Horas se passaram desde que Jack havia saído da cabana. Entre os zumbidos, chiados de correntes elétricas e os açoites dos raios das bobinas de Tesla, algo brilhou no centro do portal. Do encontro dos raios emergiu uma luz branca discrepante entre as ondas de choque roxas. Eduardo virou-se para Lucas imediatamente, com uma feição que transitava da incerteza à uma leve alegria.
— Você viu?! — Gritou de alegria — Você viu aquilo?!
— Estamos progredindo... — Um breve sorriso acendeu no rosto do professor.
— Jack! — Lucas chamou pelo rapaz — Você perdeu algo grandioso!
— Ele... — Eduardo tentou avisá-lo.
Contente, sequer deu ouvidos ao que seu amigo tinha a dizer, apenas subiu as escadas num pulo. Ao chegar lá em cima, só estava a Ange, dormindo sobre o sofá. Já era de noite, percebeu que Jack ainda não tinha voltado. Sacou seu relógio de bolso, em que marcava exatas onze da noite. Desesperado, desceu as escadas para alertar Eduardo.
— Ele ainda não voltou! — Mostrou o relógio — Algo aconteceu! Ele saiu antes do meio-dia!
— Era isso o que eu ia falar... — Eduardo tossiu — Ele não está na casa?
— Acredito que não, ele teria vindo direto para cá quando voltasse! — Lucas levou as mãos à cabeça, desesperado — Eu não devia ter deixado aquele moleque sair! Não devia!
— Ei! — Eduardo chamou atenção — Não foi culpa sua, ele teria ido de qualquer jeito, você ainda quis dar sua arma a ele... Nunca te vi sem ela...
— Temos que ir atrás dele!
— De forma alguma! — Eduardo contestou — Não agora... — Reformulou a resposta — Não seja burro! Não temos carro, se formos a pé, chegaríamos por volta das duas da manhã à cidade! Vamos esperar até o amanhecer... Se ele não chegar, vamos fazer isso, mas agora isso é suicídio, como você mesmo disse: Não estamos seguros lá fora! — Eduardo tossiu — E estou cansado demais para andar...
Lucas sentou-se sobre os degraus da escada. Seu olhar perdia-se em meio às hipóteses que sua mente criava sobre o que poderia ter acontecido com seu neto. Desconcertado, encolheu a cabeça entre as pernas, envolvendo-a com as mãos.
— Eu sou um péssimo avô! — Lamentou-se.
— Não... — Eduardo sentou-se no degrau abaixo — Acho que se eu fosse pai, ou até mesmo avô, não seria metade do que você é — Ele tossiu — Odeio crianças.
— Mas... — Lucas tentou contestar.
— Você já me suporta, isso já mostra o quão bom você é... — Eduardo olhou de canto, de baixo para cima — Nem eu me suporto... — Disse copiosamente seguido de uma tosse.
Os presos se reuniram num amontoado singular, onde discutiam sobre um certo homem misterioso. Jack encontrava-se sentado no chão ao lado oposto dos demais homens, isolado num canto, olhando para o nada. Sua mente vagava em seu passado, nos caminhos contrários que poderia tomar para ir contra aquilo, contra sua ruína. Jamais se imaginou no lugar das pessoas que encontrava provas a favor de uma incriminação, quiçá ser preso preventivamente com a desculpa que era para o próprio bem da sociedade. Sentado em posição fetal, refletia sobre as inúmeras possibilidades de sair dali. Não poderia esperar pela boa vontade dos juízes daquela cidade e muito menos da agilidade dos processos da justiça, já que ali, poderiam ser rápidas o suficiente para que desse tempo dos vermes comerem sua carne.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Science FictionJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...