Capítulo 2 - Rios de Medo e Desespero

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Persistir na raiva é como apanhar um pedaço de carvão quente com a intenção de o atirar em alguém. É sempre quem levanta a pedra que se queima. —Buddah

  — Socorro!

Enquanto um novo dia começava, gritos distópicos ecoavam pela penumbra dos corredores de vidro do prédio da farmácia de manipulação, gritos que pareciam sair rasgando a garganta da pessoa que ali estava, era algo horrendo, quase impossível de distinguir se quem gritava era um homem ou uma mulher.

Passos lentos ecoava ao fundo do corredor que conectava a outro como uma forma de L, que parecia ter um porco grunhindo, fugindo do abate.

— Tique... — Uma voz aveludada e grave ecoava junto aos passos, era como se mil anjos estivessem recitando um poema, ou mil diabos tentando persuadir um mero mortal.

— O que você quer?!

—... Taque — Completava o homem.

A luz vermelha da saída de emergência da escadaria ascende-se bem atrás da pessoa que ali gritava. Agora podemos ver que entre aquele labirinto de corredores de vidro, estavam manchados de sangue, rastejava uma bela mulher, ou ao menos era. Seus olhos estavam inchados, derramando breves filetes de sangue, seu lábio inferior estava cortado e seu nariz sangrava. De seu couro cabeludo, entre seus belos fios loiro, escorria mais do mesmo líquido vermelho que atrapalhava sua visão.

Sua roupa de farmacêutica estavam em trapos.

algumas de suas unhas da mão e do pé foram brutalmente arrancadas, deixando grandes buracos de carne viva. Uma de suas pernas fora deslocada, deixando-a inútil.

— Alguém me ajuda!

Os passos chegavam cada vez mais perto, e quanto mais se aproximava, mais a angústia predominava no corpo da mulher fazendo com que ela escorrega-se no próprio sangue tentando rastejar mais rápido.

— Me deixe em paz! — implorava a mulher enquanto escorriam fios de lágrimas e sangue de seus olhos inchados.

— Tique.

Aquela voz grave já estava a alguns metros atrás da mulher, e com esta, vinha acompanhada uma silhueta que virava a esquina entre os corredores, cobrindo a pouca fonte de luz que havia ali. Para a moça, ele era como uma muralha ambulante, aquela sombra preta enorme a paralisava de medo, como uma estaca que fora fincada em seu peito impedindo que ela se movesse.

— Taque, acabou seu tempo — O homem diz calmamente.

— O que você quer?!

— Você já sabe o que eu quero — Ele diz calmamente, enquanto se aproxima lentamente — e você, o que quer?

— Deixe me ir, seu miserável!

Os dois já estavam a menos de um metro um do outro, mas era impossível ver seu rosto. A muralha ambulante enche-se de ódio, levanta-a pelos cabelos a ponto dela ficar com os pés fora do chão, e grita:

— Se quer ir, fale com educação! Em nenhum momento eu gritei com você, sua miserável! —

Então, ele a solta no chão, e junto ao estrondo, um barulho de osso se deslocando, era de fato o de sua perna saindo mais do lugar, que acompanhava gritos de dor.

— Me mate logo, pelo amor de Deus — diz a mulher com quase todas suas forças se esvaindo.

O homem agacha-se, ficando a centímetros do rosto da moça e diz calmamente:

— Deus não joga dados, tudo o que está acontecendo ou vai acontecer, já aconteceu e está acontecendo simultaneamente, passado, presente e futuro. Se isso está acontecendo, é porque seu Deus não te ama.

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora