Capítulo 15 - Fantasmas do Passado

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A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
— Albert Einstein


Rick acompanhava o homem de jaleco branco, adentrando em uma sala com dezenas de setores separados por edículas de vidros, cada uma com dois profissionais manuseando máquinas repletas de frascos.

Entre os corredores das edículas, rapazes passavam recolhendo caixas de remédios em carrinhos — certamente para serem transportadas aos caminhões.

Ricardo caminhava junto aos transportadores procurando uma ala específica. Após alguns minutos, recolhia um frasco que a farmacêutica ministrava para ser despachado.

— Aqui está, garoto! — Entregava um frasco laranja com uma tarja preta e um nome quase impronunciável.

— Pra que serve isso? — Rick espantava-se, jamais pensaria que algum de seus "pais" utilizasse remédios assim.

— Epilepsia e convulsão, é muito difícil encontrar em farmácias aqui da cidade, já que seu pai era uma das únicas pessoas que comprava quando vendia, não tínhamos lucro... Hoje só importamos.

— Eu não sabia que o Carlos tinha esses problemas... Pensava que ele só tomava viagra demais! — Debochou, fazendo Ricardo gargalhar.

— Para tudo tem um preço... Ele foi responsável por colocar essa cidade no mapa, mas esse foi o custo: uma doença aparentemente sem cura.

— Como ele fez esse feito? — Rick olhava-o embasbacado.

— Enquanto todo o resto do Brasil testava remédios em animais, ele testava em si mesmo, era pra estar morto hoje, mas parece que Deus estava ao lado dele... — Ricardo sorria cinicamente. 

— Então, ao seu ver, Deus traçou esse caminho para ele? 

Franzia o cenho, revoltado, incapaz de aceitar que Deus faria seus filhos sofrerem de propósito. Como tal ser tão justo é capaz de deixar uma pessoa daquela viva? Como Deus poderia fazer uma mulher com sua mãe sofrer? Seria ao acaso, ou Deus é essa criatura misteriosa que trabalha contra sua própria criação?

— Sei que parece revoltante, mas tudo acontece por um propósito, até as piores coisas. Veja: Nada disso estaria aqui se não fosse por ele. E talvez você nunca tenha nascido!

— Sou adotado — Rick cortava o assunto, afinal, quem não se revoltaria ao escutar a pessoa que mais lhe faz mal ser elogiada? — Agradeço pela conversa, mas James deve estar esperando! — Rick virava-se, caminhando desconcertado à saída.

Porém, Ricardo segurava seu braço, olhando-o no fundo dos olhos. Um olhar penetrante que parecia conhecer cada segredo do garoto. Rick observava-o com medo, paralisando-se.

— Nada é ao acaso! — O homem retirava um papel amassado, corroído pelas injustiças do tempo — Tome, é minha última folha!

— O que é isso? — Rick encarava-o com dúvida enquanto recebia a página.

— Algo que te fará lembrar de mim.

O caminhão percorria a estrada suja da lama que escorria do acostamento. As araucárias, que em dias de chuva rala pareciam guarda-chuvas gigantes, agora não passavam de meros enfeites, já que a água penetrava a floresta, banhando tudo em volta, fornecendo vida ao solo, continuando o ciclo infinito da vida.

— Para onde está me levando? — Jack perguntava em meio ao chacoalhar da carroceria.

A ansiedade do rapaz martelava sobre seu peito, repercutindo em suas extremidades, que tremiam descontroladamente.

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora