Naquela noite, todos foram dormir mudos, confortados pelo choro agonizante de Angelita, que adormeceu somente com Lucas ao seu lado. Pela manhã não era como se nada tivesse acontecido, os problemas não davam a falsa sensação de desaparecer mesmo depois de uma noite de sono. Sufocados pela noite anterior, a casa abafada já não importava mais.
Lucas e Eduardo encontraram-se na cozinha em silêncio cada um observando suas feições cansadas. Depois de alguns segundos constrangedores, Eduardo abriu a boca certamente para falar a respeito do ocorrido.
— Não quero sequer pensar sobre isso... — disse Lucas premeditando a atitude do homem, enquanto olhava para fora pela fresta da cortina da cozinha.
— Aquele garoto está mais louco que eu — Eduardo esbravejou em sussurro — Eu sempre confiei em você, mas assim não consigo — Pausou para tossir, seu corpo padeceu brevemente sobre uma das cadeiras, enquanto usava suas forças para expelir o ar de seus pulmões — Tenho que ir embora, isso tudo está me deixando cada vez mais doente!
Lucas continuou olhando pela janela. Jack surgiu entre as árvores, caminhando com uma postura projetada para dentro, arrastado, chegou à casa. Eduardo continuava a esbravejar sobre sua saúde e o rapaz, mas Lucas apenas fez um sinal para que ficasse em silêncio, Jack subia a escadaria a passos pesados.
Ao chegar à cozinha, apenas encararam-no como se fosse um completo estranho. Jack não ligou, estava cansado, e daquele jeito, rastejou ao banheiro. Trancou a porta, respirou fundo aquele ar abafado com cheiro de mofo, depois de uma expressão de nojo devido ao odor, a feição de desamparo foi inevitável ao se olhar no espelho. Estava acabado, com olheiras quase pretas, deixando seu rosto com um breve aspecto cadavérico; mais pálido que a última vez que teve a coragem de encarar o vazio em seus olhos, parecia que não havia nada dentro de si, como se as esperanças que mantinham seu corpo aquecido tivessem esvaído em algum momento.
Jack lavou o rosto e molhou os cabelos, ao menos estando aceitável, não despertava a ânsia de vômito ao ver seu reflexo — Como se fosse possível ficar aceitável daquele jeito.
— Eu... — Jack sentou-se à mesa — Eu não sei o que aconteceu comigo — disse com o olhar perdido no nada — Todos aqueles... — Gesticulava com as mãos em volta da cabeça — Zumbidos... — Respirou fundo — Me desculpem, eu não queria fazer nada daquilo, só estou muito estressado...
Ange apareceu na cozinha no momento em que Jack terminou a frase, mas ao vê-lo, seus olhos desviaram e começou a distanciar-se de costas no caminho que fizera, correu de volta para seu quarto e logo em seguida chamando pelo seu pai.
— Ele é um daqueles homens, papai! — Ange sussurrou quase num tom de desespero.
De cabeça baixa, Jack levantou-se e caminhou em direção à escada.
— Aonde vai? — Lucas perguntou.
— Terminar logo com isso, antes que seja tarde demais!
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Fiksi IlmiahJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...