10 anos depois
O calor do Brasil sempre me surpreende, depois de meses não consigo me acostumar, mesmo de manhã o sol já aparece com ódio. Mas nesse dia não me importo, na verdade, valeu a pena. Só de me lembrar de estar sentada naquelas cadeiras de madeira, no meio daquele jardim enfeitado, olhando para aquela faixa, eu me sinto tão grata. A faixa em questão dava parabéns aos alunos aprovados em seus cursos superiores, aqueles que passaram para entrar na faculdade.
"Uma salva de palmas para Luiz Oliveira das Cruzes, nosso futuro médico." Quando a reitora disse essas palavras eu tive certeza que sabia o que era se orgulhar de alguém, meu menininho venceu contra todas as probabilidades.
Eles não sabiam que estaríamos aqui, então foi uma grande surpresa para eles quando eu assobiei no meio da multidão para ter suas atenções. Finalmente eu consegui revê-los.
— Celinha? Maninha? — Ele correu e me abraçou, é muito estranho agora que ele dá dois de mim, mas seu abraço sempre será o mesmo, eu acredito, pois fechei meus olhos encharcados e senti como se meu irmãozinho estivesse ali e ele estava. Ele finalmente estava.
Seu cabelo encaracolado estava raspado e suas bochechas tinham sumido, ele era forte e tinha um dos sorrisos mais bonitos que eu já vi. O irmão que vinha logo atrás estava tão lindo, magrelo como sempre foi e o cabelo grande em ondas me lembrava de quando ele nem batia no meu joelho.
— Estou orgulhosa de você, de vocês dois. — Eu me afasto um pouco para puxar Miguelzinho, que agora é tão grande quanto o irmão, e o envolvo em nosso abraço.
— Você está bem, se cuidou, cumpriu a nossa parte do trato. Eu também cumpri minha, irmã, me tornei alguém digno de merecer tudo o que você fez por mim, estou tentando pelo menos.
— Por nós, eu te amo tanto. — Eles me abraçam tirando meu folego.
— Vocês sempre foram dignos de tudo de bom que a vida tem para oferecer e eu não pensaria duas vezes se tivesse que fazer tudo de novo por vocês, são meus garotos, irmãos são pra isso, não?
Foi o dialogo mais marcante e esperado da minha vida, eles surtaram quando souberam que o nome do meu terceiro filho era Luiz Miguel, Miguel é claro reclamou, pois achou que seu nome deveria vir em primeiro.
Eles amaram rever as meninas e conhecer Peter.
"Qualquer coisa que precisar me liga, amo vocês." Foi a última coisa que disse a eles antes de os deixamos depois do almoço. Os pais deles fizeram um bom trabalho, eles são bons garotos. Gosto de pensar que fiz um bom trabalho também.
Estou na minha época favorita do ano, nossa família é muito grande e vive espalhada pelo mundo, mas temos um combinado, todo ano nós nos reunimos por uma semana não importa o que. E nesse ano o lugar é nossa casa. Não que paramos em um lugar específico todo ano, não, nós nos mudamos à beça, mas esse povo nos supera e é surreal como eles não conseguem manter a bunda em um lugar por mais de um mês.
No aeroporto Peter, as crianças e eu esperamos até com cartazes. As meninas estão tão grandes que eu tenho medo de que os tios acabem as levando de mim. Duda, influenciada por Eliza, é claro, está com o cabelo azul, a parte de baixo, obviamente, eu não deixaria ela pintar todo o cabelo. E Isa no auge dos 12 decidiu que ama tatuagens e graças aos mimos do pai tem uma coleção de tatuagens falsas espalhadas pelo corpo. Luiz é o mais calmo e graças a Deus a única rebeldia que ele tem apresentado é tentar escapar do banho algumas vezes.
A nossa hora favorita é quando eles vêm pelo corredor espelhado do aeroporto, e quando menos se espera o desfile começa.
Maria veio primeiro e vestindo as roupas caras que sempre a enchemos, amamos mimá-la e ela merece, ela caminha em seu salto baixo e fino mostrando sua classe e em sua bolsa, ela carrega Petúnia a chihuahua cega de estimação. Ela corre pra abraçar as crianças que passaram a chamá-la de avó, sempre esperamos as crianças dormirem para ela contar as aventuras da aposentadoria que vive no México, que são muitas e promiscuas, acredite.
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Comprada sem razões
RomanceCelina é uma menina, que muito cedo deixou de ser criança, sem pais, deixada a mercê de uma mulher questionável na infância, teve que aprender a sobreviver chamando o mínimo de atenção possível. Ela não teria porque ficar ali se não fosse as demais...