Capítulo 32

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A lua se estaciona no céu e com ela uma dor agonizante se instala no meu peito também. Estou pela primeira vez nesse quarto sozinha, na nossa cama sozinha e eu odeio. Não faz nem um dia que ele se foi e estou morrendo de saudade do meu branquelo.

Escuto um som de algo raspando a porta do quarto e depois do meu medo passar resolvo verificar.

— Oi menina, o que está fazendo aqui? Decidiu abandonar Jack? — Ela cruza a porta passando por baixo das minhas pernas e pula na cama.

Ela me olha e vejo seus olhinhos de compaixão focados em mim, ela veio para não me deixar sozinha.

Deito na cama e abraço Raje, Peter vai me matar assim que descobrir que deixei o cachorro dormir aqui. Meu riso se esvai com a possibilidade de eu jamais poder contar isso a ele.

Tento ser positiva, mas a vida já me deu tapas demais para eu esperar carinho. O mundo é cruel e eu o conheço muito bem, minhas lagrimas descem e o leve choro de Raje se intensifica.

— Desculpa, menina, estou tentando manter a esperança, mas a situação não é nada fácil. — Ela lambe minhas lágrimas e se aconchega em meu pescoço. — Obrigada.

Agradeço por sempre ter alguém comigo, independente de às vezes ser um serzinho peludo que não pode falar. Adormeço aquecida por uma coberta viva e sou levada a bons sonhos pelo seu leve cheiro de morango.

Terça vem e demora uma eternidade para se transformar em quarta, a tensão aumenta a cada hora.

Não há telefonemas ou cartas, então quinta vira sexta e nesse quinto dia, meu marido não volta.

Ele não entra pela porta sorrindo para mim.

Ele não volta às 08:00, nem às 10:00 ou às 16:00. Ele apenas não volta para casa.

Quando cheguei aqui, meu maior desejo era que Peter sumisse e me deixasse sozinha, acho que o universo gosta de tacar minhas escolhas da forma mais maldosa possível na minha cara. Ele pode estar morto em algum lugar desse mundo e eu sei que uma parte de mim está morrendo com a ausência dele.

Agora que experimentei seu amor e ele já se enraizou em mim, não consigo me imaginar viver sem ele, viver feliz pelo menos.

Já são 22:00 e tenho que lidar com o fato de que ele provavelmente não vai voltar. Não sei a quem procurar e com quem falar, se o pai dele conseguiu dar um jeito nele, sei que o maldito virá por mim, o pensamento me causa calafrios, porém não tenho tempo para isso.

Tenho que bolar um plano para sair daqui e ainda preciso levar sete crianças comigo, não tem como deixá-los pra trás depois de saber das atrocidades que os pais deles são capazes de fazer, somos família e se estou em perigo, todos nós estamos.

Quando o relógio anuncia a primeira hora de sábado, eu já esgotei todas minhas possíveis ideias e aí me permito chorar, vou chorar por tudo que eu estou prestes a perder e depois prometo tentar de novo. Abraço Raje, que tem me feito companhia todos esses dias e deixo que minhas frustrações molhem seu pelo.

O inverno está passando, a neve está derretendo, mas ainda está bem frio, porém ainda, sim, escancaro a janela para sentir o ar gelado; eu preciso sentir algo além da faca que rasga o meu coração e do medo que se espreita em cada canto desse quarto.

Estou apavorada e não tenho ninguém para me abraçar e dizer que isso vai passar, o amor da minha vida não pode me consolar, então mais uma vez eu volto à estaca zero e me abraço me confortando como sempre tive que fazer.

Adormeço e nenhum pesadelo consegue me fazer sentir pior do que já me sinto, mas posso assegurar que eles tentaram.

Minha linda guardiã amarela fez questão de não dormir essa noite para que eu fosse observada e sempre que eu acordava chorando, ela enxugava minhas tristes gotas salgadas e rolava sobre mim para que eu pudesse voltar a sorrir.

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