Capítulo 25 - Parte I - O Saudosismo que Corre no Sangue

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O passado e o futuro parecem-nos sempre melhores; o presente, sempre pior. 

— William Shakespeare


O rapaz deu um passo à frente, mas logo congelou em seu lugar

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O rapaz deu um passo à frente, mas logo congelou em seu lugar. Ele viu o motorista sentar-se, ajeitar o encosto personalizado de crochê do banco, ajustar o retrovisor e engatar a primeira para sair. Jack continuou andando em ritmo acelerado, queria descer, talvez o motorista deixasse ele passar.

Porém, ao chegar na catraca, Jack paralisou novamente ao ver os prédios ao longe se movendo, e o ponto de ônibus ficando para trás. Contudo, ao olhar para o ponto, viu uma figura estranhamente familiar o observando: um homem trajado de roupas de farmacêutico o fitando com um sorriso abissal cravado por uma cicatriz que subia da boca ao início da testa. Jack seguiu-o com a cabeça enquanto ele ficava para trás.

O detetive olhou em volta, seu rosto estampou-se de uma brancura fantasmagórica, suas pupilas diminuíram-se a pontinhos; sentiu perder a força das pernas e recostou-se num canto qualquer.

Boquiaberto, riu de confusão, não sabia se estava no caminho certo, questionava-se por que Ricardo sorria para ele, talvez fosse um blefe.

Ao término da viagem, Jack desceu no ponto de ônibus próximo à fazenda e seguiu pela estrada de terra até a porteira. Olhou em volta para garantir que ninguém o seguia ou o observava, porém, nada além das araucárias em decadência que o faziam companhia. Pela primeira vez em anos, percebeu o quanto elas diminuíram perto da fazenda, as que restavam ali eram ofuscadas por outros tipos de árvores. Observando-as, uma sensação melancólica instalou-se ao lembrar de quando o local era recheado por elas.

O rapaz tentou abrir a porteira, mas estava trancada. Pulou-a, atravessou o campo e lá estava a casa. Independente de quantas vezes Jack a observasse, sentia-se uma criança novamente, vivendo entre aquelas madeiras que lutavam contra as forças do esquecimento do tempo. Contudo, pela primeira vez, viu mofo naquelas paredes, alguns pontos brancos brotavam no rodapé da casa, próximo a uma poça d'água que se formava devido uma infiltração na parede, Jack fitou melancólicos aquele bolor. Mesmo que a casa resistisse, ela parecia triste, como se aguardasse seus moradores para preencherem o vazio de seu interior.

Jack adentrou à casa. Estava tudo apagado, sequer um sinal de seu pai.

— Pai?! — Sua voz reverberou pela casa e nada, somente eco cavernosos como resposta.

Os gestos apassivadores de Jack iniciaram-se: o rapaz começou a estalar as juntas dos dedos e afagar as rebarbas da roupa. Os primeiros sinais de ansiedade já estavam presentes, Jack conferiu suas mãos: ainda não tremiam, mas o segundo sinal já chegava: a breve sensação da perda de força nas pernas, depois disso era só aguardar os surtos.

Jack saiu da casa, caminhou até a cachoeira no fundo do lote. O som da água caindo saltava aos ouvidos do rapaz, ao descer o aclive que o separava da vista da cocheira, viu seu pai sentado à beira da água, banhando os pés.

O Abismo Temporal de Jack BruceOnde histórias criam vida. Descubra agora