Capítulo 39

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Sangue. Pavor. Falta de tempo. Decisões que não podem ser adiadas.

É assim que eu também cruzo a linha.

— Ajuda... — Eliza só diz isso.

Um grito cruza o silêncio da cozinha, e quando ele é seguido por outro sei que preciso fazer algo. Me viro e agarro a faca que a loira se apega, suas mãos tremulas se solta facilmente, a faca está pegajosa e eu evito olhar para minha mão, pois sei que ela estará nojenta com aquele tom de vermelho que está espirado sobre meu corpo.

Em segundos eu cruzo a porta tirando Eliza e Claire do meu caminho, escuto um baque atrás de mim e assumo que Peter largou o cadáver para acudir as meninas.

Logo avisto Adriana seguida por Dion, eles continuam gritando e um monstro os segue, o outro russo está baleado na cara e seu sangue escorre violentamente para baixo. Como ele ainda está de pé?

Ele corre atrás das crianças de modo desengonçado como se tivesse bêbedo, numa manobra os meninos vão para baixo da mesa e eu entro em ação.

Não sei o que fazer, mas quando o vejo agarrar a cadeira empurrada pelos dois pequenos, sei que preciso dar um jeito nisso.

Meu coração, por incrível que pareça se acalma, eu paro de respirar e então a faca na minha mão desce pro pulso dele. Sinto a lâmina rasgando os nervos dele e a adrenalina consome meu corpo.

Os gritos dele despertam algo em mim e eu vou com a faca pra cima dele, enquanto ele usa toda sua força contra mim. Ele me chuta me fazendo bater a canela com toda força no pé da mesa de canto da sala de jantar.

Eu grito.

Ele está sobre mim e segura minha faca mesmo que isso faça com que ele corte a palma da sua mão boa.

Assim que o meu grito se cala, outro som ecoa, outro tiro.

Essa é a vez de Peter cruzar a linha, ele acerta um tiro na nuca do meu agressor e o russo cai sobre mim.

Estou tremendo e me sinto Carrie a estranha de tanto líquido que há sobre mim. Eu preciso tirar esse cara de mim.

O sangue dele está na minha boca, eu cuspo, mas o gosto não some.

Eu olho ao redor e vejo morte. Vejo minha família e a mais pura e fresca morte, então penso nos tiros, olho em volta e não o vejo, cadê ele?

Jack...

Jack, cadê você?

— Temos que sair daqui... temos que ir agora! — Peter grita com as meninas nos seus braços e a arma em sua cintura.

— Eliza... Jack? — Eu pergunto e seus olhos me assustam.

Eu corro, corro em direção à biblioteca e ao entrar vejo o corpo estirado no chão baleado.

Eram três deles.

— Eu... eu sabia que Peter tinha uma arma embaixo da mesa, eles atiraram e eu atirei neles, não... não consegui matar o outro de primeira... não consegui.

O tremor na voz dela não consegue tirar meus olhos de Jack em posição fetal no chão.

Em posição fetal sobre o corpinho baleado de Raje.

Ela choraminga tão baixinho e ele acaricia sua cabeça, seus olhos estão virados para porta, para mim. Os olhos cor de avelã da minha menina estão tão tristinhos, ela está com dor.

— Atiraram nela, por que atiraram nela? — Jack se vira para mim e eu não sei como responder, por que atirariam nela?

— Temos que ir? — Eu sei que temos, mas...

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