A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo. — Friedrich Nietzsche
— Porque está com essa cara? —
Alissa acariciava os poucos cabelos que Carl ainda tinha.
Ela prostrava-se na maca de hospital enquanto seu marido sentava-se ao seu lado, com olhos fundos de quem não dormira direito, boca pouco seca e uma inquietação sem fim, que ocupava o resto dos lugares vazios do quarto de hospital quando não estava sentado ao lado de sua mulher.— Só não dormi direito... — Ele colocava uma de suas mãos em seu bolso, onde parecia dedilhar algo.
— E porque não?
— Tive um pesadelo...
—Pesadelo? Ouvi dizer que aquele homem foi te visitar de novo.
— Como você sabe?!
— Perguntei a um de seus seguranças.
— Ótimo, me diga quem é que vou demiti-lo!
— O quê você mexe tanto nesse bolso? — Ela repousava sua mão lentamente sobre a de Carl.
— Ele me deu isso...
De dentro do bolso ele retirava a carta de Tarot que o Viajante o havia entregue.
— Parece aquela que seu antigo amigo lhe deu... É a mesma parte preta das costas da carta.
— Já fazem quarenta e dois anos! Esse filho da puta deve estar me testando... Eu tinha só vinte anos... Ele viu em mim algo que ninguém nunca viu, um gênio...
— Está tudo bem, ele não vá fazer nada que te prejudique...
— Sempre sinto algo estranho quando me encontro com ele...
— Como o quê?
— Um Déjà vi... — Ele se perdia em seus pensamentos, deixando seu olhar vagar pela face de Alissa. — Você sabe que eu te amo, não é? — Ele acariciava os cabelos loiros dela.
— Sei, eu também te ...
— Mas, — Ele a interrompia. — tem horas que vocês são muito burros, você e o Rick! Me tiram do sério, você sabe que eu faço isso pro nosso próprio bem, não é?
Alissa apenas consentia em silêncio, olhando Carl no fundo dos olhos.— Desde que perdemos nosso filho, Rick foi minha luz de emergência... Ele não é burro, você só não sabe entender como ele é...
Carl levantava-se, dava um beijo em sua esposa, apanhava seu paletó cinza que estava em cima de uma cadeira e saía da sala sem falar nada.
Ao chegar na sua casa, — A maior mansão de um condomínio fechado — se dirigia à passos pesados, para seu quarto. Ao lado esquerdo, à frente do janelão que o iluminava, repousava uma cômoda de madeira, onde acima parecia ansiar por ele, uma caixinha de interior aveludado, lugar onde Carl guardava um carta de Tarot chamada O Mundo. Onde estampava-se uma grinalda vermelha e verde, circundando uma figura feminina. Com um bastão nas mãos, dentro de um espaço que possuía a forma de um ovo, ela recebia o suporte de um touro e um leão. Na parte superior da grinalda, um anjo e uma águia observavam a figura feminina. O leão e o touro olhavam para Carl, a águia olhava para o anjo e ele, por sua vez, olhava para a figura feminina no centro do ovo.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Ficção CientíficaJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...