"Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las."
— Sêneca
Jack e Lucas permaneceram trancafiados na casa enquanto o senso de perigo não passava. Por mais que não parecesse haver ninguém do lado de fora, Lucas insistia em ficar alerta, agora, porém, de volta ao quarto onde espiava o exterior com a lente de sua arma.
— Tem certeza que ainda há algo lá fora? Acho que já devem ter ido embora, você está aí há horas — disse Jack, apoiado sobre o arco da porta.
— Vá brincar com Ange, ela deve estar agitada — Dispensou-o como uma criança.
Jack cruzou o corredor até a sala. A menininha estava sentada numa cadeira, balançando seus pezinhos, enquanto observava o teto de forma lúdica, de certo imaginava cenários fictícios onde podia estudar melhor, onde tinha amigos e não precisava se esconder de tudo a todo momento. Jack fitou-a com dó. Como era estranho olhar para ela.
— Oi, moço — Ela notou a presença do rapaz.
— Oi — Seria loucura chamá-la de mãe? — ,Ange.
— Você é muito amigo do meu pai, não é?
— Ele está me ajudando por enquanto, preciso resolver algumas coisas — Ele sentou-se com ela à mesa.
— Que coisas?
— Preciso reencontrar algumas pessoas e voltar para casa — A voz de Jack falhou.
— Quem? — Ela fitou-o, curiosa.
— Minha mãe... — Jack passou a mão nos cabelos da garota, definitivamente não lembravam os de Ange que conhecia.
— E onde você mora ?
— Em um lugar muito longe daqui — Ele sorriu ao enxergar a inocência com a qual a garota se comunicava, ao menos aquilo aliviava a tensão de décadas de distância de onde realmente pertence.
— Você conhece meu pai há muito tempo? — Indagou, novamente.
— Não muito.
A garotinha disparou a falar, Jack apenas a ouvia, concordava com algumas coisas e respondia superficialmente outras. Imaginava a vida solitária que ela levava naquela casa, sem contato com outras crianças, nem com outros seres vivos além de Lucas. Talvez ela o usasse como válvula de escape, afinal, anos trancada em uma casa com somente uma pessoa tivesse cortado sua imaginação ao ponto de sequer conseguir conversar com o pai sobre assuntos banais de criança. Jack jamais imaginou que sua mãe vivera aquilo.
— Nada... — Anunciou Lucas ao adentrar à cozinha — Não há ninguém do lado de fora — Ele deixou o peso do corpo cair contra uma das cadeiras.
— Está todo mundo bem? — Questionou olhando para uma pequena fresta da janela, de certa forma ainda ansiava que algo saísse da floresta para atacá-los, ao menos teria concretizado as coisas que temia, ao menos teria desabado um peso de seus ombros.
Ange e Jack afirmaram.
— Eu temo ser tarde demais... — Balbuciou Jack.
— Para o quê?
— Para ver minha mãe.... Talvez voltar a ter a vida que eu tinha — Jack riu de nervoso — Acho que qualquer coisa que vier é lucro — Jack fitou seu avô com olhar melancólico, como se as esperanças estivessem esvaindo de seu corpo. Se Ricardo não soubesse onde estava, ao menos teria motivos para poder descansar e continuar em frente com mais energia.
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O Abismo Temporal de Jack Bruce
Science FictionJack recebe uma ligação misteriosa de uma idosa pedindo para investigar um caso aparentemente banal, mas o rapaz descobre que o lugar de onde veio a ligação está abandonado há décadas, sedento por dinheiro para conseguir tratar o câncer de sua mãe...