"Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança."
— Albert Camus
Jack acabara de tomar um banho, saía do banheiro para secar-se, mas parou para observar o rombo que seu eu do futuro fizera na janela. Tentava negar as lembranças daquele dia, mas era assombrado pelas memórias, queria empurrá-las para o fundo de sua mente, sentia-se agoniado ao lembrar das estocadas que dera em seu próprio corpo.
"Meu corpo?" Pensou e logo passou a mão pelo local em que feriu seu duplo.
Jack respirou fundo, tentou direcionar seus pensamentos para outra coisa. Começou a vestir-se. Seu olhar vagou pelos espaços vazios do quarto, contemplando momentos anteriores em que estava tudo bem. Lembrou-se do beijo de Melissa. O rapaz fechou os olhos e pôde sentir aquela sensação novamente: o frio de seus corpos unindo-se com a esperança de aquecerem-se em um conjunto. Jack sorriu, perguntava-se se, em alguma linha temporal, ela estaria pensando nele naquele momento.
Relembrando memórias do passado, lembrou-se de seu pai, tocou-se que, para Marcus, Jack saíra da fazenda para trabalhar e sequer retornou, não ligou, e nem mesmo atendeu nenhum telefonema. O rapaz caminhou à sala, ligaria para seu pai, se não fosse o ranger do portão que arrancou-o do breve estado de tranquilidade.
— Sou eu... — Murmurou e irrompeu à cozinha.
Apanhou a primeira faca que viu e, ao caminhar de volta à sala, a porta da frente se abriu, era seu duplo do futuro, que o olhava espantado e com a palma das mãos à mostra, uma na altura do peito e a outra até onde a tipoia permitia.
— Sai da minha casa! — Jack gritou.
— Está tudo bem... — Ele respondeu com dificuldades de respirar — Só preciso tomar um banho e trocar de roupa.
— Não me importa! — O tremor da mão de Jack era visível pela faca.
— Estou com meu pulmão ainda em recuperação... Meu ombro nem se fala.
— E por que eu vou te ajudar?!
— Já fez o que eu queria que não fizesse, não há mais motivos para tentar te impedir... — Ele fechou a porta e guardou a chave em seu bolso. — Dá licença. — disse adentrando à casa.
Jack abaixou a faca, apoiou-se sobre a bancada da cozinha e expulsou o ar de seus pulmões. Ao retomar o fôlego, questionou melancólico:
— Quando isso termina?
— Eu também quero saber... — Jack do futuro olhou-o com pena.
O telefone tocou. Por algum motivo, o duplo de Jack fitou aquele aparelho com raiva, via-o tocar sem fazer nada. Ao o rapaz se aproximar para atender, seu eu o impediu segurando com força seu braço.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Science FictionJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...