Capítulo 49 - O Segundo Nome

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As mãos de Jack contorciam-se entre as alavancas do portal, cada tecla que apertava ele precisava de mais força do que o normal, já que seus dedos eram como espaguetes. Não havia força em seu corpo após ser aturdido pelo labirinto temporal que ele mesmo viajava. Ele respirou fundo, deixando o ar queimar seus pulmões e retornou algumas semanas. Assim que pôs os pés naquela nova linha temporal, deixou o ar escapar pelas suas pregas vocais em um berro rouco. Das escadas, logo seu avô desceu. Seu rosto era de um homem mais cansado do que Jack se lembrava, ao sair da cabana Lucas estava feliz por estar com Ange, mas aquele estava visivelmente exausto.

Ao cravar os olhos em Jack, Lucas caiu de joelhos. Suas mãos perdiam-se em sua barba longa e grisalha — Jack seguia o mesmo caminho, deixando sua barba por fazer e seus cabelos crescerem sem o mínimo cuidado. Lágrimas corriam pelos olhos de Lucas, enquanto seu neto o envolvia com os braços.

— Eu consegui os remédios! — Tentou sorrir, mas o choro do bebê desfigurou sua breve feição de felicidade em poucos segundos.

— Eu pensei que tinha morrido! — Lucas cessou o choro assim que colocou os olhos no bebê — O que é isso, Jack...? — Sua voz falhou.

— Quero acabar com isso de uma vez por todas — Ele acariciou os cabelos desarrumados de seu avô —, eu vi sangue por toda a cabana quando viajei para outra época, não havia ninguém, apenas sangue!

— Não me diga que...

— Eu não sei quem ele é, se é Rick, ou... — Jack pegou Ricardo dos panos que o prendiam ao seu corpo.

O bebê chorava e contorcia-se nas mãos de Jack, enquanto o rapaz olhava-o como se aquilo fosse somente um pedaço de carne, como se fosse o objeto de uma pesquisa.

— Tire essa criança daqui, devolva para quem você pegou. — Lucas disse em um tom baixo e ameaçador.

— Se for Rick, tudo pode ser diferente, imagine se mudarmos a forma como ele cresceu, ou como enxerga as coisas!

— Não! — Lucas deixou um urro escapar de sua garganta, encarando-o com um olhar que o atravessou, um olhar que se lembrava resquícios de uma corrupção da alma, talvez um reflexo de já ter mexido com a viagem no tempo no passado, ou por saber que perdeu tudo e não restava nada além de uma versão velha de sua filha e um neto que arruinava sua vida aos poucos. — Você não entende? Isso é um paradoxo, Jack! Se você muda os motivos para estar aqui, então o que resta?! Retornar para o ponto de origem? Um novo começo? Eu queria poder mudar as coisas, queria ter minha vida de volta, minha mulher, minha filha... Mas não posso! — Lucas levantou-se vagarosamente e foi até à escada. — Talvez o homem que quer te matar esteja certo, não há uma outra resposta a isso tudo além de continuar nesse loop de desgraças! Eu sinceramente gostaria de encontrar a resposta contrária para isso, gostaria de dizer para mim mesmo que eu estava errado, mas não... — Lucas abaixou a cabeça com uma feição de tristeza cravada em seu rosto. — Estamos fadados a isso...

— Não... — Jack cortou-lhe com os olhos — Jamais repita isso! Nós podemos mudar isso tudo, só precisamos saber como, temos livre arbítrio!

— Isso não existe, Jack! Está tudo traçado, nada é ao acaso! Deus não joga dados, garoto...

— Deus não joga dados... — Ele repetiu em tom melancólico.

— Você não devia ter feito isso... — Lucas olhou de canto para a criança, e logo subiu as escadas, sua cabeça estava baixa, envergonhado de Jack.

Jack o acompanhou, sua mãe estava deitada no sofá. Ela olhou-o de canto, mas não disse nada, sequer deu um sorriso, Ange estava fraca demais.

— Eu trouxe os remédios, mãe — Jack ajoelhou-se ao lado dela e abriu um enorme sorriso.

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora