preso sozinho naquele ambiente abafado, Jack contorceu-se e adiantou-se a seguí-los.
— Vá colher algumas flores, meu Cristal — Lucas pediu ao saírem da casa.
O rosto do homem reprimia-se numa feição melancólica enquanto observava Ange afastar-se. Por breves segundos, seus olhos perderam-se no caminho para o túmulo, como se a massa de carne em decomposição sugasse sua atenção e jogasse um peso sobre seus ombros.
— Está tudo bem? — Jack tirou-o de transe.
— Você quer a verdade? — Expulsou o ar de seus pulmões, prestes a desabar.
— Acho que não tenho muita escolha — Jack riu.
Lucas passou a mão em sua barba, tragou o ar e aproximou-se de Jack, iniciando em um sussurro:
— Às vezes eu sinto que a matei, meu jovem...
Os olhos do homem esvaziaram-se, tornaram-se apenas um borrão cinzento melancólico, atônito com os pesadelos de fantasmas do passado. Um olhar beirando a insanidade cravado a centímetros dos olhos de Jack.
— Quem? — O rapaz congelou.
— Sua avó... — Lucas abaixou a cabeça e repousou a mão sobre o ombro de Jack — Ela estaria viva agora se eu não...
Os olhos do homem fecharam-se em negação, rejeitando a aspereza da verdade.
— Diz isso pela gravidez?
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
FantascienzaJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...