Capítulo 44 - Eu Sou Seu Deus

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— Vamos fazer mais uma vez...Só para termos certeza. — disse Jack.

Suas mãos tremiam ao tocar no painel, suas pupilas estavam contraídas e sua respiração ofegante. Era um misto de agonia que permeava seu interior, a ansiedade em querer ver sua família reunida novamente aliado ao medo de tudo dar errado.

Jack repousou o dedo em uma protuberância no painel feita com o corpo de telefone antigo, era ali onde deveria discar a data para qual iria. Pensou por alguns segundos com os dedos prontos para girar aquela roda, como se fizesse uma ligação para outra época, mas não sabia para quando iria. E se causasse mais paradoxos? E se ele se tornasse seu eu do futuro? Eram tantas questões, até mesmo pensou em fugir para quando aquela miserável cidade erguia as primeiras casinhas, para que morresse ali, sem nunca ter outro contato com a viagem no tempo, isso não faria sentido, não fazia sentido querer fugir depois de tanto tempo buscando aquilo, meses e meses trabalhando duro naquele portal para apenas fugir no final... Que covardia!

Jack decidiu-se, colocou a data no painel e assim que finalizou, o grunhido agudo dos alarmes improvisados feito com garrafas soou ao exterior da cabana.

— É ele... — Jack balbuciou, perdendo a força do corpo — Eu sabia! — gritou enquanto corria junto aos outros dois para o andar de cima.

— Pode ser só um animal, talvez... — Eduardo tentou manter-se cético.

Sua afirmação estava muito longe do otimismo, já que ainda queria que aquele homem fosse somente um delírio daqueles dois para que no final ele dissesse: "Eu avisei, era esse moleque o tempo todo".

— O que está acontecendo, papai?! — Ange estava em desespero.

— Os homens maus chegaram, meu cristalzinho!

A garota recolheu-se no colo de seu pai, contendo as lágrimas, por mais que estivesse com medo de um homem que jamais viu em sua vida, o colo de seu pai era o lugar mais seguro que existia naquele momento.

Lucas apanhou a espingarda enquanto sua filha agarrava-se em suas costas. Jack sacou a pistola, que ainda faltava aquela bala que provocou a morte daquele homem de bem, sentiu-se culpado momentaneamente por lembrar-se daquilo mas aquele momento não permitia erros, não permitia outros pensamentos que não fosse ficar vivo e matar Ricardo.

Lucas tentou abrir a porta primeiro. Mas logo Jack colocou-se na frente.

— Ele me quer vivo, então deixe que eu vá na frente, se ele já estiver aqui, eu os avisarei!

Jack saiu a passos cautelosos. A escuridão engolia tudo ao seu redor, ainda não haviam luzes no alpendre da cabana. A ansiedade consumia-o por dentro, suas mãos sequer conseguiam segurar direito a arma, suas pernas tremiam — era vergonhoso — e sua respiração podia facilmente ser ouvida a metros de distância em meio ao silêncio imaculado da floresta.

Diferente do homem que se ocultava na escuridão. Não havia qualquer outro som na floresta além da respiração de Jack e os animais noturnos que hora ou outra soltavam seus uivos. O rapaz não sabia se poderia confiar no silêncio, afinal, alarme fora disparado a cerca de vinte metros, se Ricardo estivesse correndo, certamente já estaria ali, com a arma apontada para Jack, esperando seus outros amigos saírem para executar cada um e fazer seja lá o que com ele.

Outro alarme disparou, porém, dessa vez mais perto. Não devia passar dos dez metros.

— Apaguem as luzes! — Jack balbuciou para seu avô, que imediatamente obedeceu.

Uma luz alaranjada passou a iluminar os troncos de algumas árvores, mas arbustos e folhagens altas impediam que se espalhasse por todo o resto.

— Corram para a casa! — Jack ordenou em um sussurro.

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora