Capítulo 4

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Olho fixamente em seus olhos e me preparo para o pior. Peter, que aparentemente gosta de causar sofrimento no próximo, demora longos segundos até começar a falar.

— Cada casa é como uma fraternidade, porém elas abrigam de crianças a adultos por grande parte da vida. Essa não é diferente, lá dentro há apenas crianças. — Ele abre a porta e sai, eu, ainda esperando uma condenação, demoro a perceber que era só isso.

Rapidamente então, me levanto e o sigo para dentro da casa.

Cruzo a porta e imito cuidadosamente os seus movimentos, limpando o pé no tapete e caminhando do hall de entrada até a área direita da casa. Dou de frente então com uma bela sala que não tem tevê, mas sim amplos sofás e, como já havia sido informada antes, crianças ou devo dizer adolescentes? Realmente não sei.

Noto sete deles, todos param o que estão fazendo e olham para mim por menos de meio segundo e voltam ao que estavam fazendo.

Bem, parece que eu não sou nada interessante, será que isso já aconteceu antes? O que será que essas crianças já presenciaram? Isso me deixa em pânico por elas.

Meu estranho marido continua sua caminhada, passa pelo meio da sala de cor bege com lâmpadas amareladas e adentra em uma sala fechando a porta atrás de si. Todos os três meninos e as quatro meninas ali voltam a atenção para mim, o que novamente logo se torna desinteressante.

Eu continuo parada sem saber o que fazer, tudo isso é demais para processar. Alguém toca meu ombro e eu tomo um leve susto, ao me virar noto uma senhora rechonchuda e pálida que me concede um caloroso sorriso.

— Olá criança, eu me chamo Maria, venha comigo. — Eu sorrio de volta, não estou acostumada a sorrirem para mim, então isso me parece estranho.

Sigo a mulher para o lado esquerdo da casa cruzando o hall de entrada, que observo ficar de frente para uma linda escada que conecta ao segundo andar. Na outra extremidade da casa tem uma bela sala de jantar com uma mesa em madeira imensa, e seguindo adiante chegamos à cozinha.

— Essa é a cozinha, onde é minha responsabilidade, menos aos domingos, é claro. — Entendi aos domingos, eu cozinho. — Eu cuido de supervisionar todos e qualquer coisa pode me pedir, seja bem-vinda minha querida, vou chamar o pequeno Peter para te levar ao quarto.

Gostaria de pedir para ela não se incomodar, afinal eu não tenho a menor pressa. Ao caminhar de um lado para o outro na cozinha de tom cinzenta, ouço barulhinhos pelo chão, ao rodear a bancada vejo uma bela golden retriever.

— Oi meu amor, vem cá vem! — Chamo ela, que meio envergonhada, meio afobada chega até mim. — Oi, coisa linda, como é seu nome? Aposto ser um nome lindo que nem sua casa.

Ao verificar a coleira vermelha aprendo que o nome dela é Raje, não me canso de fazer carrinho nela, sempre quis ter um cachorro, mas como não podia cuidar e não queria ver o pobrezinho magrelo como os da rua optei por não pegar nenhum para mim.

Assim que me levanto, noto o temido sr. Andríc na porta, que me olha com cara de poucos amores.

— Vamos subir. — Dito isso, minhas pernas vão em direções opostas como se quisessem abandonar o corpo, eu faço todo o esforço para segui-lo e ao chegar na escada cada degrau parece estar me aproximando do fim eminente.

Estou apavorada.

Chegamos então a um amplo corredor com várias portas, Peter entra na última. Não posso deixar de notar o luxo do lugar, só o tamanho dá o dobro da casa em que morava antes, então noto algo que me faz querer chorar.

— A do canto é sua cama e aquela porta leva para o banheiro. — Sim, há duas, duas camas de casal. E mais uma vez a esperança do caso gay me alivia pelo menos um pouco.

Comprada sem razões Onde histórias criam vida. Descubra agora