Capítulo 31 - Estamos mortos

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"Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez"

William Shakespeare

— Como você está, meu filho? — Alissa perguntou afagando os cabelos de Rick

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— Como você está, meu filho? — Alissa perguntou afagando os cabelos de Rick.

O olhar piedoso da mulher repousava sobre o rapaz, o medo por trás de seus olhos ainda a inquietava em relação ao que Rick poderia desenvolver com aquela tentativa de homicídio. Enquanto, ao mesmo tempo, seus dedos o acariciavam devagar, como se ele retrocedesse a apenas um bebê, delicado, frágil, podendo morrer a qualquer momento, pelo mínimo descuido.

— Estou, mãe! — Rick balbuciou, como um bebê aprendendo a falar.

A boca do rapaz permanecia entreaberta, já que encostar os dentes debaixo dos de cima, causava-lhe uma dor insuportável, como se seus ossos estivessem sendo esmigalhados em milhares de pedacinhos simultaneamente. Devido aos curativos que tapava o nariz, sua voz saía anasalada. Misturado ao tom arrastado e rouco que o rapaz adotara como um reflexo de sua apatia a tudo ao seu redor, sua fala tornou-se algo insuportável de se escutar, como se o que não dissesse respeito a tentativa de homicídio não tivesse a menor importância.

Alissa o observava cabisbaixo, como se o rapaz se tornasse uma massa de carne vazia vagando no tempo. As mãos dela tocaram as bochechas secas do rapaz, erguendo seu rosto para que ela pudesse olhar em seus olhos. Um olhar omisso, impregnado de melancolia e raiva, somado a um brilho de ressentimento que parecia ofuscar a passividade momentânea de Rick, já que ainda digeria as coisas que seu eu do futuro lhe contara.

— Suas bochechas parecem as minhas — Alissa sorriu melancólica.

Rick apenas sorriu forçadamente, enquanto desviava o olhar.

— Sabe — Ela deitou ao lado do rapaz, esparramando seus cabelos no de Rick —, na noite em que eu perdi a criança que eu estava grávida, eu senti que minha vida não faria mais sentido... — Ela passou a mão pela barriga, como se ainda pudesse sentir o volume da gravidez. — Eu lembro de me olhar no espelho e ver um rosto triste, como o que você está agora, eu sei o que você está passando, meu filho.

Por mais que Rick fosse adotado, os dois pareciam ligados, como se em algum momento dividissem dos mesmos nutrientes, como se ele, algum dia, fosse um feto dentro daquela barriga, era loucura cogitar aquilo, mas era certo que jamais existiria outra mulher que Rick poderia chamar de mãe, se não fosse Alissa.

— Eu estou bem! — Afirmou apático seguido de uma tragada do ar com a boca.

— Um ano depois, eu te encontrei naquele orfanato! — Ela abriu um largo sorriso — Você com aquelas mãozinhas, todo pequenininho! — Os olhos de Alissa umedeceram-se. — Era tão lindo, como se você fosse aquele bebezinho que eu havia perdido... Eu reencontrei o motivo para continuar viva!

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora