"Sua imunda, cala a boca, você vai ser boazinha ou eu vou ter que ser malvado..." Escuto ele rir enquanto aperta minha garganta, eu não quero sair de mula levando essa merda para ele, mas o gosto de sangue na minha boca continua forte devido ao último tapa que ele me deu, quero que ele tire as mãos de mim. "Lembra que se você for boazinha o Tio aqui vai te recompensar depois, você não está com saudade?"
— Por favor, não... não faz isso. — De novo não.
— Ei, calma... foi só um sonho ruim, eu estou aqui. Vou proteger você, eu prometo. — Peter me abraça pela segunda vez na noite, depois de hoje mais cedo, os pesadelos estão me massacrando.
— Desculpa te acordar mais uma vez. — Eu falo aos prantos.
— Está tudo bem, eu não me importo. Quer que eu vá pegar as meninas? — Aceno para ele, acho que com elas aqui vou dormir melhor.
Ele sai e logo volta com elas em seus braços, elas nem acordam, apenas se movem até estarem completamente enlaçadas em mim. Não sei quando esses pesadelos vão me abandonar, mas eu torço para que eles sumam um dia.
A manhã se segue e eu tento deixar isso pra lá, foco meus pensamentos no teste que vou ter hoje que pode me certificar como fluente em francês. Vou até a sala costumeira e pela primeira vez desde que vim aqui o sr. Fitz não está nada gentil comigo.
Ele está muito agitado e calado.
Os olhos dele estão esbugalhados e sua boca fina, que sempre reproduzia um sorriso, agora está em uma linha reta. Talvez ele esteja em um mau dia.
Vou para o meu lugar, sem seus cumprimentos e então antes que eu possa me sentar, ele resolve falar comigo.
— Sra. Andríc, troque de lugar com o sr. White, por favor. — Sua voz sai firme, mas percebo um tremor nela. O homem amarelo e gordinho, sr. White, me olha confuso e se senta então em minha carteira. Eu, sem poder argumentar, me sento no outro lugar, a última carteira da sala, do lado da última e ampla janela.
O que está acontecendo aqui?
A aula não demora muito e eu faço o teste bem rápido, o professor pede para que o deixemos em cima das nossas mesas em vez de entregar diretamente para ele como sempre fazemos.
Durante todo tempo o ruivo professor ficou me encarando e encarando a janela, como se algo de repente estivesse para acontecer e ele não pudesse perder. Seu olhar me lembra o de um peixe morto que não possui mais nenhum sentimento e, ao mesmo tempo, causa pavor em quem olha.
Estou começando a ficar com medo.
Ao sair no corredor todos os outros professores que vejo me olham de cima a baixo e se afastam de mim da maneira que podem, alguns trocam de lado, outros trocam de corredor e ainda outros voltam para o lugar de onde vinham. É como se eu tivesse com uma doença e fosse contagiosa.
Eles estão com medo de mim?
Por quê?
Encontro Josie aos papos com Adriana num banquinho do lado de fora, pela cara delas a coisa não é boa. Josie está sentada sobre suas pernas e seu olhar e postura são cuidadosos, olho ao redor e nada me parece estranho, porém, ao mesmo tempo, parece que tudo está errado, tem algo muito errado aqui.
Adriana me olha enquanto eu me aproximo, seus olhos gritam medo. Seu capuz vermelho, com seu crespo cabelo, escondem seu rosto, quando estou perto o suficiente vejo como ele parece apavorado.
— Gente? — Eu não sei o que dizer, então não digo mais nada.
Olho ao redor e do outro lado de onde estamos, vejo o velho e magro faxineiro nos encarar e quando ele nota o meu olhar, ele solta uma de suas mãos que estava firme entorno do seu esfregão, ele faz um sinal como se estivesse esticando os dedos repetidamente, ou como bem sei "corre", eu sou a única que o vi e ele logo se vai como se houvesse uma bomba aqui.
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Comprada sem razões
RomanceCelina é uma menina, que muito cedo deixou de ser criança, sem pais, deixada a mercê de uma mulher questionável na infância, teve que aprender a sobreviver chamando o mínimo de atenção possível. Ela não teria porque ficar ali se não fosse as demais...