Capítulo 16 - Reflexos do Tempo

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Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.
— Dalai Lama

A chuva não o incomodava mais, suas extremidades que antes tremiam, agora pareciam bailar em meio a chuva, seus sapatos, que antes enrugavam-se ao topar com uma poça d'água, agora pareciam impecáveis a cada encontro, ansiando pular em cada uma del...

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A chuva não o incomodava mais, suas extremidades que antes tremiam, agora pareciam bailar em meio a chuva, seus sapatos, que antes enrugavam-se ao topar com uma poça d'água, agora pareciam impecáveis a cada encontro, ansiando pular em cada uma delas no caminho para casa.

Jack estava diferente, conseguira uma breve solução para seus problemas — mas, e se fosse como quando sua mãe migrou para o hospital da cidade? E se aquele momento de felicidade fosse somente mais uma das armadilhas doo universo? Uma daquelas falsas vitórias, que nos fazem desistir após a quebra de expectativa?

"Não, está tudo diferente, eu posso sentir, algo novo começou... Não sei o que é, mas posso sentir..." pensava, a fim de negar os pensamentos obscuros do fundo de sua mente pessimista.

Por mais que estivesse em um estado de felicidade — quase — plena, ainda teria que encarar o verdadeiro presente: um lugar sujo, onde sua mãe não existe mais; fôra consumida pelas desgraças do tempo, enquanto seu pai se afogava em melancolias, esperando o mesmo destino de Ange o mais rápido possível.

De volta a porta de sua casa, tudo parecia sem cor, mas para Jack, aquela monocromia servia de inspiração para, quem sabe, um capítulo de seu novo livro. O trinco fazia barulho ao girar a chave, a porta rangia ao abrir, e lá de dentro da casa, seu pai saía furioso.

— Você saiu e nem avisou nada?! Me deixou aqui!

— Deixei um bilhete na porta da geladeira, não quis te acordar, parecia dormir tão bem — Jack olhava-o com compaixão, como se quisesse sanar a turbulência da alma do velho.

— E onde estão as coisas que foi comprar? 

— Estava tudo fechado, a tempestade foi forte pra lá — Inventava uma desculpa.

Jack cruzava o quintal, ficando frente a frente com seu pai, olhando-o com carinho sobre a cobertura da garagem. A diferença de altura entre ambos era significativa, Jack parecia uns dez centímetros mais alto, talvez fosse culpa das comidas industrializadas da cidade, ou simplesmente pelo fato de ter ajudado na roça desde cedo.

Os olhos de Marcus pareciam assombrados por uma melancolia profunda, petrificado por olheiras de insônia, já que mal dormia desde que Ange piorou, apenas sobrevivia com breves cochilos para sempre saber se sua amada ainda respirava. Mas agora, não precisava mais perder noites de sono para garantir a segurança de alguém, exceto se o vazio em seu peito o permitisse dormir.

Jack abraçava-o com um sorriso no rosto, Marcus não entendia muito bem, mas aos poucos, aderiu ao gesto, envolvendo o rapaz em seus braços. Naquele momento, Jack parecia compartilhar todo o sentimento positivo após reencontrar sua mãe, como se a alegria fosse transmutada de coração para coração em uma linha invisível de sentimentos.

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora